Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Racismo Institucional e a crise sanitária: o perfil do acometimento da covid-19 na Região Nordeste
Deborah Melo, Janete Lima Castro

Última alteração: 2022-02-20

Resumo


Apresentação: O racismo institucional na saúde capilariza-se pelos serviços, apresentando-se à população negra em múltiplas dimensões, podendo-se mencionar: as relações interpessoais entre usuários e profissionais, fragilidades no acesso aos serviços, maiores agravos nos indicadores de saúde e ausência de reflexão sobre a promoção de saúde. No decorrer desses dois últimos anos, o Brasil tornou-se o epicentro da pandemia do novo coronavírus, uma das causas para o aprofundamento da crise sanitária foi a falta de respostas ordenadas do Governo Federal articulada com todo o território nacional. Para compreender este fenômeno considerando o racismo institucional, objetiva-se deste descrever o perfil epidemiológico da população negra no contexto da covid-19 na Região Nordeste. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa exploratória por meio dos dados acumulados do registro raça e cor dos Boletins Epidemiológicos das Secretarias Estaduais de Saúde dos estados da Região Nordeste. Os dados identificados nos boletins foram convertidos em números absolutos; em alguns casos, foram identificados dados discrepantes no processo de conversão, e houve uma limpeza neles. Os dados acumulativos foram do período de  27 de fevereiro de 2020 até 30 de abril de 2021. Para a exposição dos achados foram trabalhados as proporções e comparados entre as populações. Em dois estados do nordeste não foi possível realizar a análise do estudo (Ceará e Piauí), contabilizando sete secretarias estaduais de saúde, as quais o boletim epidemiológico da covid-19 foi analisado. Resultados: Em relação aos dados que tiveram a informação de raça e cor dos casos confirmados e óbitos, foi observado o maior acometimento da população negra pela pandemia na Região Nordeste. Em relação aos casos confirmados, foram observadas as desigualdades raciais, mais profundamente nos óbitos, que ultrapassam os 80% de óbitos. Nos dados do boletim epidemiológico da secretarias estadual de saúde de Alagoas, foi observado que enquanto a população negra correspondia a 87% dos óbitos pela Covid-19, a população branca constituía 12% desses óbitos. Essa assimetria encontra-se também no estado da Paraíba, onde os óbitos pela Covid-19 correspondem a 84% da população negra e 13% da população branca. O estado que apresentou a menor assimetria, comparado com os demais estados do Nordeste, foi o do Rio Grande do Norte, posto que os dados apresentaram que, enquanto a população negra correspondia a 59% dos óbitos, a população branca representou 33%. Considerações finais: As consequências da pandemia do novo coronavírus numa sociedade estruturada pelo racismo pode penalizar a população negra de uma forma desproporcional. Nesse sentido, ao refletir que a população negra destacou-se sendo a mais acometida nos boletins epidemiológico ultrapassando 80% dos óbitos pela Covid-19, nota-se que a pandemia atingiu de forma diferente as populações, o racismo institucional mostra-se presente nesta distribuição desigual. Cabe refletir que o reconhecimento da distribuição de adoecimentos e óbitos desproporcionais na população é fundamental para o planejamento de ações de proteção à saúde das pessoas negras pelo setor saúde.