Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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“AINDA SINTO SEU PRECONCEITO”: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA EM UMA AÇÃO DE EXTENSÃO NO INTERIOR DA AMAZÔNIA
ALANA FERREIRA DE ANDRADE, GABRIELLY DA SILVA COSTA, SIMONE AGUIAR DA SILVA FIGUEIRA, DAVID SANCHES FIGUEIREDO VIANA, GUALTER FERREIRA DE ANDRADE JÚNIOR

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: Os humanos são seres dotados de sentimentos e da necessidade de demonstrar isso por meio de gestos que lhes conferem conforto e bem-estar. Dessa forma percebe-se a real e clara importância de demonstrações de afeto por meio de abraços, por exemplo. Nesse contexto, o movimento Free Hugs começou em 2001, em Sidney, Austrália quando um rapaz conhecido como Juan Mann estava passando por problemas pessoais e familiares e, então, decidiu caminhar sozinho pelas ruas carregando um cartaz de papelão nas mãos com a mensagem “Free Hugs” (“Abraços Grátis”, em português) com o objetivo de oferecer abraços a desconhecidos. Essa iniciativa individual se transformou em um vídeo que, ao ser publicado no meio virtual, recebeu milhares de acessos. Assim, o “Free Hugs” difundiu-se e transformou-se em um movimento em escala global na medida em que milhares de pessoas passaram a acessar os vídeos. Diante desse cenário, a IFMSA Brazil, uma organização vinculada à International Federation of Medical Students’ Associations que, por sua vez, é considerada uma das maiores associações estudantis do mundo, também aderiu a essa febre mundial e passou a realizar campanhas de “Abraços Grátis” por todo o Brasil. O objetivo desse movimento é fazer com que as pessoas abraçadas se sintam melhor, já que o ato de abraçar pode diminuir a pressão sanguínea, o batimento cardíaco e o nível de hormônios do estresse. No entanto, dentro da IFMSA Brazil, o movimento passou a ter novas roupagens, e os abraços grátis passaram a ser vinculados a causas sociais. Assim, o comitê local IFMSA Brazil UEPA Santarém promoveu uma campanha intitulada de “Free Hugs: Ainda Sinto Seu Preconceito” para chamar atenção da sociedade para problemas enraizados na nossa cultura, como racismo, machismo e bullying. O abraço, nesse caso, serve para confrontar tais problemas. Objetivamos, com este trabalho, relatar a experiência de acadêmicos de medicina em uma ação de extensão que confrontou ideias preconceituosas por meio de cartazes contendo frases de impacto. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência sobre o projeto “Free Hugs: Ainda Sinto Seu Preconceito” promovido pela IFMSA Brazil UEPA Santarém em março de 2017 que aconteceu na orla fluvial do município de Santarém-PA, que é um local de grande fluxo de pessoas que buscam lazer ou prática de atividade física. O projeto foi realizado, basicamente, em um único dia, no qual foram feitos os cartazes e ocorreram os abraços grátis. Primeiramente, foram selecionados entre os coordenadores os temas que seriam abordados nos cartazes, sendo todos de igual relevância e com a intenção de provocar uma reflexão nas pessoas que participassem. As frases escolhidas por meio de votação foram: “já sofri abuso sexual”, “sou gay”, “sou ex-presidiário” e “sou HIV+”; todos acompanhados da pergunta “Você me abraça?”. No dia da ação, cada voluntário foi designado para sua respectiva função. Quatro deles ficaram responsáveis por segurar os cartazes, cada qual em um ponto diferente da orla. Os demais voluntários foram divididos em dois grupos: um era responsável por abordar os transeuntes que abraçaram ou não a pessoa com o cartaz, com o objetivo de fazer perguntas acerca do motivo pelo qual elas aceitaram ou não o abraço grátis; o outro agiu como incentivador da ação, abraçando esporadicamente os colegas que estavam com os cartazes, para que outras pessoas se sentissem motivadas também a repetir o ato. Após a ação, os voluntários se reuniram e expuseram suas impressões e sentimentos em relação ao que vivenciaram durante a realização do projeto. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Diante da experiência, a grande maioria dos acadêmicos afirmou que a presente ação fez com que fosse possível adquirir maior empatia por pessoas em diferentes realidades e perceber o preconceito sentido por quem se encaixa nas características abordadas pelos cartazes. A acadêmica que ficou responsável pelo cartaz sobre o abuso sexual, por exemplo, observou que muitas mulheres a abraçavam e falavam palavras de apoio e conforto, já que é sabido que os índices de violência sexual contra as mulheres são bastante altos e isso gera um sentimento de sororidade, ou seja, união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo; no entanto, houve também pessoas que passaram por ela e sussurraram palavras grosseiras ou de reprovação por estar declarando em público que já sofrera abuso. Outro relato bem marcante foi do voluntário com o cartaz que dizia “sou gay”. Mesmo que muitos o tenham abraçado, mostrando que a homofobia é um sentimento a ser erradicado da sociedade, alguns também chegaram a orar sobre sua cabeça como em atitude de reprovação, aconselhando-o a buscar alguma ajuda. Contudo, o número de pessoas que abraçaram foi muito maior ao de quem ignorou as placas ou referiu algum comentário maldoso. Com isso, observamos que a discriminação cada vez mais vem dando lugar ao respeito e à igualdade, mesmo que o preconceito ainda esteja longe de ser totalmente eliminado. A solidariedade se fez presente em muitos momentos da campanha nos quais as pessoas se colocavam no lugar da outra, para entender a sua realidade sem julgamento, com a finalidade de compartilhar sentimentos. Esse altruísmo mostrou que, apesar das atitudes contrárias a ele, o ser humano ainda o pratica e que ações como essa, acerca do incentivo à prática altruísta no dia a dia, são válidas para a construção de uma sociedade pautada nos princípios da equidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Levando-se em conta que os abraços dão-se pela interação imediata entre duas pessoas, o ato de abraçar abrange sentidos sociais que vão das conotações políticas aos significados ligados à vida sexual. No caso do “Free Hugs: Ainda Sinto Seu Preconceito”, o indivíduo surpreendido com uma proposta de abraço acompanhada de uma situação de conflito social é quem permite haver ou não interação. E era justamente a permissão desse abraço que demonstrava a libertação do sujeito de seus preconceitos e estigmas sociais. Observou-se que, em geral, as pessoas eram pegas de surpresa pela proposta inusitada, já que não é comum encontrar pessoas segurando cartazes pedindo um abraço ou fazendo afirmações pessoais. Assim, entre indiferença, receio e reações de entusiasmo pelo encontro, os abraços eram trocados e, após cada abraço, as pessoas tinham, apesar do estranhamento, um sorriso no rosto e uma possível nova imagem acerca daqueles que muitas vezes passam por inúmeras formas de discriminação. Quanto aos voluntários que se dispuseram a participar da ação, coube a eles incorporar cada personagem, permitindo-se viver aquela experiência como se realmente fosse uma realidade sua. A metodologia da ação possibilitou não só uma visão pessoal de como é ser identificado por uma patologia ou condição social, mas também de como a sociedade responde a essas situações sociais que geram preconceito. Conclui-se, então, que o projeto teve extrema importância como meio de promover a conscientização e a reflexão sobre as práticas preconceituosas que, infelizmente, ainda são bastante frequentes na sociedade.

Palavras-chave


Voluntário; Preconceito; Abraços;