Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Integração ensino-serviço: uma relação benéfica entre acadêmicos e comunidade.
Natália Bernardes, Giovana Bernardes, Mateus Araújo Silva

Última alteração: 2018-01-24

Resumo


• Apresentação:

Este trabalho é baseado em vivências de integração ensino-serviço-comunidade realizada pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em conjunto com a Unidade Básica de Saúde (UBS) Luiz Meneghello, ambas localizadas em Uberaba-MG.

Os acadêmicos de medicina dos X e XI períodos, ao cursarem o Estágio Supervisionado em Medicina Geral e Comunitária, são convidados a vivenciar o dia-a-dia da UBS, conhecendo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), a Estratégia de Saúde da Família (ESF) atuante, seus integrantes e serviços prestados, o território abrangido, a população adscrita e os desafios encontrados. No que tange ao ensino, além do aporte teórico-prático oferecido, são realizadas discussões com os preceptores e, ao final, os alunos são incumbidos de detectar problemas enfrentados na unidade e propor uma solução viável para o principal problema detectado. Tal projeto de intervenção é então apresentado em forma de seminário aos professores e colegas. Desse modo, a integração ensino-serviço-comunidade é promovida.

• Desenvolvimento:

Ocorreu durante o mês de setembro de 2015 e teve como metodologia: visitar as instalações da unidade; analisar dados obtidos, especialmente o consolidado mensal; conhecer a ESF e acompanhar a rotina dos profissionais, realizando consultas médicas preliminares, visitas domiciliares junto ao médico de família e às agentes comunitárias de saúde (ACS); participar de aulas destinadas à comunidade; acompanhar ativamente as atividades dos grupos complementares; colher informações com os profissionais e usuários da rede.

  • Resultados:

A unidade foi fundada em 1982. Possui uma recepção, um arquivo, um almoxarifado, quatro consultórios médicos, sendo um ginecológico e outro pediátrico/fonoaudiológico, um consultório odontológico, uma sala de vacinas, uma sala de nebulização, uma sala de enfermagem, copa, cozinha e dois banheiros.

A UBS possui materiais para curativos simples e retirada de pontos, porém não há sala específica para tais tarefas. Também não há material de sutura, por isso os pacientes devem ser encaminhados a um pronto atendimento para realizá-la. Os materiais disponíveis na unidade são: estetoscópio, esfigmomanômetro, balança, régua, fita métrica, otoscópio, sonar, nebulizadores, oxímetro e hemoglicoteste. Há também medicamentos para tratamento de hipertensão arterial sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus (DM), tuberculose e hanseníase, além de vacinas ofertadas pela rede pública.

Na UBS Luiz Meneghello, funciona uma ESF chamada Volta Grande, que foi estruturada em 2002, seis anos após o início da implantação da Estratégia de Saúde da Família em Uberaba. A ESF Volta Grande atende a população dos conjuntos Margarida Rosa Azevedo e Mário Franco, e desde sua formação, atua na referida UBS. No entanto, por falta de espaço físico adequado, algumas atividades são realizadas no salão paroquial da Igreja Cristo Bom Pastor, que fica próxima à unidade.

As ESFs, de modo geral, são uma das principais portas de entrada do sistema de saúde, e baseiam-se nos princípios de territorialização, descentralização, intersetorialidade e equidade. Todas as atividades realizadas buscam promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de doenças e agravos de saúde. O objetivo da ESF é prestar atendimento de qualidade, integral e humano à população, com atenção centrada na família, para prevenção e promoção da saúde.

A ESF Volta Grande é composta por: um médico generalista, uma enfermeira, uma técnica em enfermagem, uma dentista, uma auxiliar de dentista e três agentes comunitárias. Nessa UBS trabalham, além da ESF, dois médicos generalistas, dois ginecologistas e duas psicólogas.

