Associação da Rede Unida, Encontro Sudeste 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-10-22
Resumo
Introdução: O bullying é caracterizado como uma violência multifacetada de origem complexa e com graves consequências à saúde mental dos adolescentes. Estudos apontam que estratégias para fortalecer a compreensão, o protagonismo e a capacidade de ação dos adolescentes para lidar com o bullying no contexto escolar podem ser mais efetivas e impactar no clima escolar. Objetivo: Analisar se instrumentos de pesquisa participativa colaboram para fortalecer o entendimento e a capacidade de ação dos adolescentes para lidar com o bullying no contexto escolar. Metodologia: A Pesquisa Participativa Baseada na Comunidade (Community Based-Participatory Research- CBPR) foi a metodologia utilizada nesta pesquisa. Esta ferramenta tem sido reconhecida por agrupar múltiplos atores; apresentar modos que minimizam a dificuldade de comunicação entre os atores; favorecer as vozes da comunidade dentro da pesquisa; intervir nas reais necessidades locais com forte participação comunitária; e combinar conhecimento e ação social para a mudança com impacto nas práticas de saúde pública. A CBPRtrabalha com diferentes ferramentas, aqui sugerimos o jornal comunitário. Este instrumento pode ser desenvolvido por múltiplos atores, podendo abarcar diferentes objetivos e funcionalidades no cenário que se insere. No caso da escola do ensino fundamental de uma pequena cidade do estado de São Paulo, esta ferramenta teve como objetivo discutir e ampliar o entendimento sobre as cenas de bullying e o clima escolar, e possibilitar o compartilhamento e expressão livre de ideias acerca dos recorrentes conflitos entre os adolescentes neste cenário. Foram convidados para participar desta atividade 16 adolescentes que possuíam forte influência em sala de aula e segundo os seus pares, caracterizados como “líderes” entre os colegas. O propósito era de que estes estudantes poderiam ser multiplicadores do conhecimento adquirido através desta atividade. O estudo está em andamento e os encontros ocorrem uma vez por semana com duração de uma hora, com período pré-determinado de dois meses para sua execução, de setembro a novembro deste ano. Incialmente, para fortalecer a comunicação e criar um clima descontraído, os estudantes foram convidados a participar de uma roda de conversa acerca da temática “bullying e clima escolar”. De modo subsequente, já no segundo encontro, para confecção do jornal, a seguinte pergunta norteadora foi disparada: “O que pode influenciar positivamente ou negativamente no clima escolar?. A montagem e criação do jornal é aberta e conta com a participação de todos. Para sua operacionalização estão sendo usadas folhas de papel A4, canetinhas, giz de cera, tesouras, cola e revistas. Ao término de cada encontro o grupo discorre sobre o que foi produzido e o que compreendeu acerca de cada colagem e escrita nas páginas, que vão configurando um jornal criativo. A cada encontro a questão norteadora e o conteúdo já elaborado são retomados para o seguimento na produção do jornal. Logo após a finalização do jornal, estes serão impressos e várias copias circularão em toda escola para apresentação do trabalho realizado e também como meio informativo para estudantes e educadores. Para avaliação do impacto desta intervenção, os alunos serão entrevistados individualmente após o término da atividade. Este material será transcrito e analisado posteriormente através da análise de conteúdo. Resultados esperados: Os estudantes têm demonstrado entusiasmo e interesse na confecção do jornal comunitário e há participação e construção colaborativa entre os colegas. Temas variados como orientação sexual, racismo, expressão de gênero, preconceito de classe social e violências comunitárias têm sido manifestados e discutidos pelos estudantes no processo de construção do material. Este instrumento pode ser considerado como possível tecnologia a ser utilizada no contexto escolar, capaz de ampliar o entendimento acerca do bullying, fortalecer a capacidade de ação e resposta a este subtipo de agressão e possivelmente ser catalizadora de processos de mudanças no cenário escolar.