Associação da Rede Unida, Encontro Sudeste 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-11-11
Resumo
RESUMO
Esse texto procura trazer reflexões, a partir de experiências pessoais, em relação à formação em saúde na Residência Multiprofissional em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e problematizar a respeito da Educação Física, de como ela existe e resiste nessa como produtora de cuidado e vida, sem o intuito de exauri-las.
Palavras-chave: Residência Multiprofissional; Educação Física; Práticas Integrativas eComplementares.
A Residência Multiprofissional em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) é um dos programas da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP),o único programa da Comissão de Residência Multiprofissional em Saúde (COREMU) cuja área de concentração éa Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade; os demais são programas hospitalares. Ainda é a primeira e a única residência multiprofissional do Brasil nessa área. Por ser uma proposta de residênciarecente (com três anos e meio de existência) ela ainda está em construção.
São, atualmente, 18 vagas, duas para cada categoria profissional - biologia, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, psicologia e terapia ocupacional. No projeto inicial, havia duas vagas para profissionais graduados em serviço social, porém o Conselho dessa categoria profissional não permitiu que esses profissionais participassem dessa formação e por esse motivoaqueles que já faziam parte foram deslocados para outro programa da COREMU-SMS/SP. A primeira turma de residentes teve início em março de 2016, porém, o edital para a residência saiu apenas no ano seguinte. Nesta turma os profissionais formados em educação física e biologia nãofaziam parte, pois essas duas categorias profissionais não estão presentes nos demais programas de residência multiprofissional da COREMU-SMS/SP. Na segunda turma entraram dois residentes formados em educação física, mas, por motivos diversos, não completaram a formação. Desse modo, não há profissionais de educação física egressos nessa residênciae a minha ainda é a única experiência.
A residência em PICS tem como referência legal a Política Nacional da Atenção Básica (PNAB) e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Assim, a residência pretendeuma formação em saúde a partir das bases filosóficas e conceituais das racionalidades médicas - homeopatia, medicina tradicional chinesa, ayurveda e medicina antroposófica - contribuindo para a integralidade e humanização do cuidado. Nesse sentido, ela amplia e fortalece o campo de atuação da saúde coletiva e da atençãobásica ao trabalhar com um conceito ampliado de saúde, não reduzido às ações assistenciais e aocuidado exclusivamente voltado para o indivíduo. Há que mencionar também a fundamental articulação com as Redes de Atenção à Saúde e com as Políticas, Programas e Projetos da Secretaria Municipal de Saúde e de outras Secretarias da cidade, propondoas práticas integrativas e complementares (PIC[1]) comooutro modo para repensar e reorganizar o processo de trabalho em saúde e, sobretudo, o Sistema Único de Saúde (SUS).
Dessa experiência de formação foram surgindo vários questionamentos a respeito desse processo: como pensar e fazeruma formaçãomais colada às filosofias, aos conceitos e às teorias e metodologiasdas próprias PICs? Como propor experiências diversas com diferentes áreas de formação dos diferentes profissionais?
Cabe destacar que o programa dessa residência foi concebido com caráter inter e transdisciplinar, no qual há uma abertura ao que atravessa e ultrapassa todas as disciplinas, ampliando e criando o campo de saber.
Considerando que a formação em Educação Física está cada vez mais atenta para a necessidade de compor as diferentes ciências – naturais, humanas -, com as humanidades e, sobretudo, com a saúde coletiva, podemos dizer hojeque ela pode instigar os corpos a encontrar e experimentar mais... novas e diferentes relações... seja com os coletivos, seja com os conceitos, seja com as práticas.
Nessa direção, a educação físicase aproxima, conversa, troca e constitui relação com as PICs. As duas juntas tem inventado uma multiplicidade de corpos e diferentes modos de estar no mundo. Entretanto, ainda são mínimos os efeitos desse encontro... e hoje, mais do que nunca, nos vemos atravessados por uma concepção pobre e circunscrita de corpo que nos atravessa e confunde produzindo retrocessos em todos os planos, mas sobretudo no ético e político.
Para onde queremos ir com a formação em PICS? Para todos os cenários de cuidado... com mais discernimento, mais práticas, mais co-responsabilidade... compondo com os outros profissionais e, assim, inventando outros modos de fazer e sentir as vidas que nos passam.
Mas, para a nossa surpresa, o edital de seleção das Residências Multiprofissionais da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo de 2020,publicado em 25 de setembro de 2019, saiu sem as quatro vagas destinadas aos profissionais formadosem biologia e educação física. Defendendo a existência da educação física e da biologia, conseguimos reverter: quase um mês depois, em 21 de outubro de 2019, foi publicada a retificação do documento e, assim, as vagas foram recolocadas no programa…
Trata-se, agora, de qualificarmos nossa existência!
[1] Quando falamos em “práticas integrativas e complementares” (PIC), nos referimos às práticas em cuidado e, “Práticas Integrativas e Complementares em Saúde” (PICS) para nomear o programa de residência multiprofissional.