Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2019-08-07
Resumo
Apresentação: Objetivou-se mostrar a construção do cartógrafo durante uma pesquisa vinculada ao projeto de extensão que realiza intervenções artísticas (contação de histórias, música, artesanato e palhaçaria) com usuários do hospital. Desenvolvimento: Para se construir cartógrafa a pesquisadora misturou-se com estudantes. Na cartografia o pesquisador e pesquisado são os mesmos, necessita-se trabalhar afetos, implicar-se e colocar seu ato e a si mesmo em análise. Para se implicar a pesquisadora participou de todos os processos de capacitação. Por meio deles produziu-se palhaça, contadora, artesã e musicista e executou cuidado por meio da arte. Colocou seu corpo vibrátil nas cenas, permitindo a passagem dos afetos. Resultados: Traremos uma cena que expressa a multiplicidade em nós. A pesquisadora estava em seu devir palhaça-cartógrafa e estávamos na enfermaria, como de costume fizemos o primeiro contato na porta, para checar se havia desejo da interação. Haviam 3 mulheres naquele quarto, uma delas contida no leito (usuária em crise delirante). Quando chegamos na porta houve o pedido para que não estrássemos, pois nossa caracterização de palhaço poderia deixá-la agitada. Logo em seguida ao nos ver, mesmo contida tentou sair do leito, o que fez com que o acesso em seu braço fosse puxado, ela parecia sentir dor, mas seguia puxando e falando coisas que não conseguíamos entender. O afeto foi angustiante nessa cena, pedimos a ela que não puxasse o acesso mas não adiantou. A pesquisadora tem corpo psicóloga, e naquele momento, esse corpo foi agenciado a prestar atendimento, mas, seu lugar era o de cartógrafa, havia pactuado um modo de operar dentro do grupo, então voltou-se às colegas para saber como desejavam agir, respondem que é melhor ir embora, pois uma profissional da enfermagem já estava a caminho para atender a usuária, e nós poderíamos fazê-la ficar agitada novamente. Então a pesquisadora, precisou misturar-se ainda mais ao campo e atuar como cartógrafa e permitir a passagem da intensidade que se formava ali, operando como palhaça, aceitando que aquele não era o melhor momento para interação, e deixar a psicóloga calada. Para formar-se cartógrafa a pesquisadora precisou trabalhar na sua multiplicidade de psicóloga e palhaça entre tantas outras. Nos processos de capacitação adquiriu as ferramentas para construir seu devir palhaça. Compôs essas ferramentas com as que já carregava em sua vida. Mas quem foi ao campo não era somente a palhaça, mas sim o ser múltiplo. Considerações Finais: O cartógrafo deve aprender a utilizar suas ferramentas na composição de “eus”, conforme o pedido de cuidado. Isso pode gerar angústia, mas também potência no exercício da multiplicidade, aprendendo qual ferramenta usar em cada momento, deixar passar os afetos e perceber a cartografia que se forma na cena. Ser cartógrafo implica entrar, estar e sair do campo, processos que necessitam cuidado, na entrada deve-se aprender a compor, trabalhar a multiplicidade, embrenhar-se, no processo é necessário prudência e atenção com a composição de novos “eus” tanto da pesquisadora como dos demais envolvidos, na saída saber trabalhar os novos afetos e o novo eu que se compõe.