Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Relevância da Ergonomia na Prevenção de LER/DORT em Enfermeiros
Clara Olga Medeiros da Silva, Mayra Costa Rosa Farias de Lima

Última alteração: 2022-02-11

Resumo


Introdução

Doenças Ocupacionais são descritas, como toda e qualquer interferência a saúde do indivíduo empregado diante de suas atividades, podendo ter origem física, mental e social. Dentre as doenças ocupacionais mais mencionadas nas literaturas mundiais, determina-se LER (Lesão por esforço Repetitivo) e DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) como os agravos mais frequentes em trabalhadores.

Ainda que possam acometer trabalhadores de todos os setores empregatícios, nota-se maior prevalência de LER e DORT em trabalhadores da saúde, sobretudo, enfermeiros, estando atualmente como o primeiro motivo mundial de afastamento destes profissionais. No Brasil, segundo dados da Previdência Social, entre 2010 e 2020, 83,4% dos profissionais enfermeiros apresentaram pelo menos um episódio de LER ou DORT.

Essa estatística, vem preocupando especialista em saúde do trabalhador, pois os prejuízos causados pelas condições de LER e DORT, limitam o colaborador e geram um maior número de adoecimentos, pois prejudicam sistemas ósseo, muscular e afetam tendões, nervos e geram consequências de interferência social e econômica.  Por este motivo, condutas ergonômicas dever ser padronizadas na atuação do enfermeiro.

O objetivo do trabalho é descrever medidas ergonômicas aplicadas ao enfermeiro na prevenção de LER/DORT.

Desenvolvimento

Chama-se ergonomia, o ramo de estudo desenvolvido para elaborar métodos que proporcione maiores adequações dos trabalhadores em suas funções diárias de expediente. Foi criada em 1949 e desde então tornou-se fundamento dos direitos trabalhistas e exerce como principal objetivo a prevenção de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais.

A ergonomia pode ser dividida em três ramificações: física, cognitiva e organizacional. Sendo a física a responsável por medidas de proteção a condições anatômicas, biomecânicas e fisiológicas, atenuando para riscos direcionados a musculatura, articulação e sistema ósseo. É neste segmento que medidas como moveis ocupacionais, iluminação adequada, equipamentos preservados e versáteis.

Tratando-se de ergonomia cognitiva, têm-se como definição a adequação funcional de cada colaborador com suas tarefas laborativas. Sendo assim, trabalhará em suas ações, repostas cognitivas e psicomotoras, conservação de saúde mental e física, treinamento e desenvolvimento, capacidade memorial e sensorial, condições de stress e atenção.

O ambiente de trabalho pode ser o local que mais proporciona adoecimento, esses adoecimentos podem gerar dados de doença ocupacional ou doença do trabalho, sendo doença ocupacional definida como agravo ocasionado pela execução do trabalho e doença do trabalho relacionada ao adoecimento por condições de ambiente de trabalho.

As doenças ocupacionais são mais frequentes que as doenças de trabalho, tendo em vista que envolvem mais segmentos anatômicos e fisiológicos. Nesta categoria, enquadram-se os agravos LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).

A Enfermagem é a profissão designada a prestação de cuidados, promovendo, mantendo e restaurando a saúde do paciente assistido. Entretanto, as atividades de trabalho desenvolvidas pelos enfermeiros, enfrenta dificuldades listadas em físicas, emocionais, sociais e financeiras. São diversos desafios impostos a cada exercer profissional, independente do ramo de atuação.

Este é o motivo do profissional enfermeiro ser a quarta categoria nacional mais adoecida, tendo como afecção principal, condições de enquadramento no grupo de LER/DORT. No último censo divulgado, mais de 50% dos profissionais enfermeiros apresentaram alguma queixa ou registro médico relacionado a distúrbios osteomusculares.

Tendo em vista que a atuação do enfermeiro exige movimentação, condições agravantes de postura, solicita esforço físico, e adequação a diversos ambientes de trabalho, a primeira medida ergonômica cabível a categoria é a ergonomia organizacional, sendo essa, a capacitação continuada dos profissionais, bem como a valorização, descanso apropriado, interação em grupo.

