A Atenção Primária a Saúde possui exímia importância para o funcionamento adequado de um Sistema de Saúde universal e equânime. Por meio dos seus princípios de primeiro contato; longitudinalidade; integralidade; coordenação; abordagem familiar; e enfoque comunitário, a APS consegue garantir uma gama de ações que perpassam a prevenção de doenças, a promoção da saúde e a reabilitação, coordenando o cuidado e orientando o caminhar do usuário nos diferentes níveis de atenção.

Boa parte desses potenciais se dá em decorrência da capacidade deste nível de atenção ser capaz de abranger as particularidades dos indivíduos, valorizar as singularidades culturais e sociais dos territórios onde é desenvolvida, e acima de tudo, prestar uma assistência multiprofissional, que considera as diversas dimensões dos problemas identificados.

Nesse contexto, um dos atores que possui ampla relevância na valorização do território no planejamento das ações de saúde, desenvolvidas na APS, são os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Estes são sujeitos oriundos da própria comunidade, na maior parte das vezes, que atuam nas unidades de saúde, servindo de elo entre as necessidades da população e as políticas governamentais. Ademais, essa identificação estimula a criação de vínculos, auxiliando, portanto, na efetivação de intervenções ou práticas assistenciais.

Durante a pandemia da Covid-19 o trabalho dos ACS foi consideravelmente modificado, em decorrência da suspensão, em diversas localidades, das visitas domiciliares, uma das principais atividades desta categoria. Destarte, visando mitigar os impactos dessa situação no processo de trabalho destes profissionais, foi desenvolvido um projeto de extensão, pela Universidade Federal da Bahia, envolvendo discentes de diferentes cursos de graduação, que visava ofertar um curso online para os ACS de modo a orientá-los sobre as diferentes estratégias e ferramentas de trabalho que poderiam ser utilizadas no seu cotidiano, de modo a garantir a continuidade de suas ações profissionais.

O presente trabalho objetiva, portanto, relatar esta experiência extensionista, desenvolvida por meio de tecnologias digitais, e por uma equipe interdisciplinar, que buscou ofertar educação continuada para os ACS da rede básica de saúde de Salvador-BA. Participaram desta experiência cerca de quarenta ACS de diferentes distritos sanitários, e discentes de cinco diferentes cursos de graduação. Os temas trabalhados emergiram das necessidades diárias dos ACS e subsidiaram a elaboração de oficinas online, por meio de plataformas como o Meet ou o Moodle. Os participantes elencaram temas como: violência contra a mulher, acesso aos serviços de saúde, discriminação racial, dentre outros, tão comuns no seu cotidiano, e que muitas vezes extrapolam o campo da saúde, mas que influenciam diretamente a qualidade de vida dos cidadãos.

Por meio de metodologias dialógicas, ACS e discentes de graduação puderam pensar e desenvolver estratégias para o enfrentamento dessas situações, que antes eram resolvidas presencialmente e que agora, em decorrência da demanda por isolamento social, demandaram novas formas de intervenção. Os impactos desta atividade foram significativos para discentes e ACS que sinalizaram a relevância de ações dessa natureza, seja no que se refere ao seu processo de trabalho ou a sua formação.