Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O LUGAR DO FASCISMO NO DISCURSO DXS UNIVERSITÁRIXS DA SAÚDE: QUAL A IMPLICAÇÃO DA UNIVERSIDADE NO PROCESSO FORMATIVO DXS ESTUDANTES?
Priscila Melo, Nelson Eduardo Estamado Rivero, Laura Cecília Lopez

Última alteração: 2017-12-20

Resumo


Este resumo refere-se a pesquisa realizada pela autora para seu trabalho de conclusão de curso em psicologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS. O estudo foi desenvolvido entre os anos de 2016 e 2017 com estudantes de graduações da saúde da região metropolitana de Porto Alegre, RS. A pesquisa teve como objetivo principal investigar como o fascismo se reedita e se apresenta no discurso dxs universitárixs da área da saúde. Essa temática se faz pertinente e atual na medida em que se entende que o fascismo está incrustado em nosso cotidiano e que o mesmo vem se reeditando e se renovando em diversos modos de atuação no passado recente e no presente. O estudo se propõe a investigar de que forma a singularidade e as histórias individuais de cada profissional afetam a forma com que os usuários são atendidos e entendidos nos serviços e pelos profissionais de saúde. Entendendo a formação acadêmica como espaço essencial para construção de profissionais mais éticos e coerentes em seu fazer profissional, se optou por realizar o estudo com estudantes em processo de formação. A pesquisa conta com delineamento qualitativo e exploratório. O delineamento foi definido após verificação da necessidade de expandir e abrir maiores espaços para a discussão sobre a temática dentro da academia. Foram realizadas sete entrevistas individuais e semi-estruturadas com estudantes da saúde de três cursos, sendo eles: enfermagem, nutrição e psicologia. Adicionou-se ao estudo os seguintes critérios de inclusão: conclusão de ao menos 50% da grade curricular obrigatória de seu curso, estar realizando ou já ter concluído ao menos uma vivência de estágio obrigatório referente a formação atual e contar com 18 anos completos ou mais. O estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da universidade sob o número de inscrição 1.875.615. A análise de dados ocorreu de acordo com análise de conteúdo. Foram elaboradas quatro categorias a partir da análise: visão sobre x paciente, capitalismo, formação em saúde e cultura e/ou crença. A primeira categoria (visão sobre x paciente) foi dividida em duas subcategorias, sendo elas: Incapacidade e Hostilidade. Verificou-se que xs usuárixs são constantemente visualizados como sujeitos despotentes e que o assistencialismo se faz fortemente presente no discurso voltado à prática no campo da saúde. Entende-se que essa visão despotencializadora dificulta o exercício de práticas verdadeiramente emancipatórias. A segunda subcategoria apresenta a percepção dx usuárix como uma espécie de inimigo, como um sujeito que mal trata ou violenta de diversos modos x profissional. Entendendo que a aliança terapêutica é diretamente afetada por uma relação nesses moldes, verifica-se a relevância de proporcionar abertura para a discussão acerca dos efeitos da construção dessa relação no que tange ao atendimento proporcionado à população. A segunda categoria (capitalismo) também foi subdividida em duas, sendo elas: Serviços públicos e Lógica de produção. O aspecto mais frequentemente mencionado acerca da atuação nos serviços públicos diz respeito as dificuldades do trabalho nesse ambiente, em especial no que tange ao desgaste das equipes e dos profissionais. Entende-se que a construção subjetiva pautada em modos individualizantes gera afastamento de importantes vivências coletivas e, consequentemente, abre espaço para que o Estado atue de forma a suspender direitos cada vez mais básicos. Assim, a participação da população deve ser incentivada em todos os cenários possíveis, uma vez que essa participação tem potência para romper com o modo indivíduo de nos constituirmos enquanto sujeitos. A subcategoria de Lógica de produção foi construída na medida em que a noção do trabalho em saúde apresenta-se fortemente atrelada ao alcance de metas e resolutividade. Entende-se que este modelo de exercício profissional não condiz com o esperado para a atuação no campo da saúde, em especial após as orientações do Humaniza SUS. Atuações profissionais seguindo este modelo não abrem o espaço necessário para a inventividade e para a potência do encontro. A terceira categoria refere-se à Formação em saúde e foi criada devido a necessidade de pontuar a concepção mercadológica empregada nas formações, o que gera formações altamente tecnicistas e fortemente atreladas aos especialismos. Ressalta-se que esse modelo de formação pode desembocar em práticas profissionais assistencialistas, fragmentadas e/ou excludentes. Problematiza-se a responsabilização da academia para com as formações, em especial as voltadas para o campo da saúde. Para além disso, problematiza-se a responsabilização da academia para com a sociedade, uma vez que os profissionais formados por esse espaço estarão integrados aos serviços de saúde fornecendo atendimento à população e reproduzindo as lógicas absorvidas na academia em seu fazer profissional. A quarta e última categoria desenvolvida no presente estudo diz respeito a Cultura e/ou crença. Não por acaso essa temática destacou-se sobre as outras no que tange ao aparecimento de contradições discursivas. O estudo ressaltou a distância existente entre a teoria e as orientações voltadas para a prática no campo da saúde e a realidade vivenciada em muitos campos de atuação. Apesar de almejarmos uma atuação no campo da saúde voltada para práticas que valorizem e incentivem a emancipação do sujeito, foi constatado que ainda há forte aproximação aos exercícios de controle e dominação do outro no fazer em saúde. Compreende-se que as violências explícitas cotidianamente apresentadas na grande mídia são o ápice de um processo anterior, processo esse onde violências sutis são naturalizadas e ajustadas ao tecido social. A violência está constantemente impressa nos mais variados modos de atuação, como em julgamentos ou ridicularizações. Os resultados da pesquisa apontam que xs estudantes da saúde estão profundamente subjetivadxs pela lógica de um sistema fascista e (re)produzem tais lógicas em seus discursos e práticas de estágio. Exemplos disso são a noção do trabalho em saúde como uma “linha de produção”, onde o alcance da meta é o objetivo maior; ou a percepção de que xs estudantes contam com conhecimentos mais valiosos que xs usuárixs, o que gera uma relação vertical que despotencializa os sujeitos. Considerando que xs profissionais da saúde devem zelar por uma prática de cuidado pautada na ética profissional que vise a potencialização dos sujeitos, o bem-estar de todxs e o respeito aos mais diversos modos de vida é fundamental que as formações nessa área reflitam constantemente sobre a sua implicação no processo formativo dxs futurxs profissionais. Essa constante análise de implicação se faz necessária uma vez que xs estudantes de hoje são xs profissionais de amanhã e estxs estarão atendendo à população e (re)produzindo lógicas mais ou menos potencializadoras e emancipatórias.


Palavras-chave


Formação universitária; Graduação em Saúde; Saúde Coletiva; Fascismo