Associação da Rede Unida, Encontro Sudeste 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-10-28
Resumo
Palavras-chave: Gestão; Saúde e Segurança do Trabalhador; Apoio institucional.
O presente texto tem como objetivo retratar a experiência vivenciada através do Estágio Específico em Psicologia com Ênfase em Gestão, bem como, descrever as práticas adotadas, diante do cenário de uma instituição pública.
A ideia central desse relato de experiência é de discutir e analisar a experimentação do Apoio Institucional como ferramenta de promoção à saúde do trabalhador nos serviços de saúde, diante de uma perspectiva que rompe a dicotomia entre saúde física e saúde mental, considerando a importância de uma construção coletiva de gestão, que propicie novas práticas de “cuidado ao cuidador”.
O foco da intervenção, partiu da experimentação do Apoio Institucional no processo de descentralização das ações de saúde e segurança do trabalhador, partindo do pressuposto de que as funções de gestão se exercem entre sujeitos, baseado na gestão participativa, gerando a inclusão dos indivíduos no processo, resultando na ampliação da implicação e corresponsabilização, desvinculando-se assim, da atuação clássica do psicólogo organizacional, geralmente restrita a recrutamento, seleção e treinamento.
Trata-se de um projeto de intervenção que teve como finalidade atuar, junto ao NAISST (Núcleo de Atenção Integral à Saúde e Segurança do Trabalhador) no processo de implementação das ações de Saúde e Segurança do Trabalhador. Buscou desenvolver ações de descentralização do NAISST, voltadas ao SESMT em uma instituição pública de saúde do Estado de Alagoas. O Hospital Maternidade Público em questão, é um órgão vinculado à UNCISAL, cuja implantação do SESMT é cogerida pela própria unidade hospitalar com apoio do NAISST.
O SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) está estabelecido no artigo 162 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é regulamento pela Norma Regulamentadora – 4 do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE e tem como finalidade promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador em seu local de trabalho.
O NAISST é composto por uma equipe multidisciplinar e tem por finalidade o fomento da Política Universitária de Saúde do Trabalhador. Dentre as ações desenvolvidas por este núcleo, fomos convidadas a conhecer e acompanhar o processo de implantação e implementação de um SESMT descentralizado.
Diante deste contexto, despertou o desejo de desenvolver esse projeto, como parte das ações de estágio, dado sua relevância, tanto para nossa vida profissional, como para a instituição como um todo.
O motivo desta abordagem se deve ao fato de que, os profissionais da saúde, de forma geral, estão estritamente vulneráveis ao desgaste físico e mental, ocasionado tanto pelas condições precárias de trabalho, falta de reconhecimento profissional, contato constante com o sofrimento, entre outros; bem como, pelas dificuldades do âmbito da organização e relações sociais de trabalho no contexto de gestão, que na maioria das vezes, limitam a prática desses profissionais no processo de trabalho, diante de um cenário de insuficiência/deficiência de mecanismos participativos de avaliação, planejamento e decisão (FILHO, 2006).
Nessa esfera de gestão encontram-se vários determinantes do processo de sofrimento e adoecimento dos trabalhadores, propiciando o surgimento de atitudes desgastantes, de negação, recuo, resistência, improvisação, degeneração dos vínculos, entre outros aspectos, os quais podem acarretar consequências nefastas à vida do trabalhador (FILHO,2006).
Encontra-se na literatura, referências ao exercício da função apoio; um método de intervenção institucional que se coloca no lugar do entre e que se ampara na perspectiva da Política Nacional de Humanização - PNH (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003). Essa postura metodológica está pautada na construção solidária e dialógica, que permite efetivar a participação dos trabalhadores. Para tal, não se pode negar a necessidade da manutenção de uma clareza de que o apoiador ocupa um lugar institucional, que não o de parte da equipe, mas também que não o de consultor ou supervisor.
Nessa experiência de estágio, buscou-se analisar como o apoio institucional pode intervir no sentido do realinhamento dos processos de gestão a partir de uma proposta da promoção de saúde ao trabalhador dos serviços de saúde, apoiando-se nos princípios de participação, democracia e cidadania.
Para tal, adotamos como metodologia a pesquisa teórico-conceitual, classificada como pesquisa bibliográfica, que está ligada a revisão de materiais publicados, com o intuito de analisar diversas opiniões a cerca de um determinado assunto (GIL, 2010).
As práticas interventivas foram estabelecidas com base em levantamento de necessidades no decorrer de supervisões, reuniões e leituras de referenciais teóricos vinculados à temática.
Neste sentido, e a partir da percepção da importância da coexistência tanto das ações de aprimoramento da gestão do trabalho do SEMST, quanto da experimentação de desenvolvimento de pessoas, com ênfase na promoção da saúde do trabalhador, buscou-se estruturar o conjunto de intervenções em dois eixos, a partir das características das ações, ficando, portanto, assim distribuídas: Eixo 1: prevenção e promoção a saúde no processo de implementação do Nutrisaúde; Eixo 2: Apoio Institucional no processo de gestão do trabalho do SESMT, a partir da realização de diagnóstico institucional.
Após as práticas, os servidores verbalizaram e demonstraram a satisfação em serem contemplados pelas atividades, tendo em vista, que jamais haviam presenciado momentos semelhantes, sendo motivados a expor seu ponto de vista, frente à realidade daquela instituição.
O exercício da oficina se constitui como função apoio, conforme referido na literatura (OLIVEIRA, 2010), colaborando para criação de espaços coletivos de fala e circulação da palavra, possibilitando a análise de situações e a tomada de decisões conjuntas. Função apoio esta que se constitui num método de intervenção institucional que se coloca no lugar do ‘entre’ e que se ampara na perspectiva da PNH, visando ampliar a capacidade de reflexão, compreensão e análise de coletivos, fundamentada nos princípios da transversalidade; indissociabilidade entre as práticas de gestão e atenção; protagonismo, coresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos (BRASIL, 2004).
Enfatizou-se, neste projeto, a importância da inclusão dos indivíduos no processo de cogestão das rotinas de trabalho, a partir da promoção de espaços compartilhados como rodas de conversa e reuniões de equipe, favorecendo a estruturação dos serviços, o redesenho dos fluxos, a troca de saberes envolvendo os diferentes segmentos de atores, bem como reforçando a importância da compreensão da priorização da implementação das políticas e práticas de saúde e segurança do trabalhador no âmbito da gestão de pessoas e da psicologia organizacional e do trabalho.
Assim, a utilização desta metodologia proporcionou o envolvimento e empoderamento de todos envolvidos no processo, os quais passam a ser vistos não apenas como executores dos processos, mas também cogestores, atores ativos e responsáveis pela continuação do que já foi estabelecido.