Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A RESTITUIÇÃO EM UMA PESQUISA-INTERVENÇÃO
FLÁVIO ADRIANO BORGES, Cinira Magali Fortuna, FERNANDA CRISTINA LEMOS MENDES, PRISCILA NORIÉ DE ARAUJO, THALITA CAROLINE CARDOSO MARCUSSI, KAREMME FERREIRA DE OLIVEIRA, SILIANI APARECIDA MARTINELLI, CARLOS ALBERTO FERREIRA

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação: A restituição, na análise institucional, consiste em um momento/espaço onde se possa colocar em análise a própria pesquisa e seus possíveis resultados. Pode-se trazer  aspectos normalmente silenciados e falados apenas em corredores e cafés. Trata-se de focar em uma tarefa – “a análise coletiva da situação presente, no presente – em função das diversas implicações de cada um com e na situação” (LOURAU, 1993, p. 64). A implicação é, resumidamente, a relação que os sujeitos estabelecem com as instituições (MONCEAU, 2012; PENIDO, 2015). A nossa indagação é: a restituição pode se configurar como espaço de aprendizagem? Objetivo: Analisar a restituição em pesquisa do tipo intervenção como potencial para a construção de conhecimento entre participantes e pesquisadores. Desenvolvimento do trabalho: É um estudo de abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-intervenção. Os participantes da pesquisa são os apoiadores da Política Nacional de Humanização (PNH) e os articuladores da Educação Permanente em Saúde (EPS) pertencentes ao Departamento Regional de Saúde de Araraquara (DRS-III). Trata-se de dados parciais dos projetos: “Apoio Institucional e Educação Permanente em Saúde em uma região de saúde do interior de São Paulo: uma pesquisa intervenção” (PPSUS - FAPESP processo 2016/15199-5), a partir da produção de dados da pesquisa de doutorado de um dos pesquisadores, intitulada: “Análise de Implicação Profissional: um dispositivo disparador de processos de Educação Permanente em Saúde” e, do projeto Prêmio INOVASUS/2015 “Produzindo ações de EPS e apoio institucional nos municípios do DRSIII Araraquara”. Na sessão de restituição foram apresentadas as análises de entrevistas realizadas no ano de 2016 com os apoiadores e articuladores. O referencial teórico-metodológico utilizado é a Análise Institucional, na perspectiva da Socioclínica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, sob Protocolo nº CAEE 68438217.8.0000.5393, Parecer nº 2.151.677 e nº CAEE 52679716.8.0000.5393, Parecer nº 1.568.447. seguindo os preceitos éticos da pesquisa em saúde. Resultados encontrados na pesquisa: Nos momentos da restituição realizados nas pesquisas, pôde-se constatar uma intensa produção de conhecimento. Solicitamos aos participantes que verbalizassem livremente sobre o que compreendiam pelo tema “análise de implicação”. Uma interessante construção se deu em ato, na qual analisar e implicar surgem como signos que expressam aquele que coloca em análise, como o implicante nas equipes, num paralelo da função do apoiador/articulador como aquele que aponta o que está errado, a partir da perspectiva de que análise é uma crítica. “De como o apoio ele vem mesmo, é que é na EPS, eu estou trazendo assim...minha mãe implica muito comigo, com o que eu faço. Ela está vendo o que eu faço e acha que estou fazendo errado, ela implica. Ela analisa minha ação. Qual a função disso? Me educar porque ela acha que ela está certa então ela tem conhecimento ela quer ... Então no trabalho, na reunião quem está vendo. Eu como enfermeira acho que estou fazendo correto meu papel, mas alguém de fora vê que posso fazer melhor ou até, o que eu posso potencializar no meu trabalho ou não. Esse outro ser, quem é ele? Ele é maior ou melhor que eu? Não necessariamente, pode ser o diretor que não tem nada a ver com o que eu faço, com meu conhecimento, mas ele pode implicar no meu serviço de alguma forma. Por objetivos próprios deles ou não. Pode ser pessoal ou pontual, é de cada implicador.” (apoiadora de EPS). Segue também outra definição: “Acho que é o quanto estou empenhada, comprometida, responsabilizada com o meu trabalho, quando eu penso nessa palavra implicação [...]” (articuladora de EPS). E um contraponto a esta colocação: “A gente já aprendeu que a implicação não tem a ver com comprometimento… todas as pessoas estavam implicadas de alguma forma com o seu processo de trabalho. Até mesmo aquelas que não estão talvez interessadas em alguma coisa, isso é uma forma de implicação” (apoiadora de humanização). Refletimos também a posição de quem faz a análise: “Eu analiso o que o outro diz ou o que o outro faz, de repente, eu sou um observador analítico”  (apoiadora/articuladora). A restituição possibilitou uma aproximação do grupo com a análise institucional, uma das teorias que fundamenta as políticas de educação permanente e humanização. As colocações feitas pelos pesquisadores, buscando realizá-lo de forma dialógica, contribuem nas reflexões que aos poucos se aproximam da função em análise. Aponta-se a força instituinte desse fazer e as resistências produzidas, frequentemente apresentadas pelo grupo quando referem processos disparados nas equipes dos territórios. “Quando a gente tem essa, pensa em movimento, EPS, que está sempre questionando, a própria política de humanização, o apoio, que está aí questionando, gera um movimento, mas não sem resistência. Vai ter resistência, pessoas vão ser contra, vão boicotar. Tudo isso faz parte movimenta, mas também gera resistência, não é fácil.” (pesquisador). Apresenta-se que os processos fazem emergir os conflitos, fazem o silêncio ter voz, desvelando o que estava oculto. E que o analisador tem a potência de fazer falar a instituição. “Se eu colocar para vocês: vamos analisar o fato de vocês exercerem a função apoio ou articulação sem ganhar dinheiro, o que vocês acham disso?... Sempre quando você põe o dinheiro em análise vai dar pano para manga. Potente analisador em todos os espaços. No próprio contexto familiar se eu penso: eu ganho mais, eu ganho menos, vamos falar sobre isso? Quem ganha mais, quem paga mais, quem paga menos, já é um grande analisador pra colocar a instituição em análise. ” (Pesquisador). E ao apresentar a teoria vamos reconstruindo nossa própria história, marcada pela leitura ancorada nestas referências. A restituição se apresenta como uma possibilidade de produção de dados a partir de dados em produção. “Um exercício que vocês fizessem de pensar, mesmo se eu não fui sujeito da pesquisa, se tem a ver, se não tem a ver. Também não é porque o (nome) ta trazendo que é assim. Pra gente é importante, não concordo, não acho isso. Porque é para a gente poder pensar junto outras facetas dessa perspectiva.” (pesquisadora). Considerações finais: Por meio da restituição, foi possível construir o conceito de implicação numa participação mais efetiva de apoiadores/articuladores do grupo. Trouxe a valorização do estudo que fizemos, o que possibilitou entender esta ferramenta de trabalho sobre uma nova perspectiva. Apoiadores e articuladores puderam ter a expressão do medo de exposição, a curiosidade frente ao conteúdo da exposição, a possibilidade de se reconhecer no que não é particular, mas no que pertence à função apoio.


Palavras-chave


Pesquisa Intervenção, aprendizagem, trabalho em saúde