Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A produção musical nos movimentos LGBT: uma análise afetiva
Flávia Marina da Silva Lopes, Sonia Regina Vargas Mansano

Última alteração: 2019-07-22

Resumo


A partir do individualismo disseminado pelo sistema econômico vigente, a indiferença frente às relações sociais, políticas e afetivas tem se tornado cada vez mais evidente. Nesse sentido, a noção de sustentabilidade afetiva, compreendida como a potência para acolher e experimentar os afetos díspares emergentes nos encontros serve como uma espécie de denúncia sobre a dificuldade relacional tão premente em nosso social. O Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT) surge em nosso país como uma luta social pelo o reconhecimento dos direito desses sujeitos que, por vezes, são avaliados como corpos abjetos. O Movimento sustenta a expressão dos desejos para além da matriz cultural heteronormativa e possibilita a visibilidade de outros modos de vida diferentes daqueles disseminados pelos padrões vigentes. Uma de suas estratégias de luta é a arte, principalmente a arte musical, que se torna uma aliada para disseminação de ideias, sensibilidades, diferenças, experiências e modos de viver. Tomando esse Movimento em consideração, esta pesquisa qualitativa teve por objetivo cartografar e analisar a sustentabilidade afetiva presente em músicas produzidas pela comunidade LGBT que questionam a matriz cultural heteronormativa e incentivam novas formas de existência. A partir deste objetivo, como estratégia metodológica foram selecionadas letras de música que tematizam o cotidiano desta população sob um viés afetivo e crítico. Os dados coletados foram então divididos três eixos de análise: 1. Denúncias de LGBTfobia, no qual as músicas analisadas traziam relatos de violência; 2. Belezas na luta, apresentando  letras que relatavam a potência bons encontros; e, por último, 3. A arte em resistir, com canções que tematizavam a arte enquanto um processo de criação e de resistência ao modo social adoecido por preconceitos, exclusões e discriminações. Sob o referencial teórico da Psicologia Social, analisou-se como o Movimento LGBT, por meio destas músicas, contribui para disseminar uma sustentabilidade afetiva, acolhendo a complexidade das relações humanas com seus desdobramentos em diferentes nuances. Como conclusão parcial, foi possível compreender a importância da arte como ferramenta de denúncia da violência dirigida a essa população. Pode-se constatar  também como a arte promove encontros de experimentação e resistência uma vez que, em diversos momentos da história, ela foi utilizada politicamente por grupos marginalizados para denunciar práticas de autoritarismo que ganharam visibilidade no âmbito macropolítico de nosso país. Ao final da pesquisa, foi possível constatar que a arte, em sua interface com a sustentabilidade afetiva, engendra práticas de cuidado consigo e com o outro. Tal interface coopera para chamar atenção dos profissionais da saúde sobre a importância do corpo e da sua potência de afetação. Conclui-se, assim, que resistir ao individualismo vigente em nossa sociedade é um de nossos principais desafios como profissionais da saúde e implica abrir possibilidades de encontros, evidenciando o seu caráter político e potencializador dos mesmos.