Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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RELATO DE EXPERIÊNCIA DA FORMAÇÃO AO EXERCÍCIO DA TUTORIA EM EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE
Juleimar Soares Coelho de Amorim

Última alteração: 2017-12-17

Resumo


APRESENTAÇÃO

O Ministério da Saúde (MS) instituiu a política de Educação Permanente em Saúde (EPS) como estratégia de transformação das práticas de saúde e de formação dos profissionais e criou os pólos de EPS, como instância locoregionais. Dessa forma, como estratégia de fortalecimento da implementação da EPS iniciou-se a formação de tutores e facilitadores de EPS em todo o país, recentemente.

O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência do percurso histórico-metodológico da formação e da tutoria em Educação Permanente em Saúde do curso de Formação Integral Multiprofissional EPS em Movimento. Busco discutir os desafios e os avanços da construção coletiva do curso, as ferramentas pedagógicas, bem como as limitações persistentes por parte do curso, dos participantes e do modelo de educação na saúde no mundo do trabalho.

DESENVOLVIMENTO

Percurso Histórico-Metodológico

Encontro inserido dentro do programa de formação de mediadores de EPS que ocorre nas 435 regiões de saúde do país, pelo qual envolve o aperfeiçoamento e a especialização de atores sociais do trabalho em saúde, especialmente tutores, formadores e trabalhadores em saúde para o exercício qualificado da EPS. Adoto uma posição autorreflexiva para o relato da experiência no Curso de Especialização Educação Permanente em Saúde em Movimento. Participo da primeira turma de formadores, tutores e alunos deste curso, de incorporação da modalidade de ensino a distância (EAD) e presencial ao processo de educação permanente de profissionais do SUS. Em sequência ao período especialmente dedicado à aproximação da EPS (denominado de formação), qualificado como tutor contribui para a especialização de 10 trabalhadores especializandos.

 

Ferramentas Pedagógicas

Foi escolhido para o primeiro encontro um ambiente acadêmico (espaço da sala de aula) em que tutor e aluno eram convidados a desenvolverem narrativas para os encontros presenciais de acordo com as temáticas propostas. Foram propostas “Ofertas” que subsidiaram a experimentação dos atores, que incluíram textos científicos, vídeos, imagens, fotografias, relato de experiências e reflexões sobre a EPS. Através das “Entradas” acessamos os conteúdos teóricos, documentos formativos e textos de problematização. Havia um material didático disponível previamente ao início do curso, ofertado pela equipe gestora, com situações-problemas comuns aos trabalhadores do SUS e que encorajava novas produções no grupo de discussão.

 

RESULTADOS

O período de formação dos tutores foi importante para apreensão da temática, compreensão dos contextos e para despertar “radares” da EPS no cenário de trabalho conforme inserção dos trabalhadores do SUS. Deparei com estranhamento da temática ao compreendê-la como percurso do trabalho. Enquanto tutor exerci função dúbia, ora dedicava a desenvolver a EPS em meu mundo do trabalho, ora experimentava a tutoria com dez trabalhadores da saúde e o maior desafio foi de sempre buscar na prática do meu trabalho a fundamentação para elaboração de novos aprendizados teóricos, e ao mesmo tempo conduzir um grupo de especializando para esta mesma lógica.

Foram frequentes as queixas dos especializandos e tutores (no período de formação) sobre o projeto pedagógico não ser propositivo nas atividades rotineiras teóricas do tipo pergunta e resposta, leitura de textos ou produção de trabalhos acadêmicos. Houve estranhamento nos momentos iniciais entre nós participantes, uma vez que a proposta era de percorrer o caminho da prática para a teoria. Os espaços criados na plataforma estiveram abertos e coletivos, em uma sensação de vazio, no entanto, exigiram dos formadores, tutores e alunos contribuições para torná-la atrativa e numerosa de experiências. Justamente nesse âmbito a EPS busca produzir, pedagogicamente, certo desconforto com o que se sabe, um incômodo ante a necessidade de saber para agir.

