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A necessidade de reorganização e funcionamento dos serviços lança um convite aos gestores e profissionais, seguindo as premissas do Sistema Único de Saúde (SUS), a Atenção Primária em Saúde (APS), deve ser o primeiro ponto de contato do usuário com o SUS, a APS deve ser de fácil acesso para a população. Assegurando a todos os cidadãos o acesso aos serviços de saúde de forma ordenada e organizada, ocorrendo prioritariamente nos territórios próximos ao local de moradia dos usuários.

Deste modo, a APS deve obrigatoriamente cumprir três funções essenciais. Ser altamente resolutiva, buscando a resolver a grande maioria das demandas de saúde da população. Organizativa, de modo a garantir que o usuário transite entre os fluxos e contra fluxos pelos diversos pontos de atenção à saúde, no sistema de serviços de saúde bem como, é da APS a responsabilização pela saúde dos usuários em quaisquer pontos de atenção à saúde em que estejam.

Assim sendo, este relato tem por objetivo descrever a experiência de cogestão na reorganização dos serviços da APS de um município litorâneo de pequeno porte do sul de Santa Catarina.

A experiência aqui descrita busca compartilhar os movimentos de Educação Permanente em Saúde, a partir da lógica da cogestão para a reorganização dos serviços da APS de um município de Balneário Rincão – SC, onde, no mês de novembro de 2021 contabilizava 18.080 usuários cadastros segundo dados do eSUS. Tendo em sua rede de serviços da APS cincos Unidades de Saúde (UBS) que atuam como Estratégia de Saúde da Família (eSF) três Equipes de Saúde Bucal (eSB), um polo de Academia da Saúde e a Vigilância Epidemiológica.

Em janeiro de 2021, com a posse da nova gestão à frente da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a aposta na cogestão para desenhar estratégias de enfrentamento a pandemia de Covid – 19, a campanha de imunização, continuidade do atendimento as condições crônicas e as demandas cotidianas na APS e melhoria no acesso.

Os movimentos deram inicio a partir de reunião entre os profissionais das equipes que atuam nas UBS, equipe gestora. Nesta oportunidade, foram apresentadas as principais propostas de reorganização na lógica de processo de trabalho, e a aposta na cogestão para melhoria do acesso e a qualidade do cuidado na APS.

Foi estruturado calendário de reuniões periódicas para discussão dos principais (nós) críticos que cada equipe identificava a partir da leitura da realidade. De forma que, identificadas às dificuldades, discutiu-se quais os motivos que implicam para que estas dificuldades surjam durante o processo de cuidado, e, principalmente dentro do universo real em que as equipes na resolução destes problemas.

Uma estratégia para o enfrentamento da pandemia de Covid – 19 pensadas nas reuniões esta a manutenção de um Centro de Triagem (CT) para testagem, com equipe específica para este serviço, onde foi criado fluxo de encaminhamento, o usuário acolhido na unidade, caso apresente sinais e sintomas compatíveis com os da Covid-19 era então direcionado ao CT para testagem. A equipe do CT informava diariamente a Vigilância Epidemiológica (VE) os casos positivos, a VE ficou responsável por informar as equipes de cada UBS sobre os casos de usuários positivos inclusive todos os membros do grupo familiar, de modo que, cada UBS ficou responsável pelo monitoramento e acompanhamento dos usuários do seu território.

Para a vacinação, foi apostado na descentralização dos locais de vacinação, de forma que todas as cinco UBS mantiveram suas salas de vacinas abertas semanalmente em período integral. Como a vacinação ocorreu seguindo faixa etária e grupos específicos, também ocorreu intenso movimento de busca ativa, com ligações telefônicas inclusive visitas in loco de Agentes Comunitárias em Saúde comunicando sobre a vacinação, a medida que autorizado inicio de imunização para uma nova faixa etária, havia também a abertura de salas de vacinas em horários estendidos inclusive ao finais de semana.

Importante ressaltar o trabalho conjunto com o Setor de Comunicação (SECOM), rádios locais, carros de som e parcerias com o comércio local para a divulgação do andamento da campanha de imunização, faixas etárias vacináveis, doses de reforço, locais e horários para vacinação.

Seguindo a lógica de que a APS deve ser a porta de entrada do usuário  no sistema, foi também estruturada a organização de fluxos para que consultas e procedimentos de media e alta complexidade sejam inseridos no Sistema de Regulação (SISREG) na própria UBS referencia no território do usuário, reafirmando o compromisso da UBS na responsabilidade pelo cuidado ao usuários nos diferentes níveis e atenção a saúde.

Outro aspecto muito importante discutido fortemente nas reuniões de equipe, foi como se ocorre acolhimento e a escuta dos usuários que chegam à Unidade de Saúde, quais as principais demandas. Assim, iniciou-se a proposta de implementação e estruturação do Acesso Avançado aos serviços oferecidos nas UBS pelas equipes, o Acesso se estrutura a partir de demandas pontuais e ou de urgência, como gestantes, crianças, hipertenso-diabéticos, realização do exame citopatológico, solicitação de exames e consultas de forma geral, demandas odontológicas, entre outras questões trazidas, a partir da escuta inicial da demanda trazida pelo usuário, a equipe se organiza quanto a urgência, flexibilidade de dias e horários.

Outra ação importante também consiste nas estratégias para a obtenção de receitas, solicitação de exames de acompanhamento de usuários com hipertensão/diabetes, onde o vinculo e relação profissional usuário permite a otimização de tempo, através de consultas em horários e diferenciados. A oferta de atendimento em horários diferenciados apresentou também a necessidade da ampliação de horários, como no caso do atendimento odontológico, que foi ampliado para o horário noturno, onde uma eSB atende no período noturno, trabalhadores que não conseguem acessar o serviço no período diurno.

Com estas reestruturações se alcançou certo domínio transmissão de novos casos de Covid-19, o que se atribui a identificação já nos primeiros dias com a testagem e o isolamento e o monitoramento inclusive do núcleo familiar, a grande cobertura vacinal também surge como um dos principais fatores que contribuíram positivamente na condução da crise sanitária, de forma que a estratégia adota de descentralização, ampliação dos horários foi certamente decisiva para este resultado positivo. Os fluxos e contra fluxos de encaminhamentos para os outros níveis de atenção terem como referencia às UBS reafirma o APS como porta de entrada e responsável pelo usuário em todos os níveis de atenção, bem como, fortalece o vinculo entre a equipe e o território.

Outrossim, a escuta inicial, o acolhimento e a lógica do Acesso Avançando são passos importantes na reorganização do processo de trabalho com objetivo de permitir um cuidado integral e longitudinal a população usuária, no entanto evidencias algumas lacunas, expondo por vezes cicatrizes ainda dolorosas do modelo médico centrado.

Podemos concluir que a aposta de EPS na lógica da Cogestão é sim uma ferramenta que deve ser amplamente utilizada nos serviços de saúde. Embora, nesta experiência tenham sido identificadas algumas dificuldades como a resistência a mudança por parte de alguns profissionais das equipes, a mudança de hábitos por parte da população, muitas vezes já viciada em alguns fluxos. A estrutura física de alguns serviços também dificulta algumas mudanças como a ampliação do acesso e do atendimento, e o próprio cenário pandêmico imposto pela Covid-19 mostrou-se como um desafio, no entanto, não impediu que tais alterações e reorganizações fossem realizadas.