Associação da Rede Unida, Encontro Sudeste 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-10-23
Resumo
Contribuições das enfermeiras negras de destaque na sociedade brasileira para a enfermagem contemporânea
Contributions of prominent black nurses in Brazilian society to contemporary nursing
Contribuciones de prominentes enfermeras negras en la sociedad brasileña a la enfermería contemporánea
Palavras chaves: Grupo com ancestrais do continente africano; Racismo; Enfermagem.
Introdução: Este trabalho tem por finalidade apresentar o legado de enfermeiras negras brasileiras de destaque na profissão a partir de práticas de cuidados em saúde desenvolvidas por elas. Consideramos que a prática de cuidado agregue as questões culturais, experiências vividas ao longo da carreira e da vida. O racismo institucional nega e invisibiliza as mulheres negras na história da profissão de enfermagem. O inicio da enfermagem é marcado a partir das ações assistenciais de Florence Nightingale durante a guerra da Criméia. Esta enfermeira foi responsável por criar a 1ª teoria de enfermagem – teoria ambientalista, que, segundo a autora, “o que a enfermagem tem de fazer, é colocar o paciente na melhor condição para que a natureza aja sobre ele”. Outra grande enfermeira da época foi Mary Seacole ficou conhecida como, “Nightingale Negra” na guerra da Criméia, mas que teve o seu trabalho esquecido não só pela história geral, como também pela própria enfermagem, enfermeira negra, esquecida frente ao preconceito da época. Mary Seacole enviou um pedido de solicitação do gabinete da guerra para atuar como enfermeira, porém inicialmente foi rejeitada devido ao preconceito da participação de mulheres na medicina naquela época, mas ela não foi incluída no grupo de 37 enfermeiras selecionadas por Florence Nightingale para trabalhar no Hospital de Campanha, mesmo tendo cartas de referências de médicos da Jamaica e do Panamá. Com o uso de dinheiro emprestado, foi por conta própria para trabalhar na linha de frente da guerra, cuidando dos soldados feridos em sua própria casa.
No Brasil, em 1932, uma mulher negra, não citada como atuante da prática de cuidados à doentes, conhecida como Maria Soldado, esteve presente na história do país atuando como enfermeira da legião negra na Revolução Constitucionalista, que caiu no esquecimento pela sociedade brasileira perante a sua profissão como Enfermeira. Diante disso, buscamos problematizar: quem são as enfermeiras negras e quais são as suas práticas que marcam a enfermagem no Brasil?
Consideramos que as mulheres negras foram as primeiras cuidadoras do Brasil. O cuidado inicialmente prestado sob o marco histórico da escravatura através das curandeiras, que a partir de seus conhecimentos empíricos, intuitivos e espirituais cuidavam de seus irmãos e das crianças que eles cuidavam dentro da casa onde moravam. As parteiras que atuavam identificando a gravidez e fazendo orientações nas complicações e amas de leite que acompanhavam as crianças em toda sua infância caracterizando uma condição de maternidade.
De acordo com o Instituto Oromilaridade, os cuidados foram estabelecidos historicamente pelos escravos com participações das religiões de matriz africana (Candomblés, Umbandas) trazidas pelos negros, através de seus cultos e preceitos, mantém até hoje uma prática de cuidado particular, baseado na fé por meio de rituais próprios de cada religião.
No caso das mulheres negras, muitas se destacaram na história da profissão, apesar de pouca notoriedade. Por falta de conhecimento da história e falta de valorização das mulheres negras, dos cuidados e pela falta de compreensão, por excluir a historiografia da profissão fatos e memórias, uma vez que a participação da mulher negra na história do cuidado é algo que antecede os cuidados conhecidos por Florence Nightingale. O racismo e o preconceito fabricam histórias únicas, cristalizam estereótipos e representações sociais para o desenvolvimento da enfermagem. Deve-se considerar que é necessário estudos que evidenciem a relação Enfermeiro e paciente no âmbito de relações racistas e preconceituosas que possam interferir na assistência de Enfermagem o que impede o cuidado cidadão humanizado, com olhar holístico. De acordo com as autoras Eucléia e Lorita, “o cuidado pensado autenticamente como existencial, essencial do ser humano, diz respeito a zelo, desvelo, atenção, bom trato e solicitude, constituindo-se, dessa forma, um fundante por meio do qual a pessoa sai de si para se centrar na preocupação com o outro” (Vale, Pagliuca, 2011).
De acordo com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, “O racismo institucional constitui-se na produção sistemática da segregação étnico-racial, nos processos institucionais. Manifesta-se por meio de normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho, resultantes da ignorância, falta de atenção, preconceitos ou estereótipos racistas. Em qualquer caso, sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pela ação das instituições e organizações, a alteração no contexto das trajetórias, omissão de singularidades, negação de fatos históricos e invisibilidade de sujeitos históricos tem como objetivo idealizar uma identidade e como consequência, não atende a representatividade de indivíduos que compõe essa comunidade” (Brasil, 2013).
Objetivo: esse trabalho está em fase inicial e buscará Identificar, a partir da literatura e documentos publicados, as enfermeiras negras de destaque na sociedade brasileira e os legados deixados por elas para a Enfermagem contemporânea.
Metodologia: O presente estudo é de natureza qualitativa, descritiva de essência narrativa que se utiliza do método pesquisa histórica a partir da análise documental com a finalidade de resgate de memórias em um recorte temático. A pesquisa tem por objetivo o resgate do passado para compreensão deste com a perspectiva do entendimento de questões que perduram no presente, e possibilitam projeções futuras. Para essa pesquisa, serão buscados documentos, tais como: matérias de internet, livros, artigos, documentos etc. em bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americano e do Caribe em ciências de Saúde (lilacs), Scientific Eletronic Library online (scielo) e google acadêmico.
Considerações finais: Pode-se de afirmar que essa pesquisa é importante para que, profissionais de saúde saibam que existe racismo institucional e preconceito com a mulher negra na enfermagem. O racismo foi uma fonte norteadora para o esquecimento da história de luta da mulher negra na vida pessoal e profissional, é importante conhecer a história da sua cultura e de seu povo para que não caia no esquecimento um marco histórico de resistência.
Este trabalho tem por finalidade de contribuir para enfermagem ressaltando a importância dos cuidados de enfermagem, olhando com olhar holístico e respeitando a cultura do outro e mostrando a importância das mulheres negras na profissão, os legados deixados para enfermagem contemporânea e suas áreas de atuação.
Referências:
Vale EG, Pagliuca LMF. Construção de um conceito de enfermagem: contribuição para o ensino de graduação. Rev Bras Enferm. 2011: 64:1-8.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa Departamento de Apoio à Gestão. In: Participativa Política Nacional de Saúde Integral da População Negra uma política do SUS. [online]. 2013; Brasília. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra; 2013. p.4-35.