Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O CUIDADO DO SONO NO ENVELHECIMENTO
Diana Paola Gutierrez Diaz de Azevedo, Carla Pacheco Teixeira, Néliton Gomes Azevedo, Kamile Santos Siqueira Gevú, Janaina Luiza dos Santos, Ana Claudia Moreira Monteiro, Maria Cristina Rodrigues Guilam

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


Apresentação: Decorrentes do processo de envelhecimento acontecem modificações interindividuais no ciclo sono-vigília da pessoa idosa, determinadas por fatores biológicos, psicológicos, sociais e comportamentais que podem interferir na qualidade e quantidade do seu sono, com consequências como maior risco de quedas, sonolência diurna excessiva, comprometimento cognitivo e disfunção diurna. As queixas do sono podem piorar com os hábitos e comportamentos não saudáveis. Os programas para a terceira idade são espaços com a potencialidade de promover comportamentos do autocuidado. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi promover educação em saúde para o cuidado do ciclo sono-vigília no envelhecimento com os idosos participantes de três Programas para a Terceira Idade (PTI) do município de Campos dos Goytacazes/RJ durante o período de 2017-2018. Desenvolvimento: O estudo consistiu em quatro etapas. Na primeira etapa, com apoio e participação dos coordenadores dos PTI, realizou-se uma palestra sobre a importância do cuidado do sono no envelhecimento, onde foram convidados os idosos a participar da oficina educativa “Dormir Bem, Viver Melhor”. Na segunda etapa foram aplicados nos idosos inscritos na oficina os instrumentos: questionário de dados sociodemográficos e relacionados à sua saúde, questionário de qualidade de vida SF-36, Índice de qualidade do sono de Pittsburg (IQSP), Escala de Sonolência de Epworth (ESE) e Diário de Sono (DS) de duas semanas, Na terceira etapa, desenvolveu-se a prática educativa com objetivo de criar um espaço de ensino-aprendizagem para a promoção de hábitos e comportamentos para um sono saudável no envelhecimento, com uma duração de 12 encontros de uma hora e trinta minutos, uma vez por semana, abordando quatro unidades temáticas: “O processo de envelhecimento humano”, “O ciclo sono-vigília no ser humano”, “O ciclo sono-vigília no envelhecimento” e “Práticas saudáveis do ciclo sono-vigília no envelhecimento”. Utilizou-se a metodologia participativa problematizadora como proposta pedagógica encaminhada ao processo de indagação e reflexão baseada na própria realidade dos sujeitos. Cada encontro trabalhou-se através de perguntas disparadoras e um conjunto de atividades registradas pelos idosos em “Meu diário de sono-vigília”. Dentre outros recursos didáticos foram usados rodas de conversa que incluíram convidados como nutricionista, professora de yoga e professora de arteterapia, estudos de caso e apresentação de temas pelos participantes. Enfatizou-se na ressignificação do ciclo sono-vigília promovendo processos dialógicos e valorizando os saberes populares dos participantes. Na etapa final, aplicou-se novamente o IQSP, a ESE, o DS e realizaram-se entrevistas semiestruturadas para abordar as percepções, os sentidos, os significados e as aprendizagens dos idosos em relação ao seu ciclo sono-vigília ao longo da vida e o impacto deste processo de educação em saúde. Foram incluídos os participantes dos PTI com 60 anos ou mais que concluíram as atividades propostas na oficina incluindo frequência mínima de 80% nos encontros semanais. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética sob CAAE nº 69247717.1.0000.5244 e parecer nº 2.173.349. Resultados: Dos três PTI, 90 idosos participaram da primeira etapa; porém, por critérios de inclusão, a amostra foi composta por 20 idosas com idade média de 66,9 ± 5,0 anos, nas faixas etárias de 60-64 anos (35%), 65-69 anos (35%) e 70 ou mais anos (30%). Enquanto caracterização sociodemográfica, 50% das idosas completaram o ensino médio, 50% de estado civil casadas, 35% com arranjo familiar unipessoal, 75% referiram receber aposentadoria, 35% tinham alguma ocupação laboral remunerada, 15% sem renda