Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-08
Resumo
Asma é uma doença inflamatória crônica que, na ausência de tratamento adequado, pode causar quadros graves de insuficiência respiratória, podendo levar à morte. Por ser muito comum, todo médico deveria estar apto a diagnosticar e tratar adequadamente a asma. Com essa perspectiva, o Programa de Assistência e Controle da Asma (PACA) da UFAM foi criado em 2003, pela pneumologista Dra. Maria do Socorro de Lucena Cardoso, para inserir acadêmicos de medicina no ambiente de manejo da asma, preparando-os para o exercício futuro. O projeto é responsável pelo atendimento de pacientes asmáticos provenientes da cidade de Manaus e de outros municípios do interior do Amazonas. Dessarte, este relato objetiva discutir os reflexos da abordagem que um projeto de extensão direcionado ao atendimento de pacientes asmáticos pode ter em relação à formação acadêmica dos discentes integrantes e o benefício que o acompanhamento e suporte realizado oferece aos pacientes cadastrados no programa, buscando discorrer acerca da metodologia das atividades desempenhadas e suas atribuições.
Desenvolvimento do trabalhoA partir do terceiro período de medicina, os alunos estão aptos a realizar a prova de seleção para ingressar ao programa. A prova é realizada anualmente, contendo temas relacionados à asma, como manifestações clínicas, manejo e tratamento dessa doença.
O atendimento dos pacientes que participam do PACA ocorre todas as quintas-feiras das oito às onze horas da manhã no Ambulatório Araújo Lima. É realizado pelos 20 membros acadêmicos atuais junto com a orientação da doutora Maria do Socorro de Lucena Cardoso, pneumologista e professora vinculada à Universidade Federal do Amazonas. Além disso, conta com a ajuda de residentes de clínica médica, internos e enfermeiros.
São realizadas reuniões quinzenais, com os membros, às quartas feiras às 19 horas, na qual fazem palestras abordando assuntos relevantes e necessários para aprimorar o conhecimento a respeito da asma. Atualmente, com a pandemia, as reuniões internas estão acontecendo de forma remota. Vale ressaltar, as reuniões mensais com os pacientes inseridos no programa com o intuito de informá-los sobre aspectos da asma.
Resultados e/ou impactosOs atendimentos fornecidos pelo PACA aos 1900 pacientes asmáticos de todas as faixas etárias promovem uma experiência única tanto para os usuários do programa quanto para os alunos que participam dele. Para os acadêmicos, o PACA fornece a participação ativa do aluno na sociedade em que vive, promovendo um contínuo e amplo contato com a rotina da prática médica. O programa não somente permite o aperfeiçoamento e desenvolvimento de conhecimento referente à pneumologia, mas também traz a possibilidade de pôr em prática os estudos de semiologia médica, uma vez que o integrante do projeto é responsável por coletar a história clínica e realizar o exame físico dos pacientes do programa.
A participação dos acadêmicos no atendimento traz benefícios tanto para os pacientes quanto para os profissionais da saúde. O auxílio dos alunos aos médicos durante o atendimento ajuda na redução do tempo de espera para as consultas e consequentemente reduz aglomerações de pessoas e evita a sobrecarga desses profissionais. Em acréscimo, os alunos do PACA propõem reuniões mensais em conjunto aos usuários do programa em que realizam atividades de promoção da saúde, abordando temas como a desmistificação da doença e também estratégias de controle não farmacológicas. Essas reuniões são um diferencial do PACA, pois contribuem para o fortalecimento da relação médico-paciente, assim como atuam na promoção da educação em saúde e na melhor adesão ao tratamento. Perante o exposto, é possível observar o quanto o PACA gera um impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes, tanto pelo controle da doença quanto pelo conhecimento de que estão sendo bem cuidados e devidamente acompanhados. É notável que os usuários com mais tempo participando do programa e com uma boa adesão ao tratamento apresentam maior controle sobre a própria doença e menores chances de recidiva aguda dos sintomas da asma.
Assim como apontado pelos relatos de experiência dos integrantes do PACA, demais estudos demonstram o acompanhamento regular de pacientes asmáticos como fator determinante na redução de exacerbações e, consequentemente, na necessidade de hospitalizações entre essa população. Consultas mais frequentes permitem que sejam implementadas adequações ao tratamento de forma mais eficiente e estão associadas a uma maior adesão ao uso dos medicamentos. Ao instruir corriqueiramente o paciente asmático sobre o correto manejo da doença, evitam-se os principais fatores associados ao descontrole da asma a longo prazo, tais quais: a administração incorreta de medicamentos inalantes e o uso indiscriminado de beta-agonistas de curta duração.
Outro aspecto importante ressaltado no relato dos acadêmicos é a possibilidade que o PACA oferece de, ainda durante períodos iniciais da graduação, desenvolver habilidades e competências referentes à prática médica. Auxiliados por profissionais da saúde, os estudantes são incentivados a atuar em cenários reais, conduzindo o atendimento ambulatorial ao passo que consolidam o aprendizado teórico. Além disso, os alunos também têm a possibilidade de aprimorar aspectos relativos à relação médico-paciente, tópico subjetivo que não é diretamente abordado durante a graduação.
O programa também auxilia a complementar o conhecimento teórico dos acadêmicos, que são incentivados a se aprofundar e a realizar palestras quinzenais sobre os assuntos pertinentes à prática clínica realizada no ambulatório. As palestras são supervisionadas pela preceptora do PACA e, ao final de cada reunião, o tema abordado no dia é discutido entre os participantes e a orientadora, de forma a correlacionar a vivência dos alunos aos conteúdos teóricos.
Considerações FinaisA asma demanda acompanhamento médico regular do paciente acometido, a fim de evitar exacerbações e complicações que exigem abordagem a nível secundário. Em face disso, justifica-se a importância de programas como o PACA na atenção primária: as consultas trimestrais, com adequada realização de anamnese, exame físico, prescrição de conduta e orientações gerais, oferece ao usuário do SUS maior conhecimento e controle da doença, de forma a evitar afecção significativa na qualidade de vida e idas constantes ao serviço de emergência. O perfil dos pacientes atendidos pelo PACA são em sua maioria controlados, com raras exacerbações e pouco ou nenhum uso de medicação de resgate, além de uso regular e adequado da medicação de uso diário, ofertada sem custo pelo SUS. Além disso, é feito também reuniões mensais, em um auditório, para muitos pacientes que fazem parte do programa, a fim de reforçar o que é dito na consulta e informações adicionais para o melhor controle e manejo da asma, se mostrando assim, uma ótima maneira de promoção da saúde.
Além disso, é possível observar ganho substancial de conhecimento pelos alunos envolvidos no programa. O contato com uma grande demanda de pacientes desde os primeiros períodos, assim como a possibilidade de atendê-los individualmente oferece oportunidades únicas de aprimorar a semiologia. Mesmo que o programa seja específico para pacientes asmáticos, estes corriqueiramente trazem outras demandas, o que possibilita aos estudantes ampliar os horizontes de conhecimento e desenvolver o raciocínio clínico. Ademais, as reuniões quinzenais com apresentações de temas relevantes à asma propiciam conhecimento das constantes atualizações das diretrizes e, consequentemente, o aprimoramento da qualidade dos atendimentos.