Medidas que podem ser adotadas com: dinâmica interativa, reconhecimento profissional, investimento em curso proporcionado pelo vínculo empregatício, ambiente arejado e confortável para atividades profissionais. Para ergonomia cognitiva, atividades como exercícios de memória, ginastica laboral, exercícios de equilíbrio e o acompanhamento fisioterápico e terapêutico são indicados, pois são questões de alinhamento físico e mental.

Na tangente da ergonomia física, são exemplificados o bom funcionamento dos equipamentos de proteção individual, opções de cadeiras e mesas com adaptação anatômica, aplicação de tapetes antiderrapantes, equipamentos de realização de exames móveis, leves e flexíveis e ajustáveis.

Resultados e Discussão

A criação da ergonomia, teve como principal fundamento, a melhora no conforto e eficácia do trabalhador durante a execução das suas atividades laborativas. Maldonado, 2019, explica, que as medidas ergonômicas são providas de instrumentais, maquinários e condutas coorporativas, assim como Brito, 2017 que relata em sua produção científica que os processos ergonômicos promovem a qualidade de vida no trabalho.

Criada em 1949, as condutas ergonômicas foram sendo introduzidas em setores da indústria, automação, e saúde, sendo atualmente norma obrigatória e direito do trabalhador. Definida com Norma Regulamentadora 17 do Guia Trabalhista, as ações de ergonomia são adaptadas de acordo com as necessidades estabelecidas pelos riscos propícios de cada local de trabalho.

Por este motivo, Gomez, 2018, esclarece a importância da avaliação técnica de riscos ocupacionais providos em ambientes de trabalho, corroborando com Martins, 2019, que ao relatar sobre a importância da ergonomia na saúde do trabalhador, relaciona as profissões com maiores exposições de riscos e evidencia a enfermagem como uma função de com muita exposição a riscos.

Com a mesma linha de raciocínio, Silva, 2019, elenca que o profissional enfermeiro enquadra-se na exposição a riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos. Em sua pesquisa, foi destacado que a maior porcentagem de acidentes de trabalho em enfermeiro, refere-se à contaminação com perfurocortantes.

Entretanto, a maior causa de afastamentos de enfermeiros das atividades de trabalho são ligados a diagnósticos de LER e DORT, sendo a segunda maior causa de licenças superiores de 15 dias, conforme relata Pereira, 2017. LER e DORT são consideradas doenças ocupacionais e acometem 4 entre 10 profissionais de enfermagem entre 30 a 50 anos.

As doenças mais apresentadas por enfermeiros relacionadas a LER/DORT são as tendinites, síndrome do túnel do carpo, artrite e artrose, lombalgias, distensão muscular, epicondilite, tenossinovite e tendinite. E os períodos de sintomatologia variam de 3 meses a 1 anos, antes da procura médica.

Conclusão

As evidências destacadas pelo estudo comprovam que os índices de adoecimento de enfermeiros por LER e DORT estão em constante crescimento, condição que se tornou um motivo de preocupação dos especialistas em saúde do trabalhador, por serem agravos que interferem na qualidade de saúde do enfermeiro e podem causar prejuízos permanentes a nível físico, psíquico e social.

Foi possível observar ainda, que a melhor maneira de diminuir os casos, consiste na prevenção focada na ergonomia. A ergonomia direcionada aos enfermeiros é variável de acordo com o setor, mas a educação continuada e as alterações físicas e mecânicas nos ambientes de trabalho são medidas adotadas que apresentam bons resultados, um exemplo é a ginástica laboral e o alinhamento de postura.

Sendo assim, conclui-se que as atividades desenvolvidas pelo enfermeiro durante sua jornada de trabalho são propícias ao diagnóstico de doenças ocupacionais, tais como LER e DORT, entretanto, é cabível que as equipes de medicina do trabalho (engenheiro do trabalho, médico do trabalho, enfermeiro do trabalho e técnicos de segurança do trabalho) avaliem e adequem medidas ergonômicas que auxiliem na prevenção de LER e DORT.