Eni Carajá Filho

Graduando em Antropologia pela UFMG

Sou Carajá, não tenho nação nem pátria, minha mátria é a terra, pois as autoridades que lá estão não representam a mim e nem representarão.

Esses colonos botas sujas do sangue dos meus avós que em tumulo sagrado, vêem o mundo enraizar surgindo pontos de luz indígenas em todos os cantos do planeta.

Florescem seres partindo da fumaça, causada pela ganância que vê nossa mãe em prantos gritar por sobrevivência de suas filhas e filhos.

Assim arrepiam os algozes, impedindo seu plano crescer, quem desmata mata a vida e nós só queremos respirar para sobreviver.

Esse plano diabólico que tenta a todo custo, retirar as riquezas naturais debaixo de nossos pés e da proteção ancestral, será derrotado a cada segundo de nosso piscar.

Chamei em silêncio você, a tumba redobrou, sussurrou em assovio fino no apito de bambu que o cacique me repassou.

Eu estou a te proteger, não deixe secar a agua, impeça a irmã de morrer.

De novo sussurrei para mãe terra, agora com voz embargada indagando quem é essa irmã que tu me revelas?

O Vento uivante de leve respondeu “ a floresta extensa do mundo, corre risco de viver, homem branco no enlevo da história a sufoca desde o caule até a copa”.

Esses seres que são vivos e naturais estão secando e ficando sem a sombra, o fruto, a castanha que faz ventilar na respiração em permanecer.

Simbolicamente entendi, o oásis é minha visão, que pensado no fundo da mente, nos oferta poder de união.

No ecoar do diálogo e sufoco, meu parente vem logo expressar, nos apitos e maracás, Mãe Terra conosco pode deixar.

Não haverá Marco temporal e nem órgão a nos repreender, Nhanderú que será nossa força, proteger, impedir, contestar.

Debaixo de nossos pés, as raízes entranhadas no chão apontando em agroecologia, não passarão aqueles que trazem o fogo e a matança rotunda.

Não terás a nossa licença, devastar, desmontar aqui não, com Xamã, com Pajé e este povo resistente, nós indígenas damos um basta a provocação.

Ancestral que chegou de fininho, dialogando com meu coração, avisando é preciso de orgulho, preservar a cultura de irmão.

Ao indígena que vive nas ruas, na floresta, no mar e na montanha, nossa honra é de quem a requer, somos indígenas, onde tiver.

Migração não é culpa nem problema, na história exploramos o que é nosso, território sagrado de um povo, na equidade disputa o seu chão.

Dançaremos sim pela chuva, nesta mata Brasil apagar, dançar é uma arte em jogo, na espiritualidade a sempre comemorar.

Sonhos sempre benvindos na aldeia, nas comunidades da selva de pedra, chamam vida e alertam ataques, nos prepararam na vida em cinema.

As barragens que sempre dizimam, repetindo bandeirantes, bacamartes e colonizadores, do autor que preside o lugar, jamais seremos iguais no pensar.

Nós pensamos com sabedoria, apontando a cura do ser, não seremos civilizados a sua forma e o que queremos é o simples direito de viver.

Baixe as armas senhor presidente, ignore o ódio e a imposição, esta terra que sempre foi nossa e não é você que impedirá a nossa germinação.

Exigimos todos os espaços, que nos foram usurpados com sangue, trataremos dessa natureza que está vilipendiada, trazendo vida aos peixes e a fauna.

Mataram os nossos animais, Anglo Gold, Samarco e outras Vale, mas deixaram um ensinamento a sociedade, indígena é ser que resiste e reconstrói.

Rede Unida em foco e noticia, divulgando a sua nação, cota indígena não é concessão, é direito respeite então.

Não queremos apenas ser visto, chegar no ensino geral, permanência com dignidade, cota assim será um bem social.

Conclamo finalizando o Salve Tupã, Ñandesys, Nhanderu, Xamãs, Pajés e as lideranças de cada povo que em mim transforma e determinam viver em alegria.