Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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GUARDIÃS DA BIODIVERSIDADE: saúde e representatividade da mulher no semiárido nordestino
Clarissa Dantas Carvalho, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Antônio Edvan Florêncio, Claudia M.O. Baquit, Maria Jardenes de Matos, João Marcos Nunes Caitano, Amanda de Lima Silva

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


Apresentação: Este texto consiste em um relato de experiência da facilitação de um módulo sobre saúde da mulher junto a mulheres moradoras do semiárido do nordeste brasileiro. Ação relacionada ao projeto “Guardiãs da Biodiversidade: mulheres tecendo saberes e agroecologia” desenvolvida pelo Instituto Antônio Conselheiro (IAC) através do projeto Paulo Freire da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) do estado do Ceará que visa atuar junto as comunidades rurais, busca fortalecer estratégias de convivência com o semiárido, agroecologia, segurança alimentar e nutricional, promoção da igualdade de gênero e raça/etnia e o protagonismo. O estudo objetivou descrever a experiência de facilitação de um modulo de saúde das mulheres na modalidade de ensino a online, além de refletir sobre os aspectos afetivos e sociais no processo de troca de saberes junto as mulheres. Desenvolvimento do Trabalho: O projeto “Guardiões da Biodiversidade: mulheres tecendo saberes e agroecologia” foi executado em 4 meses. Participaram mulheres residentes em diferentes localidades do estado do Ceará, distribuídos em cinco municípios, sendo dois destes no sertão central e três no território de Sobral. Dentre as mulheres estavam: representantes de sindicato rural, lideres comunitárias, chefes de família, todas trabalhadoras como agricultoras, pescadoras artesanais, quebradeiras de coco babaçu e artesãs da palha de carnaúba. Os temas abordados no módulo foram saúde da mulher, plantas medicinais e práticas integrativas e complementares (PIC). Os encontros ocorreram na modalidade virtual síncrona e assíncrona, dividido em três dias no período da tarde, totalizando 15 horas. Para oportunizar maior proximidade entre os facilitadores e as participantes, bem como para otimizar o tempo destinado no processo de troca de saberes foram utilizadas simultaneamente duas salas virtuais onde se dividiu o grupo maior em dois grupos menores. Buscou-se   compartilhar o conteúdo através de tecnologias ativas e de modo dialógico. No primeiro dia as temáticas abordadas foram saúde da mulher e plantas medicinais, no segundo práticas integrativas e complementares e no terceiro ocorreram as devolutivas do vivido e aprendido. O facilitador de cada tema sugeriu uma atividade para que as participantes realizassem junto a outras mulheres de sua comunidade de origem com o intuito de multiplicar saberes sobre a temática.  Para o momento do fechamento do modulo foi solicitado que as participantes apresentassem como conclusão uma das seguintes opções: fotografia, paródia, cordel, desenho ou canção. As mulheres se conectavam com seus celulares, muitas se reuniam na casa uma das outras ou uniam-se em grupos, acessavam a aula através de link disponibilizado pela instituição de fomento IAC. Após o término do modulo as aulas ficaram à disposição das participantes do projeto, que contemplou a oitenta mulheres. Resultados e/ou impactos: Na oficina sobre saúde da mulher, ocorreu roda de conversa virtual onde possibilitou-se o diálogo sobre concepções de saúde, saúde da mulher e os caminhos para o cuidado à saúde da mulher. Criou-se um espaço de reflexão e debate sobre diversos aspectos que permeiam o âmbito da saúde da mulher, para além do ciclo gravídico e puerperal e o cuidado à saúde ampliada mente-corpo. Abrangeu também a condição do ser mulher na sociedade atual, o adoecimento mental, sexualidade, violência de gênero e o feminicídio. Buscou-se reforçar a importância e a força da representatividade deste papel no contexto político, logo que as mulheres são maioria na população brasileira. As participantes compartilharam as dificuldades em serem ouvidas por seus parceiros, noções de saúde e