Associação da Rede Unida, Encontro Sul 2019

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA: OLHAR PARA VULNERABILIDADE SOCIAL E A RELAÇÃO DE PODER
Sérgio Kazuyoshi Fuji

Última alteração: 2019-07-30

Resumo


As vulnerabilidades sociais tem sido foco das políticas sociais, principalmente a política pública de assistência social no Brasil, que prevê os trabalhos em níveis de proteção social, na perspectiva da garantia de direitos sociais para uma determinada parcela da população. Conceitualmente, as vulnerabilidades sociais vêm sendo debatida também em diversas áreas do conhecimento como as ciências sociais, serviço social, áreas afetas à saúde entre outras, principalmente a partir dos anos 1990. Este tema se apresenta como uma demanda complexa e multifacetada e exige ao mesmo tempo compreender seus significados por meio de um olhar crítico e desnaturalizante sobre a realidade, no qual foi sendo historicamente edificada e instituída, e também certa sensibilidade quanto à emergência de sujeitos e insurgência de novas reivindicações quanto à idéia de direitos humanos e direitos sociais na sociedade contemporânea. O presente trabalho pretende refletir sobre a interface da psicologia social crítica e as vulnerabilidades sociais, tendo como pano fundo as discussões sobre biopolítica e necropolítica, compreendendo a emergência do sujeito e as relações de poder em jogo neste contexto. As vulnerabilidades sociais nesse sentido nos levam a mirar uma realidade conflituosa e adversa, sob uma ótica de controle e de poder sobre as populações de modo desigual, política, econômica e socialmente falando, o que pode nos trazer algumas perspectivas sobre os modos de subjetivação, que se pautam nos corpos descartáveis, sem valor, desinvestidos, numa política de morte sobre as massas. Na América latina, a necropolítica tem sido historicamente reproduzida desde o período colonial até os dias de hoje. A exploração da mão de obra, expropriação cultural, simbólica e territorial, e o uso excessivo da violência são marcas de uma política de morte sobre os povos, principalmente as camadas mais populares. No Brasil, vale destacar, não suficiente a barbárie, os retrocessos vividos hoje pelo crescente conservadorismo político, religioso e moral, a violência tem se voltado também através de práticas homofóbicas, racistas, machistas, xenofóbicas, de intolerância religiosa, amparadas por governos reacionários e de extrema direita. As marcas provocadas por essas práticas sociais ficam inscritas nas histórias, no corpo e na memória dos sofreram e sofrem com a violência e seus efeitos são geracionais e permanentes, o que não significa uma vitimização do sujeito, pelo contrário, representa o ponto de partida para criação de linhas de resistências contra esses discursos e práticas sociais, e a construção de outras potências de vida possíveis. A psicologia social vem adentrando cada vez mais nesse emaranhado e complexo contexto, e para buscar somar forças na desconstrução de discursos e práticas naturalizantes, normatizadoras, estigmatizantes e de exclusão social, tem sentido a necessidade de se reinvertar e de construir alternativas críticas e criativas para esta problemática. Muitas questões se abrem e nos colocam diante de impasses, que num primeiro momento nos despontencializa e provoca estranhamentos, contudo, é a partir deste momento também que podemos nos conscientizar ampliando a discussão, além de romper com forças que nos patologizam, nos medicalizam, nos criminalizam, nos discriminam, nos invisibilizam, e nos descartam.