Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Pandemia e cuidado em tempos de desfronteirização: humanos e não humanos enredados e interconectados
Reni Aparecida Barsaglini

Última alteração: 2022-02-10

Resumo


A presente apresentação traz reflexões sobre a pandemia analisando-a como fenômeno coerente com um contexto de desfronteirização e enredamentos entre humanos e não humanos e suas consequências para o cuidado. Partindo das contribuições de Bruno Latour é profícuo considerar sua visão de ambiente e as relações em fluxo e em rede para compreender a emergência, a difusão/disseminação, a persistência (que se cronifica) e os enfrentamentos à pandemia da Covid-19 na qual estão interagindo elementos heterogêneos (vírus, pessoas, instituições, instrumentos, tecnologias, insumos, produtos, politicas etc.), isto é, humanos e não-humanos conectados, em contínua mobilidade e performando a realidade. E assumir o cuidado democrático como aquele não relegado ao âmbito privado, mas assumido coletivamente e que, para tanto, requer o compartilhamento dessa responsabilidade pelo Estado-mercado-família-comunidade. A emergência do novo coronavirus com a consequência da Covid-19 que se transformou em pandemia foi possível em um mundo de grandes circulações transfronteiriças de humanos e não humanos (mercadorias, serviços, pessoas, informações) incluindo o referido vírus. Sua disseminação tão rápida foi favorecida neste mundo globalizado em que a Web 2.0 possibilita que circulem também rapidamente verdades com lastro real material ou emotivo que pode dar origem à fake news e suas consequências – fruto, também e em parte, da hiperconectividade. No ambiente latourniano estes elementos estão interconectados e integrados em redes sociotécnicas complexas que são, ao mesmo tempo, técnicas, semióticas e sociais; econômicas, políticas; científicas, tecnológicas e naturais. Contudo, as conexões que se dão nas redes sociotécnicas não são transparentes, sendo necessários olhares e saberes não reducionistas para a compreensão e o agir diante do quadro complexo. A ciência pode fazê-lo, mas como produto humano não tem valor absoluto, sendo também atravessada pelos elementos políticos (não humanos) tendo que conviver com a pseudociência e a anticiência em um campo permeado de conflitos e contradições. E o olhar abrangente em rede é viabilizado quando entendemos a cronicidade da Covid-19 no coletivo e não individualizadamente, ou seja, embora com ciclo curto e agudização nos indivíduos, coletivamente/na população ela perdura, é de longa duração, se cronifica, é pandemia. Importante aqui não incorrer no universal do coletivo, haja vista as diferentes condições de vida e trabalho dos diferentes grupos sociais que singularizam e intermediam protegendo ou expondo mais ou menos ao vírus e às suas consequências.  Conclui-se que o enredamento dos elementos humanos e não humanos ganharam relevo pela pandemia do novo coronavírus em que vírus, humanos, tecnologias, política, ciência etc mostraram sua indissociabilidade e, da mesma forma, o cuidado ético e democrático (técnico, ético, politico) diante dela requer olhares ampliados e transfronteiriços, valendo-se dos saberes disciplinares mas sem as suas amarras.