Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Educação e saúde no (trans)formar de uma clínica-escola interprofissional
Suelen Beal Miglioransa, Ricardo Burg Ceccim

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


Apresentação: A assistência em saúde é exercida por diferentes profissões que, em uma  perspectiva especialista de cuidado, tendem a limitar seu olhar e sua escuta àquilo que compete a seu núcleo profissional. A atuação nessa lógica de especialismos, vem reforçada por uma perspectiva de ciência cartesiana, onde transforma-se o todo em diversas partes apostando-se em um estudo minucioso das mesmas. Entretanto, os sujeitos, clientes dos sistema de saúde, não são apenas partes biológicas e isoladas, mas são vidas que somam aspectos biopsicossociais. Neste sentido, não é possível formar profissionais apenas para atuarem a partir do atlas de anatomia, imagens congeladas de partes humanas adoecidas ou corpos e cérebros conservados em formol. Pelo contrário, é necessário, permanentemente, educar os profissionais para que se atualizem tecnicamente, mas, principalmente, que também comprometam-se criticamente com os atravessamentos ético-políticos associados ao fazer em saúde e outros campos de estudos necessários, como a saúde coletiva, o controle social em saúde, a integralidade na atenção, a participação popular no setor da saúde e a Educação e Ensino da Saúde. As pesquisas e estudos sobre a formação dos profissionais em saúde tem então aproximado as grandes áreas da educação e da saúde, e considerando a necessidade de uma Educação Permanente em Saúde (EPS). Esta que vai muito além que o cumprimento de etapas acadêmicas e aquisição de diplomas, visa ser ferrramenta de criticidade frente ao contexto social, político e sanitário, numa perspectiva ampliada do olhar sobre o processo de saúde-doença e de integralidade dos sujeitos, ainda contribuindo para competências e habilidades inerentes a todas as profissões da saúde com uma atuação voltada e pensada para o Sistema Único de Saúde (SUS), ações efetivas de éticas de cuidado em saúde, tomada de decisões e comunicação. Foi corroborando com a proposta de uma formação baseada na EPS que surgiu em 2008 o projeto da Clínica Universitária Regional de Educação em Saúde (Cures) situada em uma Universidade comunitária no interior do Rio Grande do Sul. A Cures território desta pesquisa intitulada Afetos de um serviço-escola: por entre vidas-aprendentes, é uma clínica-escola que propõe o trabalho interprofissional e entre-disciplinar, envolvendo estudantes de oito cursos da saúde e um da educação, que lá realizam seus estágios curriculares obrigatórios, visando-se o cuidado aos seus usuários na perspectiva de uma clínica ampliada, fazendo uso de tecnologias leves de cuidado e do trabalho vivo em ato. Desenvolvimento do trabalho: A partir de uma intenção cartográfica e mobilizada pelo (trans)formação que a educação permanente em saúde exerce na vida da pesquisadora ao estar como supervisora de estágio nessa proposta inovadora de clínica-escola, realiza-se a presente pesquisa que tem como objetivo compreender as marcas e signos corporificados experimentados a partir das vivências dos estagiários e supervisores neste território como o da Cures, de encontros das vidas-aprendentes com as práticas da saúde coletiva, com a clínica ampliada e a interprofissionalidade. Dentre os objetivos específicos pretende-se ainda (a) compreender quais encontros, dentre os propostos na prática do serviço, foram produtores de afetos e aprendizagens inventivas; (b) buscar os efeitos dos encontros, assistenciais e pedagógicos, neste serviço-escola na aprendizagem em saúde; (b) oportunizar um espaço de reencontro ao diplomado, a fim de revisitar aquilo que, a partir de sua prática de estágio, produziu subjetividades e que hoje contribuem para sua prática profissional. Eis perguntas que contribuem ao pesquisar: Quais são os efeitos na aprendizagem em saúde a partir dos encontros vivenciados em um serviço-escola com signos tão próprios como a Cures? No que esta proposta formativa contribui ao diplomado que atua no campo da saúde? A pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa-intervenção pois os participantes estagiários e supervisores egressos da clínica (até o ano de 2018) serão convidados a, através de um grupo focal, experienciar um espaço de (re)encontro com sua prática de estágio na época, como uma dobra sobre si mesmo. Resultados e/ou impactos:  Ainda em andamento, parte-se da ideia de que a vivência experimentada na Cures, pelos egressos participantes, tenha sido a de uma aprendizagem inventiva, com marcas e signos corporificados, o que poderá ser negado conforme o que emergir na pesquisa. A escrita de um diário de campo tem sido fundamental no processo de pesquisa. Também, vem sendo realizada a retomada do projeto da Clínica-escola e dos movimentos que atravessaram a mesma ao longo dos seus 11 anos de funcionamento. Tendo recebido aproximadamente 1923 acadêmicos desde 2011, ano de sua inauguração, considera-se que conversar com parte desses egressos nos auxiliará  a cumprir os objetivos descritos acima, compreendendo os impactos dessa proposta formativa na atuação profissional após formados. E é, visando esses egressos já atuantes no mercado de trabalho, e considerando o ano em que a pesquisadora iniciou sua atuação na clínica-escola, que fixou-se como corte da pesquisa o ano de 2018. Destaca-se que no ano de 2021 compuseram o serviço 160 acadêmicos dos cursos de Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Psicologia e foram atendidos semanalmente 172 usuários nos diversos formatos oferecidos (acompanhamentos interdisciplinares, grupos, matriciamento e sala de espera), dez supervisores profissionais técnicos e uma professora coordenadora. Considerações finais: Foram as experiências (trans)formativas em saúde vivenciadas pela pesquisadora e os afetos vividos ao longo de sua trajetória profissional de formação em serviço que a levaram ao desejo de desenvolver esta pesquisa. Pesquisar sobre o aprendizado advindo não da transmissão vertical, mas advindo dos encontros com usuários, com supervisores, preceptores, outros colegas. Aprendizados jamais esquecidos e despertos pelo cheiros, pelo tom de voz do usuário, pelo abraço minguado ou pelo toque trêmulo. A discussão e pesquisa sobre a formação em saúde e a educação na saúde mostra-se relevante uma vez que o profissional de saúde, em sua assistência, é produtor de subjetividades. Considerando a experiência do pesquisar em território, iniciar este projeto de pesquisa sobre educação em saúde e, em meio a sua escrita, acontecer uma pandemia tem sido de grande desafio para a pesquisadora, especialmente pela ampliação das demandas de trabalho executados na clínica-escola e pela instauração de uma necropolítica que desgastou diretamente os profissionais dedicados a um cuidado ético-político. Sendo assim, é necessário (re)afirmar o que pode a formação ao romper com o modelo cartesiano e biologicista, buscando uma ciência inventiva, a fim de (re)afirmar subjetividades que nos permitam outras formas de habitar o mundo; produzam vida. Vidas-aprendentes, como tem-se desenhado na pesquisa numa tentativa de reafirmar dessas vidas que circulam pelo serviço (usuários, estagiários, supervisores) e que estão em movimento infinito, trazendo suas histórias e o que as constituí também para composição deste local. Que produzem AfetAções; compromisso ético-político; que são educação permanente em saúde; exigem o trabalho em equipe; o trabalho vivo em ato.