Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Interseccionalidade e Saúde: Itinerários Terapêuticos de mulheres negras em uso nocivo de álcool e outras drogas.
Sulamita Gonzaga Silva Amorim, Sabrina Helena Ferigato, Rosana Teresa Onocko Campos

Última alteração: 2022-02-24

Resumo


Apresentação: Embora mulheres também apresentem necessidades decorrentes do uso nocivo de álcool e outras drogas, a população feminina permanece invisibilizada no campo de estudos sobre drogas, bem como nos modos de produção de cuidado em saúde. Também são invisibilizados os processos sociais que incidem sobre as existências em um país calcado em desigualdades racialmente demarcadas, que repercutem em barreiras de acesso a direitos, produzindo também iniquidades no acesso a saúde.  Este estudo tem como objetivo compreender os efeitos dos marcadores sociais de gênero, raça e classe nos itinerários terapêuticos de mulheres negras com problemáticas decorrentes do uso de álcool e outras drogas, acompanhadas por um CAPS Ad, a partir da percepção das participantes. Desenvolvimento: Para isto, nesta pesquisa qualitativa, exploratória, utilizamos de entrevistas narrativas, como técnica de produção de dados, nas quais se ofertam perguntas abertas para que mulheres narrem livremente seu percurso de cuidado, dentro e fora da rede de saúde. Trata-se de um trabalho em desenvolvimento e situa-se como projeto de mestrado. Resultados: Participaram da pesquisa cinco mulheres, com idades entre 26 e 45 anos; todas são mães, e apenas duas estavam trabalhando no momento da entrevista- uma como empregada doméstica e outra como cuidadora. Em uma análise preliminar das narrativas identifica-se aspectos importantes sobre este encontro entre a rede formal de serviços e corpos negros femininos.  A Afetividade apareceu de maneira expressiva, seja nas vivências de privação de afeto e desumanização em instituições como a Comunidade Terapêutica, nas relações experimentadas no emprego doméstico, seja nas estratégias terapêuticas onde os profissionais investiram no vínculo e em relações de cuidado. A Corporeidade foi apontada como um fator pulsante dentro das trajetórias de vida e nas experiências de uso de drogas, e um aspecto que aproximou ou distanciou as mulheres dos serviços de saúde. Sendo o CAPS AD apontado como o lugar que acolheu o corpo experienciado como rejeitado, bem como lançou mão de estratégias clínicas que tivessem o corpo como foco. Além disso, também destacou-se as vivências de Violência, que se apresentou em suas múltiplas facetas, como o machismo e racismo institucional que barrou o acesso à serviços e informações, principalmente no que tange ao direito à maternidade, ao trabalho e a cuidados de saúde geral. A Territorialidade, tomada por essa pesquisa como a possibilidade de construção de um lugar existencial, também aparece como processo mediado pelas relações de gênero, raça, classe e uso de SPA- entre a rua, abrigo, igreja, CAPS ad e Centros de Saúde, as ofertas de cuidado exitosas, foram àquelas em que foi possível construir pontes de interrelações entre as experiências vividas em cada um destes territórios. Considerações Finais: Por fim, as narrativas apontaram para complexidade da expressão dos marcadores sociais da diferença nos percursos de cuidado e trajetórias de vida, indicando, à um só tempo, a produção de processos de precarização de existências e a criação de processos cotidianos e singulares de resistências femininas.