Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MULHERES NA RUA: PRODUÇÃO DE CUIDADO E ATRAVESSAMENTOS FEMINISTAS
Luana Marçon, Cathana Freitas

Última alteração: 2019-07-29

Resumo


Esta pesquisa foi produzida a partir do desdobramento do Projeto de Extensão: Entre a Clínica a Arte e a Cidadania - Oficinas de Arte com a População em Situação de Rua, uma parceria entre o Coletivo Conexões e o Consultório na Rua do município de Campinas, a partir desse projeto foi possível experimentar distintos formatos de trabalho usando a Arte como disparador junto a pessoas que vivem na Rua. Intervir na Rua levou-nos à observação do tema da invisibilidade das mulheres em situação de Rua. Durante as intervenções de campo nas próprias rodas de música, vivenciadas pelo projeto de extensão destacado anteriormente, e nas reuniões de debate com a equipe do CnaR, percebemos que a aproximação das mulheres era tímida demais. Havia uma questão de gênero clara na participação e seria importante abrir novos espaços de prática e escuta que dessem passagem à situação “ser mulher” e “estar na Rua”. O desenvolvimento de uma cartografia sobre o cuidado das mulheres na Rua foi a opção de ação que nos pareceu mais adequada, considerando que os efeitos da entrada e formação deste campo de visibilidade das mulheres na Rua foi o que tomou corpo durante a construção cartográfica deste processo. Desta maneira, fomos semanalmente a Rua junto ao CnRua com intuito de exploração da arte, e abertura de espaços cartográficos na paisagem do centro da cidade. Utilizamos como dispositivo uma lona no chão com um grande tecido para pintura coletiva: “o pano de chão”, que vinha acompanhado de tintas e materiais para a escrita e expressão artística. Esse tecido retornava semanalmente quando voltávamos ao campo e convidamos as mulheres a expressar sua arte, colocar sua voz para produção de uma intervenção e um “saber” sobre ser mulher e estar na Rua. A experiência foi registrada através de diários de campo, fotografias e o registro gráfico feito por quem participou da atividade. Nossos achados de pesquisa convergem aqui com as perspectivas feministas que tem se voltado para a desconstrução da Mulher universal desenvolvida dentro de uma perspectiva iluminista e liberal, tensionar tal narrativa nos leva a rupturas em relação às verdades produzidas sobre as mulheres, que as mulheres na Rua nos ajudam as desvelar.  Um dos esforços contra as narrativas homogeneizantes é que essa é uma intervenção feita a partir do corpo, corpo que escreve, corpo que ocupa a Rua, corpos que encontram outros corpos, corpos que em sido disciplinados a partir das normativas de gênero e corpos que têm produzido resistência. Nesta pesquisa buscamos colocar em evidência a existência de outras formas de composição da subjetividade feminina que converge com a percepção da existência de um governo social patriarcal e androcêntrico, que os feminismos nos ajudam a construir/desconstruir, investigamos como se efetuam as relações de poder, subjetivação e produção de verdade sobre as mulheres, explorando no processo o modo com que o exercício de poder se efetua na Rua.