Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Campos de forças nas relações micropolíticas do Consultório na Rua em Londrina-PR
Luiz Gustavo Duarte, Maira Sayuri Sakay Bortoletto

Última alteração: 2019-08-12

Resumo


Pessoas que utilizam a rua como sua moradia fazem parte de um acontecimento que não é exclusivo da contemporaneidade, estando presentes em outros momentos da história das cidades, contudo no capitalismo atual sob a prática do neoliberalismo essa expressão do viver na rua se particulariza, podendo ser compreendida sob a ótica da exclusão social resultante de um processo de desigualdade. Pela natureza da agenda neoliberal essa multidão de viventes da rua sofre um vácuo da atuação de políticas públicas, visto que estas são recentes e permeadas por uma disputa de poderes através de campos de força presentes também em níveis micropolíticos. Um marco foi a Política Nacional para População em Situação de Rua (PNPSR) de 2009 que após a publicação teve eco na saúde pelo Ministério da Saúde quando em 2011 cria o Consultório na Rua (CnaR). Dada a recente criação do CnaR, este estudo resultante de um recorte de uma dissertação de mestrado, teve como objetivo reconhecer um dos campos de força que permearam a implantação do CnaR no município de Londrina-PR. Para tal partiu-se de uma investigação genealógica na busca de pistas que permitissem vislumbrar os campos de força. Essa investigação foi realizada através de entrevistas realizadas pelo pesquisador, documentos oficiais, reportagens jornalísticas, atas de conselhos e comissões além de visitas a campo.  Como resultados foi possível observar dentro da implantação do CnaR em Londrina em 2012, um campo de força que possuía forte agenciamento do saber psiquiátrico para a formação de um CnaR atuante como um equipamento próprio da “saúde mental”. Isso é exemplificado na implantação do consultório, a qual se deu pela diretoria responsável pela saúde mental no município (Diretoria de Serviços Complementares em Saúde) contrariando a própria política ministerial que já havia estabelecido o CnaR como parte da atenção básica. Esse reconhecimento do serviço como um integrante da saúde mental é exposto especialmente por agentes exteriores ao CnaR. A mudança do CnaR para atenção básica no município ocorreu em 2016, e apesar de não alterar a natureza do funcionamento, sempre foi reiterada em entrevistas. Essa diferenciação representada por uma ruptura interiorizada nos atores expõe o reconhecimento da força do CnaR como especialidade, que idealmente deve atuar sobre um corpo a ser controlado pelo saber psiquiátrico e por conseguinte excludente e docilizado. Este campo de força atua em um valor pautado em dicotomias normais/anormais, ou em uma análise mais esmiuçada, portadores do desejo/não-desejantes, e nessa busca dicotomizante o oposto não é reconhecido como desejante, ou seja, um não-humano. A força citada não é única presente, sendo apenas um dos campos que permeiam as micropolíticas do CnaR na sua criação e funcionamento, contudo ela se encontra em um dos elementos que permitem introduzir a discussão sobre como o valor do valor atua nos agires e direcionamentos dos equipamentos de saúde, na medida em que estes subjetivam-se  de modo a se tornarem um dos elementos na disputa sobre o CnaR, seja diretamente nos envolvidos ou mesmo indiretamente através das relacões por outros equipamentos públicos ou outros agentes.