adoecimento, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), o acesso aos serviços de saúde de sua localidade e o modo de tratamento de enfermidades. Comentaram o apoio que se encontra entre as mulheres para transpor as dificuldades e como amparam mutuamente nutridas pela fé e a força. A atividade proposta foi refletir a historicidade e sobre o papel do SUS. Disponibilizou-se um vídeo com a participação da parteira Joana, mulher nordestina, que discursou na oitava conferência de saúde reivindicando o direito à alimentação, moradia e saúde. A oficina de plantas medicinais objetivou apresentar a experiência das Farmácias Vivas e os diálogos com a cultura e os movimentos populares e os serviços de saúde do SUS.  Explicou-se os modos de como utilizar e coletar de forma correta as folhas verdes para o preparo dos chás e como retirar os “entre cascas” das plantas e os tipos de colheitas e secagens das plantas. Ensinou-se como preparar mudas por galho ou semente usando os sacos recicláveis ou caixa de leite. Iniciou-se a roda de conversa com apresentação das plantas medicinais ao passo em que se mostrava ao grupo e se questionava sobre o conhecimento das plantas, o nome popular de cada uma, se conheciam a que se destinava, qual era seu potencial medicinal e como usavam as plantas no seu dia a dia. As mulheres demonstraram curiosidade e entusiasmo, partilharam experiências de cuidado aos seus familiares envolvendo a utilização das plantas, as receitas que aprenderam com suas mães e avós representavam sua cultura, ancestralidades e memória afetiva: o banho de eucalipto, como preparar o (lambedor) xarope, tinturas e os chás. O interesse em diversificar o cultivo de plantas medicinais em seus terreiros. Assim, pode-se conhecer os diversos aspectos do uso das plantas medicinais, nos contextos históricos e refletir sobre a importância das plantas medicinais nas culturas e no uso diário. Como atividade propositiva de conclusão da oficina orientou-se como fazer a vivência do escaldas pés. Na oficina de PIC realizou-se um momento teórico vivencial com base em diferentes modalidades das práticas integrativas e complementares, depois explicação teórica sobre a Política Nacional de Praticas integrativas e Complementares (PNPIC), roda de conversa sobre saúde, diferentes modos se cuidados, autonomia, autoconhecimento e autocuidado. No primeiro momento foi proposta uma acolhida com atividade que seguia as bases conceituais da terapia comunitária integrativa: os axiomas da comunicação, fortalecimento do senso de união e protagonismo.  De modo lúdico as mulheres apresentavam-se falando seu nome, uma qualidade e realizavam um movimento corporal. No momento seguinte praticou-se a automassagem, algumas posturas de yoga, exercícios de respiração consciente e a meditação guiada. Diante da prática proposta abordou-se o vívido, sentido e percepções das mulheres sobre a experiência. Aprofundou-se na explicação da relação corpo, mente e emoções como a respiração, e como o fluxo de pensamentos está relacionado as emoções e vice versa. Concluiu-se com a partilha das mulheres sobre ações cotidianas e estratégias de práticas de autocuidado, foram estes: a caminhada ao nascer do dia, cuidado com terreiro, fazer agachamento e andar de bicicleta, cultivo de momentos para si e com pessoas queridas, ter animais de estimação, valorização de si, fortalecimento da fé, espiritualidade e alegria. Como atividade da oficina as mulheres deveriam praticar a respiração diafragmática. A oficina de devolutiva possibilitou perceber como o conjunto de temáticas abordadas ao logo do módulo reverberou junto as participantes. Posteriormente aplicou-se a questão norteadora: “do que vivi e aprendi nesses dias o que levo para partilhar com outras mulheres nos meus lugares de referência?” e logo após houve a exposição do trabalho final. Este momento do fechamento foi cheio de afetos. Considerações finais: A partir do relato pode-se constatar a potência do aprendizado no vivenciado através do intercâmbio de saberes entre os indivíduos envolvidos, além de refletir sobre saúde da mulher e autonomia e apresentar a experiência de facilitação de ensino remoto.