Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Da Unidade de Saúde da Família do Bairro da Penha ao Posto de Doença: um relato de experiência nos tempos pandêmico covid19
Lauer Marinho Sardenberg, Dr. Adriano Rosa da Silva, Dra. Márcia Teixeira Cavalcanti, Dra. Márcia Valéria de Souza Almeida

Última alteração: 2022-02-09

Resumo


Apresentação: A compreensão da população a respeito do que é uma unidade de saúde, em geral, se dá de forma equivocada e se aproxima muito do raciocínio que utilizamos quando buscamos um posto de gasolina. Baseado nas nossas experiências, observamos que a percepção inadequada sobre a função da Unidade de Saúde ainda é fundamentada no modelo que valoriza a doença e não a sua prevenção ou promoção a saúde. Assim, por analogia, só procuramos o posto para abastecer quando precisamos e este mesmo raciocínio se estabelece com a população em relação a unidade de saúde, a procuramos quando adoecemos.  A perspectiva é pragmática e imediata, a procura da população ao ”posto”, “postinho” de saúde, se dá para abastecer e recolocar o corpo para funcionar novamente, sendo o combustível os medicamentos e/ou exames complementares.

 

A analogia descrita  nos faz refletir que esse importante equipamento as Unidades da Atenção Primária em Saúde (APS), que tem a responsabilidade de ser a porta de entrada preferencial para o Sistema Único de Saúde (SUS) e garante o espaço do primeiro atendimento às pessoas, ainda é visto como um ponto de apoio para tratar das doenças, fazer e coletar exames e dispensar medicamentos. A visão de saúde estabelecida no senso comum não é a da prevenção e promoção, mas do tratamento de doenças, o que gera maiores custos e dificuldades para o sistema de saúde a longo prazo.

OBJETIVO: Compreender a transformação ocorrida no fluxo de atendimento da  Unidade Básica de Saúde de Bairro da Penha para o enfrentamento do Covid19.

DESENVOLVIMENTO DO RELATO: Nossa Experiência perpassou pela Gestão especificamente na Ações de enfrentamento do covid19. O bairro da Penha faz parte da  região de Saúde de Maruípe  com 100% de cobertura de Estratégia de Saúde da Família e a unidade de saúde tem como base territorial.

A nova ordem Mundial da Saúde Pública, o que acarretou uma transformação no modo de atuação, para compreender, já que a vinculação com as equipes deixou de existir e o foco principal era o controle da pandemia.

A fim de minimizar os danos das doenças comuns no Território, iniciou-se a sobreposição de atendimentos convencionais da unidade aos casos relacionados à Pandemia. Esta alteração gerou dificuldades os atendimento aos demais agravos à saúde e a suspensão das consultas de agendamento prévio. As funções habituais foram redirecionadas e a porta física de entrada da unidade passou  a ter uma escuta qualificada para embasar decisões rápidas.

Foi o início de uma gestão do caos! Além de toda essa dificuldade, o sistema informatizado e interligado  utilizado na Secretaria Municipal de Saúde, a Rede Bem Estar (RBE), no qual trabalhávamos antes da pandemia com planejamentos, não respondia às nossas necessidades. A RBE facilita o processo de trabalho, pois realmente fazemos uma gestão pela saúde! A pandemia transmutou tudo, já que pela necessidade de salvar vidas “esquecemos” as consultas agendadas online, as buscas ativas programadas. A vida bateu e se tornou prioridade. As grandes exceções foram os cuidados pré-natal e a coleta de preventivo. Entretanto, a segunda, inicialmente, também ficou sem atendimento, o que foi compensado posteriormente com atendimento em horários complementares.

O novo fluxo de atendimento foi (re)direcionado para atendimento aos problemas respiratórios e não contamos com a equipe completa para isso, já que os servidores do grupo de risco foram afastados para o home office. Os ACS não podiam realizar sua função finalística. O setor de Odontologia foi fechado, as consultas de agendamento prévio dos Enfermeiros e Médicos foram suspensas. A sala de vacina suspendeu/adiou  a vacinação de rotina e voltou seu trabalho para a campanha de vacinação da influenza, antecipada em um mês.

