Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
As necessidades de saúde de povos tradicionais amazônidas
Lorena Cavalcante Lobo, Suellen Moura Rocha Ferezin, Giane Zupellari dos Santos Melo, Camila Helena Aguiar Bôtto de Menezes

Última alteração: 2022-08-04

Resumo


Apresentação: O Sistema Único de Saúde (SUS) tem o desafio de assegurar acesso resolutivo e humanizado a todo indivíduo independente do seu local de moradia, para efetivar esses princípios contextos históricos, econômicos, políticos, características demográficas e geográficas devem ser levadas em consideração. A Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) tem o cuidado de denominar de Saúde Ribeirinha aquelas ações voltadas para o contexto amazônico e pantaneiro. Para compreender as necessidades dessas populações é necessário assimilar o contexto na qual vivem, sua cultura, e como lidam com o processo saúde- doença na esfera da educação. Objetivo: Compreender sobre as necessidades de saúde de povos tradicionais amazônidas (indígenas e ribeirinhos) com base em suas peculiaridades regionais, culturais e sociais. Desenvolvimento: pesquisa bibliográfica básica de cunho exploratório que permite a coleta dados de referências utilizando fontes constituídas por material já elaborado, artigos científicos, dissertações, teses o que permite a percepção do objeto de interesse como fato social total. Esse estudo foi realizado a partir do conteúdo teórico utilizado na disciplina do mestrado acadêmico em saúde coletiva intitulada Contextualização das Políticas Públicas na Região Amazônica da Universidade do Estado do Amazonas, nos meses de maio e junho de 2021. Resultado: Os traços geográficos do território amazônico são a concentração da população em poucos núcleos populacionais em uma grande extensão territorial e a dispersão da população nesse território, além da concentração de recursos da saúde em poucos núcleos urbano. Os serviços públicos de alta complexidade e cerca de 89% da média complexidade disponíveis no estado concentram-se na capital, impondo aos usuários de todos os municípios recorrerem a cidade de Manaus em busca de atendimento, nesse sentido o desafio para o SUS é garantir acesso aos serviços de saúde e integralidade no Brasil amazônico em áreas remotas, e para superar essa fragmentação o governo federal institui as Redes de Atenção à Saúde pelo decreto 7.508/2011 que organiza o SUS e institui as regiões de saúde, que implica na continuidade e integralidade da atenção à saúde dos indivíduos nos diferentes níveis de atenção à saúde que abrange desde atenção Primária, Secundária e Terciária. As populações das águas, florestas e campos vivem em comunidade geralmente distantes das sedes dos municípios, compostas por núcleos familiares distribuídas ao longo das margens de rios, lagos e igarapés, o modo de vida dos ribeirinhos estão intimamente ligadas a variação das cheias e secas fluviais. As atividades de subsistência são a pesca e agricultura, para complementar a renda recebem auxílio de programas governamentais como o bolsa família. Nas comunidades não há assistência à saúde contínua, realizada principalmente na sede dos municípios. Para serem atendidos, essa população utiliza pequenas embarcações como as rabetas, para acessar os serviços de saúde, com tempo de viagem as vezes longo dependendo do deslocamento. Em uma comunidade no município de Coari por exemplo pode levar até 4 horas. Percebe-se que o tempo de deslocamento é longo, além dos custos com o transporte e a permanência na cidade, longas filas e poucas fichas para os serviços de saúde são barreiras para o acesso aos serviços principalmente na Atenção Básica. Outra realidade é para as equipes que atendem a população ribeirinha, que utilizam pequenas embarcações como as rabetas, barcos, com tempo de viagem muitas vezes longa dependendo do deslocamento. Existem os custos com transporte e  permanência das equipes de saúde na cidade, também longas filas para conseguir atendimento, falta de materias e infraestrutura nos serviços de saúde, além de profissionais da saúde que queiram trabalhar com as populações ribeirinhas, são essas algumas das barreiras para o atendimento e acesso aos serviços principalmente na Atenção Básica. Nas comunidades ribeirinhas não há unidades de saúde e a atuação de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, dentistas, etc.) não são frequentes, principalmente nas regiões mais afastadas da sede do município, os ribeirinhos recebem assistência em suas comunidades nas seguintes ocasiões: 1) na passagem de barcos missionários de Organizações Não Governamentais (ONG) ou pela Marinha brasileira com ações militares e de assistência à saúde; 2) Barco da Saúde ou Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF). As práticas de cuidados populares presentes nessas populações são as práticas tradicionais de cura como “puxar”, massagem, chás, “garrafadas”, rezas, trazem alívio e e sentimento de aconchego para as pessoas e suas teias de relacionamentos, considerando aqui o aspecto cultural que engloba o conhecimento ensinado por gerações para tratar as enfermidades. As formas tradicionais de manutenção da vida são ímpares e fazem parte do cotidiano das pessoas que estão presentes nesse território. Neste modelo de atenção à saúde, cabe ao profissional trabalhar de forma interdisciplinar e interprofissional, relacionando a sua prática com o conhecimento científico aos saberes populares. É necessário ter o diálogo horizontal entre os membros da equipe, com uma visão holística da pessoa, da família e da comunidade em que irá atuar. Para atuar na saúde com as populações das águas, florestas e campos é necessário a formação de recursos humanos especializados e capacitados para trabalhar nas Equipes de Saúde da Família Fluviais, tendo em vista as especificidades dos povos tradicionais amazônidas. Diante dos fatos percebe-se que, as populações tradicionais amazônidas vivem em áreas isoladas e de difícil acesso, em que o território vivo influenciado pelos ciclos das águas interage com a população que estão inseridos nesse contexto, revela esse cenário ímpar. Entretanto essa dinâmica dos rios traz implicações nas questões sanitárias, habitacionais, alimentares e repercutem especialmente no acesso aos serviços de saúde. Nesta perspectiva são necessários modos diferenciados de promoção e reflexão para compreender a relação nesse território líquido e o processo saúde- doença. Considerações finais: Os cuidados em saúde necessitam ser construídos baseados em discussões coletivas que apresentem respostas para as demandas da região. Para os povos tradicionais amazônidas são necessárias articulações entre estratégias que promovam o acesso aos serviços de saúde, de forma mais frequente, em tempo hábil, além de investimento financeiro federal para custeio de materiais e infraestrutura para viabilizar assistência à saúde dessas populações. Destacamos ainda a necessidade de profissionais de saúde que atuem no território por mais tempo, estabelecendo relação de confiança e vínculo com a população, tão importantes na Atenção Primária à Saúde. Este modelo para produzir saúde e acesso a saúde nas comunidades carrega o desafio da diversidade social e cultural, e requer que os trabalhadores dialoguem com educação popular.