Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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QUANDO EU CUIDO DE UM HOMEM, EU ME VEJO NELE”: CARTOGRAFIAS DE HOMENS TRABALHADORES DE SAÚDE E MASCULINIDADES NAS REDES DE CUIDADO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
IGOR BRASIL DE ARAUJO, Álvaro Pereira

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


O cuidado em saúde agencia elementos micropolíticos ao desenhar redes de cuidado que se capilarizam nos afetos entre os/as trabalhadores/as de saúde e destes com usuários/as. Performances de gênero e masculinidades complexificam este cuidado diante da sociedade patriarcal e sexista que materializa linhas de uma masculinidade tradicional hegemônica. Trabalhadores de saúde homens na Estratégia Saúde da Família têm sido potencializadores da busca e permanência de usuários homens. Este estudo, tese de doutoramento em Enfermagem em Saúde, tem como objetivo cartografar os encontros de trabalhadores de saúde homens e usuários homens nas redes de cuidado da Estratégia Saúde da Família. Produziu-se uma pesquisa cartográfica fundamentada em Gilles Deleuze, Felix Guattari, Suely Rolnik e Michel Foucault, apoiada no dispositivo de Eterno Retorno para analisar os movimentos que construíram três mapas cartográficos das subjetivações masculinas que produzem cuidado em uma Unidade de Saúde da Família de Salvador-Bahia. Para tanto, foi utilizado o dispositivo do trabalhador de saúde homem-guia para mergulhar nos afetos que compunham os territórios existenciais de três trabalhadores, sendo dois enfermeiros e um agente comunitário de saúde. Entrevistas individuais e em grupo e diários de campo cartográficos foram construídos para se produzirem o objeto e os sujeitos do estudo, entre outubro de 2019 e março de 2020, após parecer favorável de comitê de Ética em pesquisa sob número 3471108. Mapas cartográficos do cuidado, operado por um homem trabalhador de saúde a outros homens, multiplicitaram possibilidades de produzir diferença nas práticas da Estratégia Saúde da Família, assim como descortinaram as relações conflituosas do trabalho em equipe, devido às rupturas que esse homem produzia ao emergir a imanência das singularidades do usuário que precisa ser acolhido quanto ao seu desejo de potência. Mutações no modo de operar cuidado, diante das afecções entre dois trabalhadores homens, foram cartografadas a partir das afetações produzidas por um usuário homem preto que colocou em análise os/as trabalhadores/as de saúde, abrindo linhas de fuga para que as masculinidades agenciassem modos criativos e responsabilizados de cuidar. Destarte, encontros entre um agente comunitário de saúde homem produziu um mergulho subjetivo nas relações despotencializadas de um usuário homem e sua família e também novas linhas que recompuseram as forças de produção de vida. O estudo coloca em suspensão os modos de subjetivação de homens para se deslocar agenciamentos de corpos masculinos - trabalhadores de saúde e usuários - sensíveis, acolhedores e transversais.  Linhas de captura trazem a demanda micropolítica de problematizar o tecido social, o cuidado e a saúde para agenciar a reinvenção das masculinidades com produção de devires. Novos agenciamentos coletivos de enunciação e maquínicos de corpos podem ser produzidos no cotidiano para impulsionar agires na Estratégia Saúde da Família que militem pela produção desejante de encontros entre trabalhadores de saúde homens e os usuários. Nestes, a produção imanente do cuidado de si dos usuários homens deriva da escuta e da observação atenta do trabalhador de saúde homem que, na experiência e no conhecimento de si, projeta linhas e vetores capazes de aumentar a potência de sentir, agir e existir desses usuários.