Associação da Rede Unida, Encontro Sudeste 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-10-27
Resumo
Students perceptions of assistance on domestic gender-based violence in PECA (programa expedições científicas e assistenciais) da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP
Percepción de los estudiantes sobre la asistencia en violencia doméstica de género en PECA (programa expedições científicas y assistenciais) de la Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP
Palavras chave: violência doméstica; relações comunidade-instituição; assistência à saúde; aprendizagem.
Introdução: As necessidades em saúde apresentam-se cada vez mais dinâmica e complexa, traduzidas pelas transformações nos perfis demográficos e epidemiológicos que impactam na dinâmica de vida das pessoas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a violência doméstica de gênero se mostra relevante como um problema de saúde pública, mostrados pelos altos índices de morbidade e mortalidade. Pesquisa realiza em serviços de Atenção Primária à Saúde (Schraiber et al., 2007) mostrou que 40% das usuárias da UBS já sofreram, ao menos uma vez na vida, violência física, e que 34.1% das violências foram perpetradas pelo parceiro íntimo ou familiar. A Lei Maria da Penha (Brasil, 2006) inclui a saúde como parte da rede de enfrentamento e de assistência em violência. Apesar da responsabilidade do setor saúde grande, sabe-se que há grandes dificuldades para que essa assistência seja prestada. Parte se refere à dificuldade dos profissionais de saúde em assumir essa responsabilidade por sentimentos de impotência, preocupação e pelo despreparo na formação para a prática. O atendimento em violência doméstica foi incluído como parte da assistência a ser ofertada a um Programa de Extensão universitária, coordenada por estudantes dos cursos de graduação em enfermagem, fonoaudiologia e medicina, nominado PECA (Programa Expedições Científicas Assistenciais), da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), no ano de 2018, na XIV edição do PECA, na cidade de Araraquara, São Paulo. O ambulatório em violência é nominado CONFAD (Conflitos Familiares Difíceis). Esse espaço tem por finalidade assegurar um espaço de fala sobre a violência sofrida e que seja construído um projeto assistencial que oriente sobre direitos e oferte os serviços da rede para apoiar no enfrentamento da violência (d´Oliveira et al., 2009). Objetivo: Analisar se a experiência vivida dos estudantes pelo ambulatório do CONFAD no PECA contribuiu para a sua formação. Metodologia: esse estudo faz parte de uma pesquisa de PIBC com financiamento CNPq ainda em andamento; esta faz uso da metodologia qualitativa, e que utilizará o método análise de conteúdo (Minayo et al., 2002). As entrevistas foram realizadas com estudantes dos diferentes cursos que participaram do CONFAD na cidade de Araraquara - São Paulo, no período de 23 a 30 de janeiro de 2019. As entrevistas foram agendadas por telefones e realizadas nos espaços da faculdade, entre os meses de março a junho de 2019. Foram entrevistados 10 estudantes. As entrevistas foram gravadas e realizadas após o aceite e a assinatura do Termo de Consentimento Livre. A presente pesquisa foi aprovada pelo CEP da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sob o número do parecer: 3.126.807 e CAAE 04801618.6.0000.5479. Discussão/resultados: Constituíram a pesquisa, discentes dos diferentes cursos de graduação denominados através de planetas, a fim de garantir sua privacidade. Ao todo, foram 10 alunos entrevistados, sendo 9 do sexo feminino e 1 do masculino. A idade média entre os estudantes está na faixa dos 21 anos. Entre eles, 6 alunos cursavam enfermagem e estavam entre o 1° e 4° ano da graduação. Os demais, cursavam medicina e estavam entre o 2° e 5° ano da graduação. Em geral, 7 alunos participaram do PECA e do CONFAD pela primeira vez na edição de 2019. Apesar disso, dois alunos já participaram 2 vezes da expedição assistencial. As entrevistas foram transcritas pela pesquisadora e submetidas a leitura flutuante e, com isso, foram observadas categorias de análise importantes para responder ao objetivo da pesquisa. Até o presente momento, as categorias que apareceram com maior frequência foram respectivamente: interdisciplinaridade, compartilhamento assistencial e escuta ampliada. Além disso, é notável o quanto os discentes compreendem a magnitude de atender realmente o indivíduo de maneira integral, isto é, não contemplar somente uma queixa que lhe foi retratada patologicamente, mas também entender as necessidades em saúde de maneira ampliada. Com isso, produzir uma nova forma de cuidar em saúde e torná-la efetiva. Considerações finais: percebe-se que a participação no CONFAD foi de interesse de todos os estudantes das graduações ofertadas pela FCMSCSP e, parte das análises realizadas até o momento mostra que o CONFAD aparenta ser uma estratégia assistencial que permite refletir o cuidado de maneira interdisciplinar, já que a violência não dispõe de uma ferramenta da saúde para a sua resolução. Com isso, podemos já considerar que o trabalho com temas transversais como a violência, precisa fazer parte da formação, pois se mostra importante para a reflexão de uma prática de cuidado integral, interdisciplinar, transdisciplinar e interprofissional.
Referências Bibliográficas:
Brasil. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. [online]. Brasília (DF); 2006.
d´Oliveira AFPL, Schraiber LB, Handa H, Durand J. Atenção integral à saúde das mulheres em situação de violência de gênero: uma alternativa para a atenção primária em saúde. Ciênc & Saúde coletiva. 2009; 14(4): 1037-50.
Minayo, MCS, Deslandes SF, Neto OC, Gomes R. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 21ª. ed, Rio de Janeiro: Editora Vozes; 2002. p. 74-76.
Schraiber LB, d’OliveiraAFPL; CoutoMT; HanadaH; KissLB; DurandJG; PucciaMI; Andrade MC. Violência contra mulheres entre usuárias de serviços públicos de saúde da Grande São Paulo. Rev. Saúde Pública 2007; 41(3): 359-67.