Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A REPRESENTAÇÃO NA ARTE DA RELAÇÃO MÉDICO X PACIENTE
Sonia Monego, Marinilse Netto, Carlos Antonio Ciprandi

Última alteração: 2017-12-27

Resumo


Desde os tempos de Hipócrates a relação médico-paciente é considerada coisa importante, quase sagrada. O conhecimento de que a doença do corpo é um reflexo de um desequilíbrio emocional ou psicológico, vindo a se materializar em um determinado órgão, vem se moldando à própria ciência que já aceita a ideia de que, em um ambiente de instabilidade emocional a doença encontra solo fértil para seu desenvolvimento. Pode-se afirmar que o paciente deve também ser tratado em duas esferas, a emocional e a física. Em relação a este tratamento, encontramos ao longo da história da arte representações de retratos e auto retratos dos artistas em estado doentio com seus médicos. Partindo desta análise, pretendemos com este trabalho selecionar alguns artistas e fazer uma leitura de suas obras de arte, provocando a reflexão sobre a importância da relação médico-paciente. Entre os artistas selecionados apontamos: Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828), John Bellany (1942), Vincent Van Gogh (1853-1890),  Edvar Munch (1863-1944) e Frida Kahlo (1907-1954) que, como pacientes, representaram esta relação em suas telas. Quanto ao artista espanhol Francico Goya (1746-1828), favorito dos reis de Bourbon, foi um importante artista do período do Romantismo e retratou em seus quadros temas diversificados, que vão de paisagens, cenas mitológicas, religião, guerras, reis e rainhas e a inquisição espanhola. Tinha a saúde um tanto frágil, aos 46 anos ficou surdo e queixava-se com frequência  de fortes dores e fraqueza muscular. Aos 75 anos teve um acidente vascular e coube ao doutor e amigo Arrieta seus cuidados, o qual o tratou com muito carinho. Em gratidão ao tratamento, Goya pinta um quadro que faz referencia ao médico ao escrever na parte inferior; “ Goya em gratidão ao seu amigo Arrieta”. Na obra, o artista se retrata em sofrimento, mas sendo amparado pelo médico, representando assim uma relação para além de médico – paciente, mas de carinho, amizade e gratidão. Em relação ao artista escocês, John Bellany (1942), ele realiza uma série de pinturas de auto-retratos juntamente com a equipe médica que o tratou quando de um transplante de fígado. Ele representa sua recuperação juntamente com a equipe médica, incluindo o cirurgião Sir Roy Calne, o que se tornaram amigos íntimos. Segundo o médico a primeira coisa que Bellany pediu quando saiu da UTI foi papel e caneta. Vincent Van Gogh(1853-1890), pintor Holandês, de temperamento intempestivo, possuía poucos amigos e se envolvia constantemente em confusões. Considerado bipolar por uns e  louco por outros, se entrega a bebida e a relacionamentos profanos, adquirindo doenças sexualmente transmissíveis. Suas obras recebem influências de seu estado psicológico. Com a evolução de sua doença, foi internado numa clinica psiquiátrica, a qual tinha um jardim frondoso que passou a ser a inspiração para suas obras. Devido a crises recorrentes que tinha, teve vários médicos que o trataram e ele retratou três deles, demonstrando a gratidão pelos seu acolhimento, além do tratamento médico. Van Gogh foi considerado precursor do expressionismo, movimento que teve início na Alemanha no início do século XX. Rejeitado em vida, foi consagrado logo após sua morte, sendo hoje um dos maiores artistas reconhecidos mundialmente. Edvard Munch (1863-1944), artista Norueguês, também teve uma vida conturbada e de conflitos internos, considerados por muitos bipolar. Sublima nas artes todas suas emoções representando imagens desfiguradas e de forte expressão nos rostos. Apresenta temas relacionados a angústia, morte, depressão e desespero. Devido a vida desregrada, principalmente pelo envolvimento com o alcoolismo,  apresenta sérios problemas de saúde e precisa ser internado numa clinica psiquiátrica, que pertence ao Dr. Daniel Jacobsen. Durante o período que ficou internado, Munch realizou vários esboços relacionados ao tratamento, inclusive recebendo “eletrificação” pelo médico Jacobsen, no qual ele escreveu: "Professor Jacobsen eletrificando o famoso pintor Munch, e está trazendo uma força masculina positiva e uma força feminina negativa para seu frágil cérebro”. Frida Kahlo (1907-1954), artista mexicana, também teve uma vida cheia de conflitos e dificuldades. Ainda criança adquire poliomielite, o que causou lesão no pé esquerdo, fazendo com ficasse com problemas. Na juventude sofre um grave acidente com várias fraturas, fato que modificou completamente sua maneira de viver, precisando fazer 35 cirurgias, permanecendo pelo resto da vida com sequelas e constantes dores e tratamentos. Foi no momento que se recuperava, presa a uma cama que começou a pintar e então o tema recorrente é ela própria, suas angustias e dificuldades em superar tamanha dor. Considerada pela crítica como artista surrealista, ela debatia dizendo: “Não me considero surrealista, eu apenas pinto meus problemas”. E realmente seus dramas, suas dores, estão materializadas em suas telas. Não tem como não perceber todo sofrimento que a artista passou em vida, observando suas obras. Dor, traição, desilusão, raiva, angústia, medos, abortos, compaixão e amor sem limites pelo marido Diego Rivera, estão pintados em suas telas, assim como os médicos que a atenderam  em sua jornada de sofrimentos, entre eles o Dr. Leo Eloesser, pioneiro em cirurgia torácica e ortopédica na qual  Frida pinta o quadro em agradecimento pelo atendimento chamado: “Retrato do Dr. Eloesser”. Também ela faz um auto retrato que dedica ao seu médico, fazendo a seguinte dedicatória: “Pinto meu retrato no ano de 1940 para o Dr. Leo Eloesser, meu médico e meu melhor amigo. Com todo meu carinho”. Frida pintou também um auto retrato com Dr. Farril, médico do Hospital Inglês que lhe deu mais que atendimento médico, lhe deu confiança, carinho, atenção e cuidado. O quadro se chama: “Auto-retrato Dedicado a Dr. Farril”. A arte serviu pra Frida como algo salvador, foi com a arte e pela arte que ela conseguiu superar toda dor e sofrimento, mostrando que sua sensibilidade era maior que a dor, apesar desta dor estar presente em toda sua obra. Frida também eterniza toda sua gratidão pelos médicos que a trataram em suas telas. Partindo da análise da vida e obra dos artistas acima citados, concluímos que; assim como a arte pode servir de alento e tratamento para muitos, o cuidado, carinho e atenção dispensada no tratamento médico, são fatores fundamentais para a recuperação do paciente. Podemos observar na representação dos artistas que a arte serviu para todos como forma de sublimação das suas pulsões, ou seja, cada artista de sua maneira particular, potencializa na arte suas desilusões, dores, anseios, desejos, agradecimentos, reconhecimentos e sentimentos, amenizando desta forma todo o sofrimento e tendência destrutiva. E realizar retratos e auto –retratos com seus médicos é a forma maior de agradecimento pelo tratamento recebido, significa o reconhecimento do carinho dispensado pelo profissional, carinho este eternizado agora nas pinturas de seus pacientes.


Palavras-chave


Representação - arte - médico - paciente.