Nesta batida a unidade trabalhou com multimeios de funções, com destaque para os ACS que passaram a fazer  ‘fast track”.  O ‘fast' tem como atores principais até hoje os ACS, os recepcionistas e o(s) vigilante(s) sendo esses um em cada plantão. Claro que todos os servidores que estivessem mais disponíveis em algum momento também atuavam pontualmente no “fast” e de uma forma estratégica toda unidade foi treinada em serviço a administrar fluxos de acordo com os riscos.

Contudo o ACS se mantém como protagonista até a presente data, realizando o Primeiro Contato. Mas qualquer servidor que passa na Recepção até hoje acaba ajudando, assim como outro profissional pode, em outros momento, assumir o papel de Primeiro Contato.

Todos os pacientes sintomáticos respiratórios e/ou confirmados para Covid 19 foram monitorados por meios digitais (WhatsApp, teleconsulta pelo aplicativo 156 do próprio município) e visita peridomiciliar realizada pelos agentes comunitários de saúde e equipe de enfermagem. O objetivo dessa ação visava garantir a vida de cada pessoa, pois de acordo com a avaliação realizada, a equipe tomava a decisão de encaminhar para atendimento especializado prevenindo agravamento do caso, ou reforçava as orientações para cuidado com a saúde. Toda a coordenação e supervisão do monitoramento ficou e se mantém sob a responsabilidade da equipe de odontologia, que organizava as atividades, orientando a unidade de saúde. Vale ressaltar que não houve interrupção desse trabalho, com funcionamento em tempo integral, inclusive georreferenciando os pacientes por meio da Rede Bem Estar. Muitas vezes utilizavam meios próprios em home office, por meio da organização de uma escala de trabalho, cobrindo dias úteis, final de semana e feriados.



RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Robustas evidências práticas da experiência relatada demonstraram a rápida modificação de uma unidade voltada à prevenção e promoção à saúde a um espaço de Unidade de Doença covid19 - tendo como necessidade dar uma resposta médica e  social a população, salvando vidas em um bairro de baixo poder aquisitivo em uma capital da região do sudeste  do Brasil.

Mas evidenciamos realmente  que o sistema de saúde orientado para a saúde ESF na  APS é muito equânime e com um custo-efetivo de bem estar da população. Com a transmutação de funções conseguimos e mantemos o combate à pandemia,  vencendo-a um dia por vez, apesar das perdas registradas e do desgaste psicossocial gerado pelo contexto vivido. Ainda hoje estamos como uma unidade da doença covid19, não por opção e sim para continuar à frente dos desafios impostos, que nos obrigou a repensar e ressignificar as nossas funções e atribuições. Esperamos em breve voltarmos a ser uma Unidade de Saúde do SUS. Não ficaremos apenas como o “posto de gasolina”! Retornaremos fortes e fortalecidos em defesa da vida, em defesa do SUS e em defesa da saúde!

Mas precisamos aprender com a experiência, observar erros e despreparos e revertê-los em estímulo para pensarmos mudanças, soluções e ações concretas que possam ampliar a qualidade de vida dos que trabalham em nossa unidade bem como da população como um todo. Voltarmos nosso olhar para a necessidade de um tratamento e atendimento humanizado e integrado, compreendendo que a saúde não é uma realidade apenas biomédica. A realidade ainda precisa ser estudada e analisada, diversas consequências ainda estão por aparecer, o desgaste emocional, social e psicológico foi grande para todos, equipe de profissionais de saúde e população e ainda não temos medidas desta situação.

Espero que relatos como esses possam corroborar para compreensão do processo de gestão de uma unidade de saúde e a necessidade de nos prepararmos mais adequadamente para enfrentamento de momentos como estes.