Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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OFICINA TERAPÊUTICA DE CARIMBÓ: UMA ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL EM UM CAPS.
Milene Neves Soares, Eberson Luan Cardoso, Bruna Luana Tavares, Gabriela Joice Cardoso

Última alteração: 2018-01-23

Resumo


Introdução: A modificação do formato assistencial da psiquiatria ao longo dos anos vem dado espaço para um contexto onde a desinstitucionalização psiquiátrica se torna o foco. Dessa maneira, a criação Núcleos/Centros de Atendimento de Atenção Psicossocial (NAPS/CAPS) como serviços substitutivos do modelo asilar-manicomial contribui para a melhoria da assistência aos indivíduos em sofrimento psíquico e oferece cuidados que transitam entre o atendimento ambulatorial e a internação hospitalar, priorizando a importância da família e do meio sociocultural. A necessidade de adaptar, reinventar e criar novas modalidades no cuidado e conviver com pacientes psiquiátricos tornou-se mais evidente, exigindo assim uma assistência mais flexível e humanizada, e para tal, a equipe multiprofissional de saúde mental têm aperfeiçoado suas técnicas terapêuticas por meio de reformulações teórico-práticas que permitem, além de maior interação usuário-profissional, reavaliar e desenvolver novas formas de cuidado. Dentre as muitas propostas de mudanças nesta assistência, as atividades em grupo passaram a ter maior importância terapêutica, enfatizando-se a participação multiprofissional no processo de reabilitação da saúde mental. Nessa perspectiva, uma das técnicas grupais que pode ser empregada como estratégia terapêutica, é a dança, visto que a mesma oferece um ambiente de diálogo para usuários com diversos tipos de transtornos mentais, possibilitando novas experiências psicológicas, emocionais e físicas, exteriorização de sensações e emoções. A dança possui uma linguagem própria que estimula o usuário a se envolver consigo mesmo, possibilitando a melhora em seu processo de tratamento, onde este passa ter ciência que quando há a impossibilidade de expressar-se com base em sua linguagem verbal, poderá fazê-lo através de uma linguagem corporal, favorecendo, dessa maneira, suas competências comunicativas. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo descrever a experiência vivenciada por acadêmicos do curso de graduação em Enfermagem na condução de uma oficina terapêutica subsidiada pela metodologia ativa com uso da música e dança, para a contribuição na disseminação do conhecimento de práticas assistivas e novas formas de assistencia ao paciente psiquiátrico. Descrição da Experiência: A experiência aconteceu durante as aulas práticas da atividade curricular “Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria” no CAPS Renascer, que representa um centro de grande porte (CAPS III) com equipe especializada em atenção psicossocial localizado no bairro do Marco, no município de Belém – PA. A oficina terapêutica foi planejada e executada por acadêmicos do 4º semestre do curso de Enfermagem da UFPA e coordenada pela enfermeira-docente responsável, baseando-se no princípio de que a dança possui propriedades terapêuticas e proporciona aprendizados aos indivíduos. Nesse sentido, a oficina foi realizada em dois momentos distintos valendo-se de uma abordagem voltada para a saúde mental dos usuários através de metodologias ativas que visam novas formas de ensino-aprendizagem na perspectiva de integrar teoria/prática, ensino/serviço, as disciplinas e as diferentes profissões da área da saúde, além de buscar desenvolver a capacidade de reflexão sobre problemas reais e a formulação de ações originais e criativas capazes de transformar a realidade social5. O primeiro momento foi reservado para a confecção dos trajes de caracterização utilizados na dança (prioritariamente saias, devido à forte presença feminina na oficina), sendo contemplados dois dias para essa atividade, respeitando os limites e capacidades de cada indivíduo. Neste momento, os acadêmicos atuaram de maneira a dar o suporte necessário por meio de dicas e auxílio mínimo à medida que também