Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Simplicidade e sensibilidade: o cuidado pelo Sensibilizarte
Flávia Maria Araujo, Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Alberto Durán González

Última alteração: 2019-07-22

Resumo


Apresentação: esse trabalho aborda o cuidado por meio da ferramenta artística e do sensível. Seu objetivo foi cartografar a potência de vida gerada no cuidado praticado por essa via. Desenvolvimento: o campo de pesquisa foi um projeto de extensão que promove cuidado por meio da arte aos usuários de um hospital público, o Sensibilizarte. A pesquisadora realizou uma pesquisa cartográfica vivenciando o exercício desse modo de cuidar, construiu- se como discente através da participação em todas as capacitações realizadas pelo projeto, e executou as atividades em conjunto dentro do hospital. Há quatro frentes de trabalho: palhaçaria, contação de histórias, artesanato e música, cada uma com capacitações e atividades específicas. A cartografia coloca o pesquisador dentro do campo e vivendo os afetos que o perpassam, o pesquisador se constitui como igual às demais pessoas no campo e o conhecimento passa pelo corpo dele também. Resultados: a cena a seguir mostra uma das vivências da pesquisadora com os estudantes, nesse momento estava em seu devir palhaça na enfermaria adulto. Ates de entrar, um primeiro contato é sempre estabelecido na porta, a interação começa apenas depois da permissão concedida pelo usuário, caso ela não exista a interação não ocorre. Nesse dia havia uma mulher internada que estava recebendo atendimento de uma técnica de enfermagem no momento em que chegamos. Ao lado do leito da usuária havia uma garrafa cheia com amostra de urina, pois ela estava realizando um exame que necessitava amostras em tempos regulares. No início da interação, uma das colegas palhaças diz que havia tomado um “suco” pela manhã, igual àquele que estava na garrafa, a mulher dona da amostra e a técnica ao lado dela então começaram uma gargalhada imensa, que durou alguns minutos, e elas diziam “foi você, foi você!”. Todos rimos com elas, a gargalhada chamou atenção, porque provocou muita comoção, quando finalmente conseguiram parar de rir a mulher e a técnica explicaram que uma das amostras havia sido perdida e a usuária necessitou fazer outra, o que a deixou bastante irritada e assim estava no momento em que chegamos, mas com aquela pequena subversão da realidade feita pela palhaça a usuária conseguiu relaxar e sentir-se bem. Considerações finais: o encontro que se deu na cena entre os palhaços, a usuária e a profissional proporcionou cuidado a todos, pois elas estavam em um momento de tensão, com o sumiço da amostra e a irritação da usuária. Os palhaços chegaram devagar, pedindo permissão, valorizando o desejo das pessoas ali presentes, e com uma simples intervenção na realidade que estava posta conseguiram fazer uma virada, uma dobra na tensão e transformá-la em um momento de riso, de encontro feliz, de potência de vida dentro de uma situação difícil. Com sensibilidade para perceber a sutiliza do momento de falar, criamos oportunidade para um momento de alegria, o que é muito precioso para uma experiência de internação em que isso é raro. Saímos do encontro com uma paixão alegre, felizes, sentindo nossa potência de viver e cuidar aumentada.