Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Corpo-natureza, território e cadeia produtiva do algodão: a perspectiva integradora, democrática e sustentável do Bem Viver
Silvia Angela gugelmin, Reni Aparecida Barsaglini, Marcos Aurélio da Silva, Thyago Munoz

Última alteração: 2022-02-07

Resumo


Partimos de uma pesquisa que avalia as situações de riscos ocupacionais e vulnerabilidades socioambientais, suas implicações no processo de saúde-adoecimento de trabalhadores(as) e de povos indígenas; que incentiva o uso saudável e sustentável dos territórios abrangidos pelas cadeias produtivas do algodão em Mato Grosso, e voltamos nosso olhar para o corpo aí situado. São reflexões críticas sobre o modelo de produção do agronegócio que distingue Humano-Natureza, em defesa das conexões entre corpo-natureza, que se coadunam com a perspectiva não-moderna do Bem Viver. Indissociabilidade visibilizada pela pandemia do novo coronavírus em que vírus, humanos, tecnologias, política, ciência etc mostraram seus laços e embaraços. Ressaltamos o corpo imerso na produção algodoeira no agronegócio – este projeto de desenvolvimento rural hegemônico no Brasil desde meados do século XX, cuja característica economicista prioriza os lucros, ignorando os valores sociais, ambientais e o ser humano dicotomizando tais elementos. Em cada momento da cadeia produtiva (antes-durante-após a fazenda) o corpo pode ser apagado, ofuscado ou presente e exposto às repercussões da fratura Humano/Natureza, em que a Natureza é vista distinta do ser humano e disponível à dominação e exploração. Põe em cena, assim, um corpo útil, produtivo, força de trabalho, funcional, mercadoria, instrumental, rascunho, suporte ao consumo (alimento, vestuário, medicamento e procedimentos estético-corretivos etc.), ao prazer, ao cuidado, etc. Contudo, trata-se de corpo-mundo, situado, sensível e marcado pelas peculiaridades biográficas e pelos contextos relacionais (pessoas, instituições, organizações, tecnologias), localizado em tempo e espaços socio-históricos mais amplos. A carne do corpo é feita do mesmo estofo desse mundo, portanto, é cortada pela historicidade, pelas afecções, pela experiência vivida. Por extensão entende-se a interpenetração campo-corpo na cadeia produtiva do algodão recorrendo à relação corpo-território: território como/do/no corpo (o útero); território como conjunção de corpos (população) e território-corpo (da Terra como corpo) ou ontologicamente Terra como território, prolongamento indissociável do nosso corpo, espaço de vida, humano e não-humano. O viés crítico se faz pela noção de território na América Latina, no diálogo com movimentos sociais, suas identidades e como instrumento democrático de luta e transformação social, bem como no reconhecimento e escuta aos corpos invisibilizados, grupos subalternos e seus saberes e fazeres; facultando tratá-los como territórios de r-existência. Uma leitura e vivência integradoras distintas da visão moderna, ou seja, onde ser humano e terra, grupos sociais e seu entorno, mundo humano ou espiritual e natural não se apartam, são constituintes um do outro, aproximando da filosofia do Bem Viver, herdeira de povos originários latinos. O cosmos inter-relaciona-se ao corpo humano pela noção da Pacha Mama, Mãe Terra, Gaia: visão integradora basilar à dimensão ética-estética do Bem Viver atrelada à postura biocêntrica justa diante da vida-mundo, se opondo ao antropocentrismo. A processualidade e relacionalidade amalgamadas no Bem Viver são profícuas para uma postura reciprocamente protetiva, solidária, generosa e sustentável para pensar a natureza dentro e fora de Nós, como na fita de Moebius, fornecendo uma perspectiva para olharmos a relação campo, corpo, produção e território em busca de efetivo equilíbrio e justiça social e econômica.