Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Vivências crítico-reflexivas de acadêmicos de medicina em um grupo de PET-Saúde
Ana Paula Garcez Amaral, Daniele Feliciani Taschetto

Última alteração: 2018-01-06

Resumo


Apresentação:

Com o intuito de aproximar a teoria acadêmica das reais necessidades de vida da população, os Ministérios da Saúde e Educação lançaram em 2005 o Programa Nacional de Reorientação Profissional em Saúde (Pró-Saúde). O programa veio para estimular os cursos de saúde a organizar estratégias de ensino-aprendizagem que valorizassem a formação interdisciplinar, crítica, humanística e comprometida com a realidade cotidiana dos serviços de saúde. Associado ao Pró-Saúde, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) foi instituído em 2008, possibilitando a fomentação de equipes tutoriais de aprendizagem, com inserção de estudantes de graduação nos serviços e na comunidade, para uma formação voltada para as necessidades de saúde da população assistida pelo sistema de saúde brasileiro (SANTOS, 2013).

Nesse contexto, em 2016 foi lançado o edital para a participação do PET-Saúde em Santa Maria/RS, com o início de suas atividades no segundo semestre do mesmo ano. O programa é composto por tutores e preceptores dos serviços e instituições locais, e por bolsistas e voluntários dos cursos de saúde da área de Enfermagem e Medicina. O presente artigo visa relatar a experiência de acadêmicos de Medicina, durante o ano de 2017, como bolsistas voluntários desse programa.

Desenvolvimento do trabalho:

O PET-Saúde SM/RS acontece em parceria entre a universidade, serviço local e gestão. Constitui-se em uma equipe de tutores (docentes), preceptores (profissionais da saúde vinculados à Secretaria Municipal de Saúde), bolsistas e voluntários dos cursos de Enfermagem e Medicina. Em 2016, foram elaborados dois projetos de pesquisa, dividindo a equipe do programa em dois subgrupos, a saber: um sobre saúde materno-infantil e outro sobre o processo de integração ensino-serviço-comunidade na atenção primária à saúde no município. No início de 2017, com a entrada dos novos bolsistas voluntários, cada aluno teve a oportunidade de escolher o projeto que gostaria de fazer parte.

A dinâmica de trabalho compreende duas reuniões mensais: uma do grande grupo e outra dos subgrupos. Ambas contam com a presença de tutores, preceptores e alunos, com duração média de duas horas, realizadas dentro da universidade. As reuniões do grande grupo têm com o objetivo apresentar aos demais participantes relatos das atividades desenvolvidas dentro de cada subgrupo, avaliação acerca do trabalho em andamento, além de estudar temáticas pertinentes ao processo de organização do PET-Saúde. As reuniões de subgrupos são espaços também utilizados para relatar as atividades já desenvolvidas e, especialmente, para o planejamento das novas ações a serem realizadas nas pesquisas, com divisão das tarefas. Para o próximo ano, serão iniciadas as coletas de dados dos projetos.

Durante esse período, os alunos também foram inseridos nos cenários de prática, para completar o eixo de integração entre ensino-serviço-comunidade. Os petianos realizam vivências, acompanhadas pelos preceptores, na gestão local, como a Secretária Municipal de Saúde, a Política de HIV/AIDS e o Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPeS). Além disso, são recebidos nas Estratégias de Saúde da Família (ESF) vinculadas ao programa, para acompanhar o funcionamento e as peculiaridades das regiões, bem como entrar em contato próximo com a população, principalmente através dos Agentes Comunitários de Saúde.

Ademais, no primeiro semestre de 2017, foi realizado um seminário sobre o tema de integração entre ensino, serviço e comunidade, que contou com a presença de acadêmicos, servidores e representantes da comunidade. Dentro desse espaço, foi apresentado o projeto do PET-Saúde, os temas que o permeiam, e aberta uma discussão, através de oficinas, sobre as fortalezas, os desafios e as estratégias para efetivar a integração entre os três eixos.

