Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Relato de experiência: Estágio Interprofissional de uma Universidade Pública visando Promoção da Saúde e Prevenção às Violências na Escola e Comunidade
Sara da Silva Meneses, Andreia Simplício, Anna Caroline Ribeiro, Raquel Turci, Isabella Kahn, Ana Carolina Boquadi, Sheila Murta, Dais Rocha, Dayde Mendonça, Marlete Batista do Nascimento

Última alteração: 2018-01-26

Resumo


O seguinte relato compõe a experiência de um estágio interprofissional realizado na região administrativa do Paranoá (DF), na Rede de Atenção à Violência (RAV), uma das várias Redes de Atenção existentes no Sistema Único de Saúde (SUS). A RAV consiste em uma rede temática, que exige ações articuladas inter-setorial e intrasetorialmente.

A partir do levantamento de dados da situação local, realizado em estágio de graduandos da Universidade de Brasília (UnB), identificou-se que adolescentes em situação de violência indicavam a escola como um local privilegiado para integrar a rede de proteção e atenção à saúde. Assim, uma Escola de Ensino Fundamental e Médio do Paranoá-DF se tornou o local de prática deste Estágio, buscou-se potencializar este local como um mecanismo de proteção, articulando-o com a rede de proteção da região.

O estágio Interprofissional para Promoção da Saúde e Prevenção às Violências em Escolas e Comunidade da UnB visou articular o tripé formativo ensino-serviço-comunidade nos campos acadêmico e social. Ele abarcou diferentes saberes e ressaltou o aspecto interprofissional (houve a participação no processo de construção das oficinas dos estudantes de graduação, pós-graduação, docentes e profissionais que compunham o Programa de Pesquisa, Assistência e Vigilância à Violência – PAV, serviço pertencente a RAV) e também a perspectiva integrativa de ciclos de formação no contexto do PET – Saúde (GraduaSUS), através da articulação de encontros entre atores e serviços da rede de cuidado local e regional.

A interprofissionalidade pode ser descrita como a capacidade de atuação em equipe de saúde de forma articulada, reflexiva e dialógica, voltada para a resolução de problemas e negociação de processos decisórios entre os vários saberes, a partir da construção coletiva do conhecimento, esta que só se dá com respeito a cada saber que compõe o serviço/equipe. A equipe obteve a contribuição de estagiárias e estagiários da UnB, das áreas de Saúde Coletiva, Serviço Social, Psicologia e Farmácia. As preceptoras do estágio são profissionais do Programa Girassol do PAV, uma Assistente Social e uma Psicóloga- estas que atuam na Região Leste de Saúde do DF. As supervisões pela instituição de ensino ficaram sob a responsabilidade das Professoras e uma estudante do programa de pós graduação (doutorado) das áreas de Saúde Coletiva, Farmácia e Psicologia.

Deste modo, o estágio teve como objetivo desenvolver habilidades interprofissionais e competências nas ações de educação e promoção da saúde e prevenção às violências, a partir da parceria ensino-serviço-comunidade. O relato a seguir se deu durante o período de março a dezembro de 2017.

Foram realizadas oficinas com 20 professores e 95 alunos no ano de 2017, com enfoque na educação permanente para a promoção da Cultura de Paz e Prevenção de Violências.

A pesquisa-ação foi assumida como referencial teórico de compreensão e avaliação da experiência, visando o reconhecimento dos determinantes sociais da violência para contribuição com as transformações da realidade social envolvida. A pesquisa-ação produz conhecimento enquanto intervém na realidade, assim o sujeito estagiário-pesquisador também foi ator, assim como os sujeitos professores-pesquisados foram produtores de conhecimento, voltando as oficinas para o exercício de reflexão, autonomia e pensamento crítico.

A metodologia adotada para a intervenção na escola se deu a partir do Arco de Maguerez, que de forma problematizadora e dialógica, visou a inclusão das necessidades locais e dos diferentes sujeitos de forma colaborativa na construção da intervenção para prevenção às violências. O Arco de Maguerez possui como etapas: - a observação da realidade, pontos chaves, teorização, hipóteses de solução e aplicação à realidade. Considerou-se em todas as etapas a gestão participativa de todos os envolvidos na tomada de decisões, enfatizando a autonomia do sujeito como agente de sua própria transformação social.