confeccionavam seus trajes, pois, o estímulo à criatividade, autonomia e apoio mútuo representaram os pontos chave nessa etapa de construção. O momento seguinte contou com a participação dos usuários, já caraterizados com os trajes que os mesmos produziram, que foram incentivados à livre expressão corporal por meio da música e dança. Os acadêmicos atuaram como facilitadores e ensinaram pequenas performances e coreografias ao som de músicas regionais bastante conhecidas do ritmo Carimbó, na medida em que também participavam da dança. Neste momento foi notório o envolvimento dos demais usuários presentes no centro, bem como de colaboradores e terapeutas de referência presentes, todos contagiados pelo momento de descontração. Resultados: A oficina proposta foi muito bem recebida pelos usuários, sendo essa receptividade percebida pela forma surpreendente que o grupo de acadêmicos facilitadores foi acolhido, demonstrando o total interesse do público-alvo pela atividade em questão, se dispondo a confecção dos trajes e expressão corporal por meio de movimentos de dança de forma ativa, onde mesmo aqueles mais tímidos e isolados participaram de forma efetiva. No primeiro momento, notou-se como prevalente a timidez por parte das usuárias, que foram incentivadas à interação por meio de uma abordagem dialógica feita pelos acadêmicos. No segundo momento, porém, notou-se a participação ativa e desinibida, marcas do acolhimento satisfatório da estratégia utilizada. Acredita-se que a utilização de oficinas terapêuticas baseadas em metodologias ativas torna-se uma ferramenta que potencializa o tratamento dos usuários, pois, a exemplo dessa experiência, a prática da dança resultou na melhora da autoestima e autoconsciência corporal, promovendo a interação entre os usuários, estímulo à criatividade, além de facilitar e estimular a integração social, bem como incentivar o desenvolvimento e manutenção de capacidades cognitivas e a memória. Por meio desta intervenção percebemos sentimentos de confiança, igualdade, apoio mútuo, em que cada indivíduo pode perceber e reconhecer sua importância no grupo participante da oficina. No campo mental, a oficina permitiu aos usuários apurar sua atenção, cognição, linguagem, bem como se expressar e amenizar os sentimentos de solidão e isolamento pela livre interação em grupo. Conclusão: Esta oficina terapêutica enfatizou a importância do enfermeiro em atividades em prol da saúde mental baseadas na interação contínua com o público e estratégias terapêuticas não convencionais, atuando como facilitador do aprendizado e promoção da saúde mental ao usuário. Deve haver o estímulo a participação ativa na manutenção da saúde de tais usuários, buscando melhora da autoestima e qualidade de vida. Percebeu-se a atuação do terapeuta de referência, neste caso o enfermeiro, no programa de saúde mental, adotando o cuidado continuado por meio de medidas de promoção da saúde e prevenção de agravos, fugindo das perspectivas contensionistas e de vigilância do modelo asilar-manicomial. A experiência permitiu o contato com realidades diversas, proporcionando a obtenção de conhecimentos e aprendizados à formação profissional, uma vez que o uso da metodologia ativa no processo de aprendizagem propiciou problematizar sobre as atuais condições de vida dos usuários, proporcionando a reflexão sobre suas formas de vivência e de relacionamento, bem como sob os modos intervir nas situações de maneira a adaptar a assistência de enfermagem a esta realidade. Portanto, é de extrema importância a realização desse tipo de oficina, permitindo novas formas de expressão, sendo um espaço onde os indivíduos podem manifestar sua opinião na formulação de coreografias, expressarem seus sentimentos na dança, como também uma forma de lazer. Percebeu-se a grande importância que as atividades em grupo representam no campo da saúde mental, e propõe-se que essas sejam ainda mais estendidas para fora dos limites do CAPS, bem como uma maior utilização de oficinas terapêuticas voltadas para livre expressão corporal por meio da dança.


Palavras-chave


saúde mental; terapia pela arte; metodologias ativas.