Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E OS MODOS DE VIDA NO PROTAGONISMO DO CUIDADO: VIDA INVENTADA OU CAPTURADA?
Pedro Victorino CarValho de Souza, Rebeca Azevedo Machado Pinto, Moisés Abrão, Luana Menezes, Ranulfo Cavalari

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


Quem são esses que procuram por sobrevivência aos olhos de todos, percorrendo pela cidade, construindo espaços e vivenciando de formas diferenciadas as ruas? Uma lata e uma fogueira esperam para cozinhar um alimento. Uma casa numa mochila, uma mochila num travesseiro. Um empreendimento numa tela de artesanato, ou em coletas de sucata. Através das histórias de vida passamos a conhecer o Nordeste, o Sul do Brasil. Um sinal de trânsito, pode ser um palco, aos holofotes dos carros aprendemos que arte não tem limites. Bolas ao alto ou equilíbrio de objetos, que podem significar diversão mas carregam a arte de equilibrar a vida e a sobrevivência. Cuspir fogo, que seria uma habilidade, assume o lugar de estratégia de vida, de trabalho, representando talvez a possibilidade de queimar aquilo que se opõe à existência.Nesse sentido, qual importância das estratégias desses que vivenciam a rua como um espaço de sobrevivência? Existe uma intenção de cuidado à essa população, mas o que essa população constrói como prática de vida transgressora/nômade? O que é viver e sobreviver nas ruas, e o que isso nos ensina? A relevância de se conhecer esses processos nos coloca diante do novo, do inventado, daquilo que é da ordem da inventividade. Tais premissas trazem o plano da diversidade e da diferença como influenciadores e promotores de uma nova possibilidade de viver e automaticamente de cuidado.A construção do cuidado no entendimento do SUS (Sistema Único de Saúde) / SUAS (Sistema Único de Assistência Social) é pautada nos modos de vida da população, tendo como respaldo a Política Nacional para População em Situação de Rua. Contudo, vislumbrando tais modos de vida revolucionários, destes que fazem da rua espaço de sobrevivência e/ou moradia, cabe-nos o questionamento e desafio: Seria possível a produção de conhecimento pautada no entendimento dos usuários enquanto os grandes mestres da realidade do viver nas ruas? É esse o desafio a que se pretende, ousando ter como protagonistas do cuidado, estes que almeja-se cuidar, únicos os quais que possuem o conjunto das experiências de estar em situação de rua.Tal população, singular nas suas formas de circular na cidade, cria suas próprias estratégias e laços de sobrevivência para dar conta de sua dinâmica de existência. As políticas precisam se configurar enquanto possibilidade de cuidado, mas sem violentar ou aniquilar o que há de potente nessas invenções, tornando-se o seu principal desafio não tutelar esses sujeitos, mas potencializar suas estratégias de vida.Eu, profissional, psicólogo, cartógrafo de mim e dos encontros, enquanto profissional que utiliza a escuta e a cartografia como ferramenta, assumo um lugar implicado no reconhecimento da singularidade desse público, priorizando o encontro e o que advém dele, em contraponto a um suposto conhecimento prévio e técnico sobre algo. Tendo em vista o exposto, a presente reflexão de um projeto de mestrado/vida, pretende responder a seguinte questão: Como produzir cuidado a partir das histórias de vida que se inventam e reinventam no cotidiano das ruas?