Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ATIVIDADES DE CAPACITAÇÃO EM TESTE RÁPIDO DE HIV COM AMOSTRA DE FLUÍDO ORAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DE PORTO ALEGRE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID – 1
Luciana Silveira Egres

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


O presente trabalho consiste em um relato de experiência sobre o desenvolvimento e avaliação dos cursos de capacitação de teste rápido de fluido oral (FO) para diagnóstico do HIV em Porto Alegre desenvolvidos em 2021. A proposta surgiu em decorrência de uma iniciativa dos trabalhadores de um Serviço de Atenção Especializada em HIV/Aids, a partir da discussão e reconhecimento da necessidade de se ampliar o diagnóstico de HIV. Foi submetido um projeto à Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e este foi contemplado para ser executado em 2021 no município de Porto Alegre. O desconhecimento da sorologia do HIV, muitas vezes, ocorre por barreiras de acesso ao diagnóstico, que pode ser realizado de forma eficiente e confiável com a realização dos Testes Rápidos (TRs).

A capacitação para TR pode ser considerada uma ação que está em consonância com três políticas – a Política de enfrentamento ao HIV, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e a Política Nacional de Educação Permanente (PNEP). Isso porque este tipo de ação potencializa o olhar sobre a promoção da saúde, permite encontro entre trabalhadores da rede de atenção à saúde, e, ao mesmo tempo, permite troca de informações, conhecimentos e qualificação profissional entre os capacitados.

Apesar de todo os progressos que temos no enfrentamento do HIV/Aids: novas tecnologias de testagem e prevenção, medicamentos mais eficazes e com poucos efeitos adversos, e muitas campanhas nacionais de conscientização e prevenção, a epidemia mundial de HIV ainda se constitui um problema de saúde pública relevante. O Brasil conseguiu evitar 2,5 mil mortes por Aids entre os anos de 2014 e 2018. Nos últimos cinco anos, o número de óbitos pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018. Os dados são positivos, no entanto, o Ministério da Saúde acredita que 135 mil pessoas vivem com HIV no Brasil e desconhecem o seu diagnóstico (BRASIL, 2020). Nosso país, em especial, tornou-se uma referência global para o seu controle em virtude de adoção de políticas públicas pioneiras e proativas com ênfase conjunta na atenção e na prevenção; envolvimento de diferentes setores da sociedade civil e grupos afetados pela doença; distribuição universal de medicamentos antirretrovirais; expansão do acesso às estratégias de prevenção; entre outros mecanismos. Um dos pilares do programa do governo é a oferta de testes de HIV universal como forma de promover o diagnóstico e tratamento precoce (BRASIL, 2018).

Quando se fala em HIV/Aids é necessário pontuar um dos maiores entraves a consolidação das políticas públicas e a mudança de comportamento em relação ao agravo: o estigma e discriminação. O desconhecimento da sorologia do HIV, muitas vezes, ocorre por barreiras de acesso ao diagnóstico, que pode ser realizado de forma eficiente e confiável com a realização dos TRs. Paralelo a isso, têm-se o medo do resultado, que pode ser fruto do falta de conhecimento sobre o tratamento que é oferecido pelo SUS, gratuito, seguro e eficaz e a possibilidade do vírus HIV ficar indetectável, ou seja, não ser transmitido por relação sexual, e com isso a pessoa não irá desenvolver Aids.

Os dados, referentes a 2020, apontam que Porto Alegre registrou duas vezes mais casos de aids que o estado do Rio Grande do Sul (21,8 casos por 100 mil habitantes) e três vezes mais que o Brasil (14,1 por 100 mil/hab). Já a taxa de mortalidade por aids foi três vezes maior na Capital do que no RS (7,2 por 100 mil/ha) e seis vezes maior do que no Brasil (4,0 por 100 mil/hab).(Brasil,2021)

O objetivo deste trabalho é relatar as ações de capacitação em teste rápido de HIV com amostra de fluído oral na Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, no contexto da pandemia de Covid-19.

Consiste em um relato de experiência de ações profissionais de capacitação para trabalhadores. O trabalho apresentou revisão de literatura sobre os aspectos que envolvem o tema, embora não se tenha tratado As capacitações foram feitas presencialmente em pequenos grupos conforme tamanho do espaço disponibilizado seguindo todos os protocolos da OMS para evitar disseminação da COVID-19.

O projeto da capacitação tem como finalidade a capacitação em TR para HIV por amostra de fluido oral (FO), e tem como objetivo habilitar os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) de Porto Alegre para a realização dessa técnica. Esse conhecimento qualifica o atendimento em relação aos TRs e promove a abordagem de temas relacionados, como por exemplo, a prevenção combinada.

Também é uma forma de ampliar a testagem e diagnóstico do HIV, visto que possibilita que todos os profissionais de saúde capacitados estejam aptos realizar este teste. Além disso, propicia ampliação de ações de testagem para outros espaços além da Unidade de Saúde, como visitas domiciliares de agente comunitários e locais no território com maior vulnerabilidade nos quais a população tem pouco acesso à rede de atenção à saúde. Apesar da diversidade de modelos e de estruturas, com a necessidade de ajustes nos processos de trabalho de várias de suas unidades e com as dificuldades de superação de seu crônico subfinanciamento, a APS no SUS deve ser considerada uma força social no campo da saúde em defesa da preservação da vida.

Foram ofertadas ações de capacitação para o uso da tecnologia (teste rápido de fluido oral), destacando que uma das principais vantagens do teste de FO é não depender de infraestrutura laboratorial, portanto esse teste pode ser executado em qualquer local. A leitura e interpretação são simples e o resultado pode ser analisado em até 30 minutos. Além disso, a capacitação previa uma rápida abordagem sobre atenção integral, prevenção combinada frente ao HIV e, especialmente, a necessidade de se romper com estigma, e superar a discriminação relacionada ao HIV. As atividades foram planejadas alinhadas com a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e com a Política Nacional de Educação Permanente (PNEP).

As capacitações foram realizadas entre fevereiro a agosto de 2021, tendo ocorrido em 73 turmas, totalizando 674 profissionais capacitados, dos mais diversos núcleos profissionais, tais como: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, dentistas, técnicos de enfermagem, agentes comunitários, agentes de endemias, auxiliares e técnicos de saúde bucal.

A avaliação da capacitação foi plenamente satisfatória e identificou-se a necessidade de mais cursos de capacitação relacionado ao HIV/Aids.

Na avaliação descritiva, houve manifestação dos profissionais sobre preocupação de que os profissionais seriam testados durante o curso, possibilitando revelação de diagnóstico. Assim, apesar da legítima preocupação com o sigilo do diagnóstico, as manifestações foram interpretadas como dando voz ao estigma e discriminação relacionada ao HIV.

A experiência apresentada demonstra a importância da construção de estratégias alternativas de educação em saúde na Atenção Primária à Saúde (APS). Recomenda-se a continuidade das formações na área, por acreditar que são de extrema relevância para o enfrentamento da epidemia do HIV.