Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CUIDADO DE ENFERMAGEM MEDIADO PELA COMUNICAÇÃO INTERCULTURAL: UM RELATO ACADÊMICO
Thais Moreira Gomes, Brenda Sampaio de Souza, Berenice dos Santos Cavalcante, Gabriella Martins Soares, Nayara da Costa de Souza, Sarah Regina Aloise, Esron Soares C Rocha Soares C Rocha

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


INTRODUÇÃO: No atual contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro, os povos indígenas dispõem de um Subsistema de atenção à saúde, regulamentado pela Lei nº 9.836/99. O subsistema tem como objetivo de fornecer acesso aos serviços de saúde de forma integrada, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), considerando a diversidade cultural. A população indígena no Amazonas é muito elevada, chegando a regiões como no Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI do Alto Rio Negro, onde mais da metade da população constitui-se de indígenas, o que nos faz refletir sobre as especificidades desse povo e de como devemos atuar frente os problemas e agravos à saúde dessa população. Isso implicaria em incorporar, no âmbito das ações de saúde, a capacidade de compreender e agir de acordo com as especificidades culturais da população; viabilizar formas de melhoria do acesso equitativo aos serviços de saúde e da qualidade da atenção; gerar impactos sobre os indicadores de saúde; oferecer informações epidemiológicas específicas em relação à saúde das populações indígenas; e propor estratégias de intervenção adequadas às realidades socioculturais. A equipe de enfermagem está envolvida nesse processo do cuidado às populações indígenas. Como tal, é necessário estar inserida nas discussões e amadurecimento de suas práticas, com vistas a atender a política definida em nosso Sistema de Saúde. Assim, as Instituições de Ensino Superior que atuam no Amazonas, necessitam ampliar discussões sobre a formação dos enfermeiros, no que se referem os problemas emergentes das práticas dos profissionais em área indígena, bem como, o processo de formação, sem perder de vista a necessidade da produção de conhecimento da enfermagem no campo da saúde indígena. OBJETIVO: relatar a vivência acadêmica no cuidado de enfermagem ao paciente da etnia Korubo na CASAI (Casa de Saúde Indígena) mediado pelo processo de comunicação intercultural. DESENVOLVIMENTO: A experiência ocorreu na CASAI localizada na AM 010, Km 25 no município de Manaus. A CASAI é parte integrante do Subsistema de atenção à Saúde Indígena. Tem por finalidade prestar apoio a pacientes indígenas referenciados pelos DSEIs aos serviços de média e alta complexidade na rede do SUS. As práticas assistências ofertadas no âmbito da CASAI contempla um rol de ações voltadas à saúde da mulher e da criança, saúde do adulto e saúde do idoso. Essas ofertas envolvem os serviços hospitalares e ambulatoriais da rede de saúde do Estado do Amazonas. Essa assistência é ofertada por uma equipe multidisciplinar composta por enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem e outros. A CASAI é uma instituição que acolhe indígenas com necessidade de saúde de várias etnias oriundas do interior do Amazonas e dos estados vizinhos como Roraima, Acre, etc. Durante a visita, realizada na CASAI os acadêmicos inicialmente conheceram diferentes setores (enfermarias, alojamentos, gerência, sala de curativos, entre outros), assim como o cotidiano dos serviços de saúde ali ofertados. Os alojamentos são divididos em etnia, por considerar os aspectos culturais que envolvem cada povo. Posteriormente, os pacientes indígenas que apresentava maior necessidade de atenção no seu quadro clínico foram distribuídos entre os acadêmicos. Eram observadas as necessidades humanas afetadas desses pacientes e na sequência elaborado um plano de cuidado. Percebeu-se também que cada cultura tem suas peculiaridades em relação ao aspecto saúde/doença. Essa atividade possibilitou a troca de saberes de estilo de vida, aspectos culturais e de saúde entre os usuários indígenas, familiares e os acadêmicos de enfermagem que ali se encontravam. RESULTADOS E IMPACTOS: Um olhar atento sobre a realidade da CASAI