Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ANÁLISE DOS AFASTAMENTOS DE SAÚDE EM SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS: TRIÊNIO 2019 A 2021
Amanda Gabriella Oliveira Tundis, Tatiana Castro da Costa, Renata da Costa Pinheiro, Roberlane Neves Grana, Leila Maria Castro dos Santos

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


Apresentação: Os estudos relacionados ao adoecimento pelo trabalho, sejam em instituições públicas ou privadas, indicam que fatores como as condições, a organização e as relações contribuem para o estado de saúde ou doença dos trabalhadores corroborados pelo nível de intensidade e interação no ambiente. O trabalho faz parte de nossa história, nos transforma em nosso desenvolvimento individual e coletivo. Através do trabalho nos reconhecemos, temos contato com nossa identidade, com a própria realização pessoal e se caracteriza por uma fonte de realização humana.  Ou seja, o trabalho é capaz de produzir tanto fonte de prazer quanto de sofrimento. Até o ano de 2019, o SIASS – Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor, identificava em sua ocorrência de licenças por motivo de saúde maiores índices de afastamento relacionados aos transtornos mentais. Com o início da pandemia de COVID-19, no ano de 2020, foi possível verificar algumas modificações neste quadro, considerando que os trabalhadores, em sua maioria, passaram a realizar atividade remota com o intuito de evitar maior contaminação pelo novo coronavírus. Alguns estudos anteriores como o de Santi et al. (2018) apontam que causas de afastamento por motivo de doença no serviço público estão relacionadas, na maioria das vezes, aos afastamentos por demandas osteomusculares e adoecimento mental, sendo a prevalência em mulheres e apresentando um aumento proporcional ao tempo de carreira. Observando-se ainda que o absenteísmo é maior nos profissionais de nível médio, técnico e em cargo operacional. O objetivo desta pesquisa foi de conhecer o perfil de afastamentos de saúde em servidores públicos federais nos últimos três anos em uma Unidade SIASS que atende, atualmente, 11 órgãos federais na região norte. Desenvolvimento: trata-se de uma pesquisa documental, onde foram analisados os dados extraídos do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (SIASS), fornecidos por meio de ofício à uma Unidade SIASS do Estado do Amazonas. Este sistema cataloga todos os registros de atestados dos servidores, sejam de curta duração até 05 dias ou mais, assim como, registros de perícias singulares médicas e odontológicas, além de juntas oficiais. Com os dados encontrados, foi possível alcançar os seguintes objetivos específicos desta pesquisa: identificar os afastamentos por CID (Classificação Internacional de Doenças); identificar a prevalência dos afastamentos do trabalho considerando as variáveis órgão, sexo e cargo; identificar e analisar as alterações anuais dos índices de afastamentos. Resultados: O Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (SIASS) apresenta dados por CID com os 100 primeiros resultados, evidenciando o total de dias de afastamentos dos servidores. Contudo, este não é o foco deste estudo, principalmente, por não utilizarmos nesta pesquisa a lógica do gerencialismo governamental, onde os servidores são considerados como números de dias trabalhados e sim focar no retrato do que tem sido o adoecido destes trabalhadores no último triênio. No ano de 2019, dos dados gerais de todos os órgãos atendidos, observou-se que os episódios depressivos foram maiores tanto em mulheres quanto homens. No ano de 2020, os episódios depressivos continuaram com maiores taxas em mulheres e nos homens passou a ser a hipertensão essencial (primária). No ano de 2021 ambos os sexos apresentaram como maior afastamento o diagnóstico de infecção por coronavírus de localização não especificada. Observou-se que os afastamentos em mulheres são maiores, porém para avaliarmos proporcionalmente, estudos posteriores necessitariam dos dados totais de servidoras do sexo feminino em todos os órgãos atendidos por esta Unidade SIASS. Ocorre que a atualização para este dado não é constante. Depende do quantitativo de servidores aposentados, dos óbitos e estes resultados geralmente não são fornecidos em tempo hábil por todos os órgãos. Dos órgãos atendidos nesta Unidade SIASS, a Universidade Federal foi a que mais apresentou afastamentos, considerando ser o órgão com mais servidores atendidos. O ano de 2019 analisado apresentou, portanto, no afastamento por cargo, um maior número de professores. Contudo, nos anos de 2020 e 2021, os afastamentos foram maiores em servidores da área de saúde, principalmente o cargo de técnico de enfermagem, possivelmente lotados no Hospital Universitário ou no ambulatório, considerando que eram os servidores que se encontravam em atividade presencial devido a pandemia de COVID-19. A qual teve muitos atendimentos e óbitos no Estado do Amazonas. Os estudos apontam ser elevado o quantitativo de servidores que padecem com doenças mentais ligadas à rotina de trabalho. Há uma resistência constante em admitir um diálogo sobre o assunto. O medo da chamada “loucura”, o estigma dos colegas de trabalho, faz com que muitos não apresentem atestados médicos, não solicitem licença para seus tratamentos de saúde e, assim, escondam sintomas. Ocultam e sofrem as consequências no corpo e na psique. A difícil rotina apresentada nos últimos anos do Governo Federal retrata o impacto nos adoecimentos dos trabalhadores tanto em órgãos públicos como privados. Questões sociais impactam diretamente nas esferas familiares e de saúde deles. Considerações finais: Os resultados encontrados nos remetem à necessidade de um acompanhamento destas causas e os possíveis desdobramentos considerando o percurso vivenciado na pandemia. Sabe-se que o ambiente de trabalho saudável é determinante para o resultado das vivências proporcionadas aos servidores. Entretanto, foi possível identificar que os episódios depressivos vivenciados por homens e mulheres nos anos de 2019 e 2020 foi substituído pelos afastamentos de infecção pelo coronavírus, impactando em um tempo maior de afastamento pelo trabalho e consequentemente em dificuldades de realização de atividades, entre outras demandas. O olhar passa a ser em identificarmos como fica este servidor e as consequências emocionais e relacionais que o impactar a partir de então. A preocupação com os que tiveram que continuar trabalhando na chamada “linha de frente” da saúde no hospital e no ambulatório nos leva a pensar em outros estudos que aprofundem suas falas, trocas, angústias e dificuldades a partir de então, considerando que muitos servidores estavam de licença médica enquanto outros precisavam estar ali em um trabalho sobrecarregado. O novo, a dúvida, o desconhecimento do diagnóstico e tratamento leva muito trabalhadores ao adoecimento. Por isso a necessidade de diálogos e serviços institucionais que cheguem até estas pessoas e permitam que através da fala eles possam ressignificar muitas vivências que causaram o adoecimento.