O investimento em experiências de formação coerentes com a gestão do trabalho e do cuidado no Sistema Único de Saúde é essencial para o enfrentamento da precarização do sistema a garantia de sua continuidade. Nesse contexto, a formação em psicologia para atuação na saúde é desafiadora, uma vez que guarda em seu histórico uma atuação centrada na clínica individual, com insipientes práticas de promoção e educação em saúde e dificuldades na inserção em equipes de trabalho. No contexto da COVID-19, frente a necessidade do distanciamento social, esses desafios se ampliaram. Nesse relato, objetivamos descrever e analisar práticas de formação em psicologia no campo da saúde, especificamente nos campos de gestão e de serviços de atenção especializada no contexto de três cidades do interior potiguar do Nordeste. O estágio ocorreu ao longo do ano de 2021, envolvendo cinco discentes,  profissionais e usuários de  dois Centros Clínicos Especializados, um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e uma Unidade Regional de Saúde Pública (URSAP). Os momentos foram registrados em diários de campo, e analisados coletivamente em supervisões, a partir de autores da Saúde Coletiva e da Análise Institucional. No campo do cuidado, emergiram demandas de crianças e adolescentes frente ao distanciamento social, problemas relacionados ao suicídio, e violências contra as mulheres, foram as principais surgidas; observamos tensões entre encomendas de práticas clínicas individualizantes com base em diagnósticos e o questionamento por parte das alunas dessas práticas, com a produção da articulação com a atenção básica, especialmente com Agentes Comunitários de Saúde. Na organização da atenção, a extinção dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF) tornou-se um grande dificultador para um cuidado articulado com a atenção básica e também para a formação a partir do trabalho em equipe.  Nesse contexto, para a garantia do cuidado, foram constituídos em articulação com as escolas grupos com crianças e adolescentes e interconsultas. Espaços coletivos como a constituição de fóruns municipais e regionais com a rede de trabalhadores, especialmente da atenção básica, foi essencial para fomentar espaços de avaliação e planejamento coletivo das práticas de cuidado e de gestão. Esses espaços foram essenciais para os trabalhadores da saúde. As análises de implicações apontaram para um compromisso das discentes com os serviços de saúde de seus municípios de origem, as dificuldades emocionais frente ao contexto da pandemia, e o desejo de dar continuidade a formação. Apontamos assim a urgente necessidade de investir em discussões sobre a formação em saúde, em uma perspectiva ético-política, articulando ensino, serviço e comunidade, em meio ao contexto das transformações ocasionadas pela Pandemia por COVID-19 e de precarização do Sistema Único de Saúde. Isso se torna essencial para o enfrentamento das repercussões do quadro pandêmico no contexto brasileiro.