Resultados e/ou impactos:

No contexto da formação em saúde para uma atuação mais assertiva no SUS, busca-se o desenvolvimento de processos de educação crítica e participativa, com vistas à transformação social e à promoção da saúde. Essa mudança, necessária para concretização do SUS, implica olhar para quatro eixos fundamentais: concepção de saúde, gestão do processo de trabalho, formação dos profissionais e controle social (SANTOS, 2013). O PET-Saúde possibilita vivencias nessas diferentes áreas que auxiliam ao aluno compreender a dinâmica dos processos de saúde do SUS.

No que se refere às facilidades, durante esse período, identificou-se a participação no grupo PET-Saúde como uma possibilidade de integração com acadêmicos e professores de outros cursos, através da realização de ações coletivas. Além disso, permitiu a inserção efetiva dos acadêmicos no processo de trabalho da ESF, o que repercutiu na ampliação do conhecimento e da visão crítica a respeito dos serviços de saúde, especialmente, da atenção básica. Assim, o processo de educação se constitui de maneira crítico-participativa, proporcionando uma visão ampla e integrada de saúde. Além disso, a aproximação com a gestão municipal, contribui para a formação profissional, uma vez que permite ao acadêmico atuar com autonomia e interdisciplinaridade, tendo-se em vista as necessidades da comunidade, as diferentes competências profissionais e possibilidades do serviço (RODRIGUES et al, 2012). Dessa maneira, o sujeito se entende como além de um prestador de serviços, para um potencial agente de mudança. Outro aspecto importante é a capacidade que o aluno desenvolve de articular de forma satisfatória as demandas da graduação com as do PET-Saúde, tendo em vista a exigência do programa.

As dificuldades vivenciadas estão relacionadas principalmente à coordenação do programa. Pela alta demanda dos tutores e preceptores, muitas vezes há uma desorganização e falha na comunicação com os alunos. Como consequência, muitos dos encontros são desmarcados sem aviso prévio ou ocorrem reuniões com baixa presença dos participantes. Dessa maneira, o andamento dos projetos de pesquisa ficam prejudicados. Também houve uma deficiência acerca dos conhecimentos teóricos relacionados ao programa e seu funcionamento, principalmente com os bolsistas voluntários, que entraram um ano após o início do edital, pois não houve espaços para esse diálogo. Em relação à preceptoria, identificou-se contratempo na compatibilização de horários, assim como a dificuldade de alguns preceptores, que não tinham experiência prévia em orientar os estudantes, de envolve-los nas atividades realizadas.

Ademais, a falta de auxílio financeiro para os voluntários também constitui em um empecilho para a adesão ao PET, resultando na saída de alguns acadêmicos que entraram no início desse mesmo período.

Em suma, acredita-se que a participação no grupo PET-Saúde foi uma experiência diferenciada para os diferentes atores envolvidos, especialmente por se tratar de uma vivência inovadora que exigiu trabalho coletivo, participativo e crítico-reflexivo, tendo-se em vista as necessidades de saúde da população, as possibilidades dos serviços e dos profissionais neles atuantes, bem como os princípios do SUS (RODRIGUES et al, 2012).

Considerações finais:

A interação ensino-serviço-comunidade é fundamental para a formação de profissionais comprometidos com o SUS, proporcionando-lhes um contato direto com os problemas da população e instrumentalizando-os para intervir de forma eficaz, com ações coletivas por meio de uma educação preventiva em saúde pública. Além disso, a integração entre os diversos cursos da área da saúde vem servindo, durante o programa, para demonstrar que é possível existir uma articulação entre diferentes formações acadêmicas no intuito de obter respostas positivas (RODRIGUES et al, 2012).

Apesar de ser uma estratégia que ainda apresenta empecilhos, o PET-Saúde constitui em uma grande ferramenta para o aprimoramento na formação acadêmica, principalmente na médica, visto o conhecimento que se adquire dos processos de saúde. Assim, traz propostas inovadoras a educação, fundamentadas nos princípios e diretrizes do SUS.


Palavras-chave


PET-Saúde;