Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Grupos Balint como ferramenta de produção do cuidado em saúde.
paulo viktor ribeiro

Última alteração: 2019-07-29

Resumo


Apresentação: Este trabalho reflete sobre a implantação de Grupos Balint na formação de Médicos de Família e Comunidade (MFC) em Londrina -  PR como ferramenta de produção de cuidado em saúde.

Desenvolvimento do trabalho: Michel Balint (1896-1970) foi um psicanalista húngaro que desenvolveu seu pensamento a partir da observação de seus grupos de pesquisa com MFC durante a década de 50 na Inglaterra, quando escreveu sua mais conhecida obra O Médico, Seu Paciente e a Doença. Seus grupos objetivam compartilhar as dificuldades intrínsecas à atividade clínica e assistencial, em especial questões complexas que emergem do encontro entre profissionais de saúde e pacientes. Através deles, busca-se avançar na produção de subjetividades, ouvindo as vozes presentes e compreendendo o que se passa nesta relação, sobretudo os aspectos de transferência e contratransferência. É um método com objetivo principal de aumentar a capacidade de escuta e de compreensão psicológica dos profissionais de saúde, buscando compreender o potencial terapêutico e patogênico da relação profissional de saúde - pessoa. Uma vez que, segundo Balint, a droga mais frequentemente utilizada na clínica geral é o próprio médico. No entanto, ainda não existe nenhum tipo de farmacologia a respeito de tal substância, referências a cerca de sua apresentação ou posologia, muito menos com relação a seus potenciais efeitos colaterais.

Assim como na Inglaterra pós-guerra da década de 50, hoje, no Brasil, grande parte dos profissionais de saúde atuam em comunidades marcadas pela violência, dor e escassez dos mínimos recursos para uma vida digna, o que determina distintos processos de adoecimento e pode intensificar as tensões nas relações dos profissionais de saúde com a comunidade. Fatos esses que justificam a importância da difusão dos Grupos Balint na formação dos profissionais que atuarão longitudinalmente na Atenção Primária em Saúde do SUS.

Resultados e/ou impactos: A Residência em Medicina de Família e Comunidade do programa da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina mantém um Grupo Balint ativo. São realizados encontros periódicos desde 2018 promovendo reflexões acerca do potencial intersubjetivo envolvido no encontro entre médico-pessoa e apresenta resultados animadores, vide relato dos participantes: “O Grupo Balint abriu em mim muitas janelas que eu nem sabia que existiam. Me fez crescer enquanto pessoa, profissional da saúde, educadora e me enxergar diferente enquanto paciente. ” e “Nosso primeiro encontro foi muito diferente do que imaginava. Conheci novas perspectivas através do olhar dos colegas. ” Destaca-se ainda a importância de expansão desses grupos para graduação e a outras categorias de atuação na saúde.

Considerações finais: Ao se debruçar sobre os aspectos subconscientes da relação profissional de saúde – pessoa, os Grupos Balint atuam como importante ferramenta na formação desses profissionais, criando um espaço seguro para reflexão emocional de casos difíceis. Além disso, abre novas rotas reflexivas e amplia significados, promovendo as ferramentas relacionais e a empatia dos participantes. Além de ser uma ferramenta potencial na prevenção do burnout profissional e relevante contra o processo de medicalização social imposto pela racionalidade biomédica.