As atividades complementares ofertadas na UBS consistem em: HiperDia, semanalmente, para aferição de pressão arterial e glicemia, atendimento médico para esclarecer sobre medicação, dieta, atividade física e checar exames; grupo de tratamento ao tabagismo; grupo de atividade física que realiza caminhadas supervisionadas com a população duas vezes na semana e um grupo de alongamento com fisioterapeuta uma vez por semana.

Há também, semanalmente, a atuação do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), responsável pelo matriciamento e atenção à saúde mental.

Sobre a população, segundo dados do SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica) de 2008, a área de abrangência da ESF Volta Grande, possui 1.079 famílias cadastradas e cerca de 5.000 habitantes, na qual predomina o sexo feminino (53,86%) e faixa etária de 20 a 39 anos. As condições de moradia da região são consideradas boas, com casas de alvenaria. Todo o conjunto possui energia elétrica. A maioria das famílias têm acesso ao saneamento básico e coleta de lixo. Contudo, existem áreas de risco na região como a rodovia BR-050, em que não há passarelas para pedestres.

Ao fim das atividades do período, o consolidado mensal foi de: 8 encaminhamentos médicos para atendimento especializado e nenhum para urgência ou emergência; 333 visitas domiciliares, sendo 8 realizadas por médico, 27 por enfermeiros, nenhuma por dentista e 298 por ACS; 148 consultas médicas, sendo 84 com pacientes com idade igual ou superior a 60 anos e 24 com pacientes entre 50 e 59 anos, destas, 111 por demanda agendada e 37 por demanda imediata. Durante as visitas, foram relatadas 5 hospitalizações e um óbito. Notou-se maior demanda da UBS por pacientes idosos e com doenças crônicas, sendo DM e HAS as principais, além de poucos encaminhamento para os níveis de atenção necessários.

A partir disso, foi possível aumentar a vivência das teorias explanadas em sala de aula, reconhecer as limitações do SUS e formular alguns diagnósticos situacionais presentes na UBS. Dentre eles, observou-se: infra-estrutura deficiente; quantidade insuficiente de ACS; falha no processo de referência e contra-referência; demanda elevada em atenção à saúde mental.

Os acadêmicos priorizaram a atenção à saúde mental, tendo em vista que, apesar do apoio oferecido pelo NASF, a quantidade de serviços ofertados era muito menor que a demanda populacional. Sabendo da escassez de recursos e da limitação de investimentos na área, buscou-se uma solução pautada na iniciativa local e participação da comunidade, independente de órgãos superiores e de questões burocráticas-financeiras, como por exemplo a contratação de mais profissionais para a equipe ou reformas nas instalações.

Por conseguinte, desenvolveu-se um projeto de intervenção baseado na criação de "Oficinas de Artesanato” realizadas pelos próprios usuários, nas quais seria possível desenvolver suas capacidades criativas e expressão de sentimentos por meio do trabalho manual e coletivo. Sugeriu-se, que de modo auto-sustentável, houvesse arrecadação de matéria prima reciclada da comunidade, bem como geração de renda através de bazares realizados em parceria com instituições locais.

Desse modo, seja por meio da venda da produção das oficinas ou da apropriação pessoal é possível que o usuário, habitualmente rotulado como improdutivo, seja revalorizado de modo sociocomportamental, com melhora da auto-estima, crescimento de suas potencialidades e até redução do uso de medicamentos. Ademais, o desenvolvimento das habilidades artesanais poderia servir como renda complementar. Em suma, a criação das oficinas permite fortalecer as relações interpessoais e UBS-paciente, promovendo saúde a despeito das dificuldades encontradas no sistema de saúde local.

•Considerações finais.

Este relato de experiências evidenciou que a integração ensino-serviço-comunidade faz-se proveitosa ao gerar mais conhecimento e resolubilidade, e auxiliar na consolidação da teoria com uma visão crítica, contribuindo para o processo de formação profissional na área da saúde, em uníssono com as diretrizes e princípios do SUS. O que é benéfico tanto aos usuários do serviço quanto aos futuros profissionais.





Palavras-chave


Interação ensino/serviço/comunidade sob a ótica da educação; Práticas inovadoras na formação para o SUS