Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
SÍNDROME DE BURNOUT EM AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DO INTERIOR DO AMAZONAS
Francisca Moreira Dantas, Carlos Eduardo Bezerra Monteiro, Cléber Araújo Gomes

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


Apresentação: No contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF), destaca-se o Agente Comunitário de Saúde (ACS), um membro indispensável na equipe, pois se sobressai dos demais como um profissional de identidade comunitária, que desenvolve atividades relacionadas tanto na dimensão técnica, quanto política do trabalho, e aos mais diversos ares das condições de vida e saúde. O exercício da profissão de ACS resulta em uma relação com o usuário que, por vezes, apresenta-se permeada de ambiguidades, e os conflitos decorrentes são fenômenos característicos dessa profissão, podendo levar os profissionais a sentimentos de ansiedade e até incapacidade de apresentar soluções viáveis ao problema vivido pelos usuários. A Síndrome de Burnout, também chamada síndrome do esgotamento profissional ou estafa profissional, surge pela cronificação de um processo de estresse. É resultante de pressões emocionais repetitivas presentes no ambiente de trabalho. Está associada a ocupações assistenciais, as quais têm contato direto com usuários do serviço, como profissionais da educação e da saúde. Isso ocorre nesses profissionais, dentre outros motivos, devido à divergência entre a expectativa do profissional e a realidade que este encontra no trabalho. O objetivo do estudo é investigar sinais indicativos da síndrome de burnout em ACS do município de Coari no contexto da atuação profissional. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo transversal, individuado, aninhado à pesquisa intitulada “condições de saúde e trabalho dos agentes comunitários de saúde no interior do amazonas”. Foram incluídos no estudo os trabalhadores de ambos os sexos, admitidos há mais de um ano, tendo como referência o primeiro dia da entrevista no local de trabalho. Foram convidados a participar da pesquisa os trabalhadores que se encontravam de férias ou afastados temporariamente da atividade laboral por motivos relacionados com o assunto estudado. Foram excluídos da pesquisa os trabalhadores afastados do trabalho quando o motivo da reclusão não se relacione com o evento estudado, a exemplo dos casos de licença maternidade e outras patologias. Foram excluídos, ainda, os trabalhadores oriundos de povos indígenas. O cálculo amostral para seleção dos trabalhadores que foi construído a partir de quatro critérios: número de trabalhadores, 4% de grau de precisão absoluta, 95% de nível de confiança e considerando que 50% dos trabalhadores apresentam uma boa qualidade de vida. Sendo assim, o número amostral foi de 60 trabalhadores. Ao serem acrescidos 10% ao número de trabalhadores para compensar as possíveis perdas, o número de trabalhadores pesquisados foi 66. Os dados foram coletados por seis entrevistadores previamente treinados, acadêmicos do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas. A coleta dos dados foi antecedida de reuniões que envolveram os pesquisadores com a gerência da Atenção Básica do município, depois com os gerentes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das Equipes de Saúde da Família e com os Agentes Comunitários de Saúde. Foi utilizado um questionário constituído por três blocos (1) Informações gerais: dados sócio demográficos; (2) Informações sobre o trabalho: História ocupacional atual e pregressa; (3) Síndrome de Burnout. A Síndrome de Burnout foi avaliada através do questionário Maslach Burnout Inventory (MBI), traduzido e adaptado para o português, constando de 22 itens, distribuídos em três fatores: 1 – exaustão emocional (9 itens); 2 – falta de realização pessoal no trabalho (8 itens); e 3 – despersonalização (5 itens). O cálculo dos escores dos indivíduos é realizado por meio da atribuição de valores relativos à frequência. O escore total bruto dos sujeitos é obtido por meio dos somatórios de cada item do inventário. O escore do sujeito em cada uma das dimensões (exaustão, realização pessoal e despersonalização) também é computado pelo somatório dos pontos dos itens relativos a cada uma das dimensões. Devido ao caráter multidimensional da síndrome, o MBI tem se mostrado como o mais adequado, sendo utilizado segundo a bibliografia consultada. Os dados foram tabulados e analisados com o auxilio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0 for Windows. Este projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), pois respeita a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado sob o número 44289315.9.0000.5020 pela Fundação Universidade do Amazonas – FUA/ UFAM. Os ACS foram esclarecidos sobre o estudo, bem como seus objetivos, procedimentos e destino dos dados. Também foi informado que a participação no estudo era voluntária e que os resultados seriam tratados com confidencialidade, sendo garantido o anonimato das informações. Os indivíduos que concordaram em participar do estudo assinaram duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Resultados e/ou impactos: A partir das análises dos dados constatou-se que, dos 66 ACS entrevistados, a maioria era do sexo feminino (81,80%), sendo que a média de idade foi de 32,81 (±7,64) anos. Com relação a variável situação conjugal, prevaleceram os indivíduos que eram casados ou viviam juntos (70,80%). No que se refere à escolaridade, a maioria dos ACS apresentavam nível médio completo ou incompleto (84,90%), seguido pelo nível fundamental completo ou incompleto (10,60%) e nível superior completo ou incompleto (4,50%). Todos os ACS estudados trabalhavam na zona urbana (100%), sendo que o número de famílias cadastradas variou entre 58 e 195, com média de 104,49 (±26,06), já o número de pessoas cadastradas variou entre 130 e 930, com média de 495,49 (±142,10) por ACS. A maioria dos ACS não desempenhava outra atividade remunerada (84,80%). Quanto às variáveis relacionadas aos comportamentos de risco, 51,50% não consumiam nenhum tipo de bebida alcoólica e 86,20% nunca fumaram. Com relação a variável satisfação no trabalho 94% dos trabalhadores afirmaram estar satisfeito ou muito satisfeito e 6% relataram estar insatisfeitos ou muito insatisfeitos. Na análise subjetiva sobre a satisfação do ACS com a própria saúde, observou-se um elevado percentual de sujeitos com a satisfação positiva (72,72%). Assim, observou-se que os ACS apresentaram média 4,15 na dimensão Redução da realização pessoal no trabalho, índice mais elevado em relação as outras dimensões. A dimensão Exaustão Emocional vem logo a seguir, com média 2,53 e, por fim, a dimensão Despersonalização, com media 1,94. Considerações Finais: O resultado apresentado no MBI revela, portanto, um sentimento de deterioração da percepção da competência dos profissionais e sua falta de satisfação com o próprio trabalho. Eles demonstram estar emocionalmente esgotados e verifica-se o desenvolvimento incipiente de sentimentos, atitudes negativas e cinismo para com as pessoas por eles atendidas.