Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Recovery na saúde mental brasileira: uma análise crítica de sua transposição.
Daniela Ravelli Cabrini

Última alteração: 2019-08-02

Resumo


O estudo proposto está situado no campo das ciências humanas; de natureza bibliográfica exploratória. Tem como objetivo realizar uma análise crítica sobre emprego da abordagem Recovery no campo da Atenção Psicossocial. Políticas de saúde internacionais constituem campos de influência para a Reforma Psiquiátrica Brasileira desde seus primórdios. Após três décadas de pesquisa, experimentação, e efetivação de programas, a política Recovery tem sido referência para projetos e políticas de saúde mentais semelhantes ao redor do mundo. Com ênfase na produção de autonomia dos usuários, a abordagem anglo saxônica pode compor o conjunto de influências que permitam avançar na consolidação de serviços e práticas que tenham como objetivos últimos à produção de vida e a recuperação de pessoas com problemas graves de saúde mental. Recentemente, há um crescente interesse na discussão sobre essa temática no âmbito da saúde mental brasileira, ainda que incipiente, envolvendo pesquisadores, profissionais da saúde, usuários e familiares. Têm se compreendido que o Recovery compartilha princípios, valores e práticas semelhantes a conquistada pela Atenção Psicossocial. Contudo, o seguinte trabalho se propõe a realizar uma análise crítica sobre os riscos de uma transposição mecânica dessa abordagem ao cenário brasileiro; visto que ela se desenvolve a partir do seu contexto histórico anglo-saxônico. Para tanto, o estudo proposto se pautará na discussão do sociólogo Nikolas Rose (2018); Ele nos alerta para uma contradição presente quando se incorpora termos como empoderamento, engajamento e autonomia  nos serviços de saúde. Sua tese aponta que a ideia de promover os usuários a serem “empreendedores de seu próprio destino”, condiz perfeitamente com racionalidades e tecnologias do neoliberalismo; terreno qual a política de Recovery ganhou tração. Destarte, essa pesquisa reconhece a relevância de estratégias de empoderamento aos usuários, oriundas das propostas do Recovery, para o avanço da Atenção Psicossocial Brasileira. Contudo, ela levanta questões para que essas experiências não percam do horizonte mudanças sistemáticas e estruturais necessárias para romper com as relações de poder dentro dos serviços de saúde.