Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Uma troca de afetos a partir da vivência de Acompanhante Terapêutica
taynah sousa barbosa

Última alteração: 2017-12-29

Resumo


Durante visita de imersão do Projeto na UBS Santa Tereza, uma agente comunitária de saúde me apresentou o caso de Esperança, 32 anos, mãe de 6 filhos, ensino fundamental completo, gosta de crochê e cozinhar. Mantida pelo pai e ajudada por amigos, mora numa casa cedida, utilizada como boca de fumo.  Com o pai de um de seus filhos usuário e traficante, começou a usar drogas. Iniciou com maconha, mas prefere o crack. Após o companheiro “perder a boca” e vender as coisas da casa para comprar drogas, veio a separação. Esperança não aceitou “tirar das crianças para comprar droga”. Por isso aceitou minha visita. Ela diz que não é boa mãe por conta do uso diário de crack, e as crianças mais velhas estarem assumindo o papel de cuidar das outras. Saber dessas confidências, vulnerabilidades, dificuldades, sonhos e pedido de ajuda, me fez perceber a dimensão da responsabilidade que a função de AT exige. Até aquele dia éramos desconhecidas. Cheguei à sua casa, disse quem era e que gostaria de ouví-la. Todas as informações mencionadas sobre ela foram obtidas em duas horas de conversa, após eu dizer apenas, “quero te ouvir”. Após o primeiro contato comecei a articulação em rede. Fui ao CAPS ADIII onde não havia nenhum registro de Esperança. A TR (Técnica de Referência) pediu que a levasse ao CAPS ADIII para o acolhimento e conversa sobre possíveis formas de cuidado. No CRAS Cauamé, falei com a TR que disse ter perdido contato com Esperança há um ano, e não a encontrou no endereço cadastrado. Esperança também estava sem receber o benefício do Bolsa Família, pela falta de frequência escolar do filho de 7 anos. A TR informou que a colocaria em acompanhamento familiar para que voltasse a receber o benefício. Passei então o novo endereço e telefone de Esperança para atualizar seu cadastro junto ao CRAS. Esperança não compareceu ao CAPS ADIII, após visita da TR dessa unidade, pois não conseguiu ninguém para ficar com as crianças e a unidade é distante de sua casa. Busquei apoio da gerente do CRAS Cauamé (referência). Solicitei que ela articulasse com a gerente do CRAS União, para que Esperança e os filhos participassem das atividades ofertadas lá, pois fica próximo da casa dela. Quando fui escolhida entre as articuladoras para fazer o relato do meu AT, hesitei um pouco por acreditar que muito ainda precisa ser feito. Porém, nossa coordenadora de território disse que jamais poderia pensar dessa forma, pois devido ao Projeto, essa mulher voltou a fazer parte da Rede e com articulações latentes sendo realizadas. A função de AT me fez crescer pessoal e profissionalmente, proporcionando um misto de sentimentos, onde predominou a ESPERANÇA de que mais Esperanças possam ser ouvidas, possam ser acolhidas e ter garantias de direitos respeitadas e encontrar profissionais que as olhem e as tratem com empatia, e fazer com que Esperança consiga o que tanto almeja...ser uma boa mãe.


Palavras-chave


acompanhamento terapeutico