Neste relato de experiência será enfatizada a intervenção com os Professores da Escola, que se caracterizou como educação permanente, advinda da necessidade de se trabalhar com esses profissionais a capacidade de promover cotidianamente o enfrentamento das violências no ambiente escolar e para além desta, a capacidade de responder de forma não-violenta às demandas diárias dos educandos.

Assim em um ano de intervenção com as e os 20 Professores, realizou-se oficinas, com estratégias interativas e reflexivas diversificadas (contação de histórias, Dinâmicas, Desenho, caixa lúdica, Linha do tempo, Mapeamento da Rede de Serviços, etc.) favorecendo a vivência de metodologias ativas de aprendizagem, com as seguintes temáticas:

●   Oficina 1 – Violência nas escolas;

●   Oficina 2 – Violência de gênero e raça;

●   Oficina 3 –Violências na Escola: tipologias;

●   Oficina 4 –Discussão de caso e fluxo de cuidado em rede;

●   Oficina 5 – Redes de proteção social local:  Ecomapa;

●   Oficina 6- Prevenção e enfrentamento a Auto-mutilação (cutting) e suicídio;

●   Oficina 7– Sensibilização e Criatividade;

●   Oficina 8 – Temas Transversais da Educação e a interface com a Violência;

●   Oficina 9 - Prevenção a Violência no Namoro;

●   Oficina 10-  Avaliação do percurso e encerramento anual.

Para a preparação das atividades na escola as estagiárias desenvolveram uma rotina de Educação continuada a partir das reuniões de planejamento com discussões teóricas e supervisão interprofissional sobre as temáticas que emergiram das práticas. A partir do arcabouço teórico da Pesquisa-Ação as estagiárias produziram Diários de Itinerários sobre todas as ações realizadas, a partir dos quais foi possível avaliar qualitativamente os resultados alcançados pelo Estágio.

Dentre os principais resultados obtidos destacam-se que os encontros na escola serviram como espaço de fala e escuta tendo um potencial terapêutico para os professores; as oficinas ofereceram espaço de educação permanente dos professores para abordagem dos diferentes tipos de violência de forma transversal, curricular e afetiva; além do fortalecimento entre professores e estudantes na perspectiva da educação problematizadora; o fortalecimento de vínculos (UnB – PAV Girassol – Escola) e reconhecimento da Rede de Proteção/Responsabilização em situação de violência.

Para as estagiárias destacam-se a construção de habilidades cognitivas e atitudinais, o desenvolvimento do trabalho em equipe, comunicação em saúde, capacidade de análise institucional e de contexto dos determinantes sociais de saúde, liderança e a incorporação de metodologias interativas no cotidiano dos setores da saúde e da educação. Configurando dessa forma a vivência da interprofissionalidade no trabalho em promoção e prevenção em saúde.

Considera-se que as e os professores têm conseguido transversalizar a temática da violência e assim inseri-la no currículo escolar tornando-a parte não só das queixas cotidianas, mas problematizando-a e refletindo sobre formas de preveni-la e promover uma cultura de paz. Um exemplo disto, foi a escolha feita pelos professores da temática ‘Violência’ ser trabalhada na Avaliação Interdisciplinar de todas as turmas da Escola. Assim como, a interprofissionalidade tem sido alcançada a partir de uma prática reflexiva e adequada às necessidades locais promovida pela ação conjunta dos atores. A ferramenta Arco de Maguerez se mostrou efetiva na sensibilização e reconhecimento das violências por parte das e dos Professores da Escola.

Aponta-se a necessidade de articulação em rede entre a Escola e o serviço PAV-Girassol, assim como maior instrumentalização da Escola sobre a atuação preventiva e interventiva em situações de violências. Para o Estágio aponta-se a necessidade de ampliação de estagiárias e estagiários de outras áreas da saúde.


Palavras-chave


Interprofissionalidade; Promoção; Prevenção; Saúde; Educação; PAV; Violências