A liberdade proposta no projeto pedagógico e vivenciada na plataforma encontrou inicialmente uma desmotivação pelos participantes, pois o projeto não previa direcionalidade da construção do conhecimento. Aos tutores um desafio estabelecido durante o processo foi a ativação do "radar" dos alunos para identificação de brechas para mudanças no cotidiano, bem como a conceituação pedagógica da EPS e o rompimento com a educação bancária. A estratégia pedagógica adotada na iniciativa desse curso foi contrária aos cursos de capacitação centrados no “modelo escolar” de ensino-aprendizagem.

Por meio dos encontros presenciais, foi possível discutir as experiências vividas e os temas foram: a institucionalização da EPS, educação continuada versus educação permanente, metodologias de ensino e aprendizagem, dificuldades do serviço (prática) atender as necessidades da academia (a universidade - teoria), reconhecimento da EPS no dia a dia do trabalho. Porém, fortaleceu-se o “ambiente escolar de aprendizagem” para agregar as pessoas em torno da discussão de uma temática, de estabelecer pactuações para o desenvolvimento do curso e também de avaliar os recursos da plataforma virtual e os próprios participantes. De igual modo, os encontros foram importantes para fomentar o desejo de continuar na especialização e de recriar novos movimentos de EPS no ambiente de trabalho.

Por excelência, a Plataforma Otics foi o espaço para navegação nas diversas ferramentas pedagógicas, como o varal de cenas, ofertas, entradas, caixa de afecções, diário cartográfico, fórum e chat. A plataforma era simples de manusear, mas pouco facilitava a interatividade, mesmo com apoio do formador/tutor para tirar dúvidas, partilhar informações e experiências. Não foi possível estabelecer uma rede de conversação síncrona entre os tutores-tutores, tutores-formadores e tutores-alunos, pois cada participante entrava em momento distinto e houve lentidão na velocidade de processamento dos dados. Essa dificuldade desmotivou o grupo e repercutiu por um período em poucos acessos e gerou em mim um desestímulo. Para que atitudes de interesse e motivação fossem despertadas nos sujeitos foi preciso que estes se identificassem com o objeto de conhecimento.

Observei dificuldades relacionadas à EAD e à falta de habilidade de alguns participantes no uso do computador, como utilizar a tecnologia disponibilizada na plataforma, o que resultou em mais tempo para aprender a utilizar essa tecnologia, do que propriamente a caminhar seu processo de EPS. Consequentemente, isso foi alvo de queixas nas avaliações realizadas pelos alunos e tutores. A lentidão na velocidade de processamento e as mudanças que ocorreram na organização e estruturação da plataforma durante o percurso, fizeram com que nós (tutores e os alunos) contribuíssemos menos as experiências, frequentássemos menos o ambiente virtual e assim, houve um comprometimento ao partilhar as experiências e a interação entre os mesmos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência vivenciada no curso EPS em Movimento foi exitosa, desafiadora e dúbia, destaco a importância do primeiro encontro presencial para constituição do vínculo e da grupalidade. Os encontros reais intercalados contribuem para manter a motivação, assim como as redes sociais e aplicativos de celulares. O exercício da narrativa sobre o cenário de trabalho pode auxiliar os participantes a construírem uma nova prática pedagógica. Os fóruns e a abertura da caixa de afecções otimizaram a aproximação de cada um dos alunos, respondendo/dialogando com as necessidades, experiências de cada um e a ativação de movimentos que favoreceram a construção coletiva de saberes. As avaliações periódicas e o TCC customizado para relatos da prática de trabalho permitiu acompanhar os avanços no processo de ensino e aprendizagem voltados para as necessidades individuais. Saber lidar com as pessoas é uma característica essencial, sobretudo, pela necessidade de incentivar a equipe e a gestão a acreditarem na EPS enquanto estratégia de mudança.


Palavras-chave


Educação em Saúde. Educação a Distância. Sistema Único de Saúde. Saúde Pública. Política de Educação Superior.