própria, 90% contavam com residência própria. O tempo de participação nos PTI foi em média de 3,6 ± 4,4 anos, 25% das idosas participaram em mais de um PTI. Das participantes, 100% tinha sua capacidade funcional preservada, 45% avaliaram sua saúde como “boa”, com média de 2-3 doenças crônicas/idosa, 80% hipertensas e 20% com diagnóstico de insônia, 50% com uso crônico de 2-3 medicamentos. Em quanto sua qualidade de vida segundo o SF-36, os domínios com maior afetação nas idosas foram: limitação por aspectos físicos (63,75±42,52), dor (68,35±21,95), estado geral de saúde (69,45±14,28) e aspectos emocionais (71,67±40,86); e o domínio com menor afetação correspondeu a aspectos sociais (81,88±20,87). Segundo o IQSP, 75% apresentaram qualidade de sono ruim, 20% pontuaram para sonolência diurna excessiva segundo a ESE e 65% referiram uso de medicação para dormir pelo menos uma vez por semana antes da educação em saúde, diminuindo na avaliação posterior a 55% (IQSP), 5% (ESE) e 40% das idosas reduziram a frequência de uso de medicação para dormir. Na análise multivariada (teste T2 de Hotteling, α=0,05), a intervenção teve efeito positivo com melhora da qualidade do sono pela diminuição da latência do sono. Variáveis como idade, número de medicamentos usados frequentemente, capacidade funcional, dor, aspectos sociais, e limitação por aspectos físicos apresentaram associação com a qualidade de sono das idosas. Dois modelos de árvore de decisão exibiram que nas participantes, menor latência do sono, menos despertares noturnos e a diminuição a um cochilo diurno com duração de menos de 30 minutos prevê melhor qualidade do seu sono e melhora na percepção da renovação e descanso após acordar. A falta de controle das emoções e a ansiedade, somada aos hábitos mal adaptativos era uma das causas principais que afetavam a conciliação e consolidação do sono. Atividades de relaxamento, controle de emoções, reorganização de rotinas e estratégias para diminuir os despertares noturnos puderam contribuir nos resultados obtidos. Referido aos seus sentidos e significados, o sono, para as idosas significava descanso, renovação, relaxamento, bem-estar, saúde mental e física, além de uma desconexão necessária do estado de vigília. Diversas queixas do sono apareceram ao longo da vida como consequência de situações estressantes e emocionalmente marcantes como a morte do conjugue ou de filhos. As modificações mais relevantes do sono na velhice foram os despertares noturnos frequentes e antes do desejado. As idosas avaliaram positivamente sua participação na oficina, a qual permitiu a criação de um espaço coletivo de aprendizagens que replicaram nas suas famílias e possibilitaram a reflexão e modificação de hábitos de sono não saudáveis como manter rotinas e horários irregulares de sono, o uso excessivo de aparelhos eletrônicos perto do horário de dormir, a utilização da cama e do quarto para atividades diferentes ao sono, a associação da cama e a hora de dormir como um espaço para refletir sobre as atividades do dia e pensar na solução de problemas, ficar por tempo prolongado na cama tentando conciliar o sono em caso do sono fragmentado e realizar cochilos diurnos prolongados. Desde outro ângulo, ressalta-se que uma das percepções mais relevantes nas idosas sobre a qualidade de vida no seu processo de envelhecimento referiu-se às suas possibilidades de participação social e vida ativa, destacando sua atividade nos PTI ao impactar positivamente no seu autocuidado. Considerações finais: a educação em saúde, instrumento de produção de conhecimento e construção coletiva, constituiu uma ferramenta de ressignificação do cuidado do ciclo sono-vigília no envelhecimento, potencializado pelos ambientes criados nos programas da terceira idade, como redes de apoio e espaços de promoção da saúde na população idosa. Abordou-se, em forma interdisciplinar, o ciclo sono-vigília no âmbito do cuidado e não da intervenção sobre a doença ou dos distúrbios do sono, para continuar fortalecendo um novo paradigma dirigido ao sono saudável que deve prevalecer ao longo da vida.