pode fornecer elementos importantes para o entendimento dos rumos da política de saúde indígena e da formação do enfermeiro (a) no contexto amazônico. Portanto, nesta parte do relato, propomos descrever nossas observações sobre o processo de comunicação entre usuários indígenas, familiares e profissionais de saúde na CASAI. Durante a anamnese /coleta de dados de enfermagem, destacamos três pontos essenciais para que a comunicação seja mutuamente eficaz na instituição de saúde, no qual envolvem questões culturais, interpessoais e assistenciais. Em relação às questões culturais, podemos destacar a dificuldade de compreensão das línguas indígenas por parte dos profissionais, bem como adequação aos seus costumes, sendo importante criar meios de facilitar a comunicação e compreensão. Um ponto importante observado foi à presença de uma técnica de enfermagem de origem indígena, no qual seus conhecimentos foram importantes para o estabelecimento de uma comunicação diretamente com uma família da etnia Korubo, pois a pouca interação entre o profissional e o paciente culmina em uma relação frágil e pouco concreta o que pode muitas vezes contribuir para uma assistência errada ou ineficaz, pois os pacientes deixam de expor os sintomas por timidez ou dificuldade de se expressarem. Os Korubos, conhecidos como “índios caceteiros”, são povos de recente contato com a sociedade nacional, a maior parte vive isolada por isso pouco se conhece dos seus costumes, tradições, interpretação do processo saúde versus doenças e suas práticas de cura e cuidados.  No entanto, sabe-se que nessa comunidade é comum a relação de casamento entre parentes consanguíneos, que gera maior probabilidade de complicações hereditárias, além da prática de infanticídio.  Durante a aula prática o nosso paciente era uma criança indígena da etnia Korubo, fruto de uma relação consanguínea, diagnosticada com ictiose e posteriormente com úlcera ocular.  Nesse caso os acadêmicos empedrados dos conteúdos teóricos discutidos em sala de aula, procuraram manter o respeito e compreender as crenças sem imposições visando sempre uma assistência de real qualidade e resolubilidade. Observou-se a forte relação interpessoal entre a enfermeira que cuida e oferece assistência à criança. Esse cuidado mais íntimo proporcionou a criação do afeto e carinho, na qual a enfermeira relatou que considera a criança que cuida há quase um ano como membro de sua família. Vê-se a importância dessa relação interpessoal quanto trata-se do binômio paciente-profissional, baseada na empatia que transpira confiança e respeito. Foi possível entender que as questões culturais exercem forte influência sobre as ações e pensamentos sobre a população. Já as questões que envolvem a comunicação assistencial, foi possível observar que a CASAI recebe para tratamento pacientes de várias etnias e muitas vezes essas questões culturais são expostas principalmente em relação ao diagnóstico obtido durante o tratamento interferindo diretamente na qualidade de vida dessa pessoa. Algumas etnias preferem se manter distantes de alguns quadros de saúde crônicos mais complexos devido exatamente a essas influências culturais.  Por isso é essencial nestas situações respeitar e compreender as crenças sem imposições e questionamentos, visando sempre uma assistência de saúde humanizada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os acadêmicos não mediram esforços para prover os cuidados, ultrapassando barreiras culturais, geográficas, linguísticas e de comunicação. Porém, observou-se que a maior dificuldade foi no processo de comunicação com o indígena, visto que não somente entender seu dialeto foi o principal fator, mas também o modo de abordagem, ofertando cuidados e respeitando a cultura dos mesmos. Tendo em vista os aspectos observados, faz-se necessário uma qualificação mais aprofundada para os acadêmicos, para que seja, então, competente, em relação aos aspectos culturais, interpessoais e assistenciais, embasados em conhecimentos antropológicos, a fim de oferecer serviços efetivos respeitando a realidade dos indígenas.

Palavras-chave


Cuidado; Enfermagem; Indígena; Acadêmicos