Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SAÚDE, DIVERSIDADE E CULTURA: A EXPERIÊNCIA DAS RODAS SOBRE SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS
Willian Fernandes Luna, Cecília Malvezzi, Karla Caroline Teixeira, Dayane Teixeira Almeida

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: Os profissionais que atuam na atenção à saúde indígena nos diferentes Distritos Sanitários Especiais de Indígenas têm trajetórias profissionais e processos de formação bastante heterogêneos, mas muitas das vezes pouco específicos para atuar na atenção à saúde dos povos indígenas. Uma parte importante destes profissionais teve seus primeiros contatos com essas populações quando foram atuar nas aldeias, sendo que apenas uma parte bem pequena escolheu a saúde indígena por motivações pessoais e identificação com esse campo de atuação. Dessa forma, muitos não possuem um mínimo de competências para lidar com as especificidades dessas populações. Identificando essa lacuna importante na formação de profissionais de saúde, e reconhecendo como essencial o despertar da sensibilidade para reconhecer a diversidade e lidar com situações de diálogo intercultural, surge o projeto de extensão "Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas", desenvolvido desde 2016 em parceria com o PET-Indígena Ações em Saúde e atualmente sob a coordenação de dois docentes do curso de Medicina, médicos de família e comunidade com experiência em atuação em áreas indígenas, e duas estudantes indígenas, uma da Psicologia e uma da Medicina. No âmbito das Rodas de Conversa é considerado o universo de comunidades indígenas com distintos processos históricos e construções culturais, dispersas por todo o território brasileiro, sendo defendido que a atuação nas aldeias indígenas é uma possível escolha dos atuais estudantes da área da saúde. Já no caso deste relato de experiências, nos propomos a discutir como foram realizadas as atividades deste projeto de extensão em 2017, bem como reconhecer seus limites e suas potencialidades, o que pode indicar caminhos para a realização de experiências em outras instituições.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: As Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas aconteceram mensalmente, com participação de profissionais, graduandos, indígenas e não indígenas, que tinham interesse em aprender sobre a saúde destes povos, sendo oportunizada a ampliação de conhecimentos a respeito e sensibilização para a diversidade cultural. Baseado nos Círculos de Cultura de Paulo Freire e outras metodologias ativas de ensino-aprendizagem, os encontros foram realizados na própria Instituição, num total de cinco encontros em 2017, com duração de quatro horas cada. Em cada encontro havia uma temática principal guiada por uma questão orientadora, que inicialmente foram mais específicas sobre a saúde indígena, no entanto, ao longo dos encontros, foram ampliadas para outros temas afins e importantes para o contexto em que vivem as populações indígenas e que de forma indireta envolvem também o campo da saúde.

Em ordem cronológica, as questões orientadoras foram: 1) O que é ser indígena? 2) Há relação entre saúde e cultura? 3) Saúde indígena enquanto direito: é necessário? 4) Quais as aproximações entre cosmologia e saúde? 5) Por quê o indígena na UFSCar?

Os encontros tiveram uma estrutura geral padrão, iniciando com um acolhimento dos participantes com uma fala inicial de boas-vindas e apresentação feita pelos coordenadores; seguido por uma atividade disparadora da temática, ainda em grande grupo, como assistir a um vídeo, utilização de tarjetas, ou troca de ideias inicial; depois os participantes eram divididos em quatro pequenos grupos, que se reuniam em salas diferentes. Em cada pequeno grupo discutia-se a questão central, quando cada pessoa trazia suas vivências, reflexões, fazia a leitura de pequenos trechos de texto, sempre com foco em fazer relações com o tema. A síntese da discussão em pequeno grupo era registrada em cartolinas, papel A4 ou em tarjetas. Terminado esse momento, todos os participantes se reuniam novamente em grande grupo, quando cada pequeno grupo compartilhava suas sínteses com o grupo maior, possibilitando novas reflexões e mais diálogos através dessa nova síntese coletiva.

Além dos encontros presenciais, foi criado um blog, onde a cada encontro foram disponibilizados conteúdos complementares, compostos de livros, artigos, filmes e músicas, que propiciaram aos participantes um maior aprofundamento e discussão a respeito da temática da Roda. Ao final de cada encontro cada participante podia realizar uma síntese individual no espaço do blog "Diário de atividade" registrando o que aprendeu durante a Roda. Para os participantes que estiveram presentes em 75% dos encontros e que realizaram as atividades à distância, foi conferido um certificado de participação no Projeto de Extensão.

RESULTADOS: As Rodas sobre Saúde dos Povos Indígenas tiveram seu início no ano de 2016 a partir de uma demanda dos próprios participantes do PET-Indígena Ações em Saúde, mas desde então vêm ganhando um número maior de interessados. Houve um grande aumento progressivo no número de participantes do ano de 2016 para 2017, com 35 e 87 respectivamente, sendo frequentado por indígenas e não indígenas, estudantes e professores da UFSCar, profissionais da área da saúde e educação do município, pesquisadores da região, entre outros. Foram espaços de reflexão, discussão e diálogos muito ricos, com troca de conhecimentos e experiências e relatos das vivências pessoais. Não foi possível realizar atividades em todos os meses devido a processos de greve na Instituição e alterações no calendário escolar, o que levou a acontecerem apenas cinco Rodas. No último encontro foi realizada uma avaliação da atividade através de um questionário com perguntas abertas distribuído aos participantes. Estes resultados servirão para aprimorar a atividade em suas próximas edições. Nas avaliações realizadas, percebemos que estas discussões colaboram no reconhecimento enquanto indígena, favorecem a compreensão histórica e política sobre os processos de exclusão e opressão sofridos por estes povos, bem como reflexões sobre o indígena na contemporaneidade e seu papel na sociedade, seja nas aldeias, seja nas cidades e na universidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: O formato de discussão em Rodas de Conversa sobre as temáticas da saúde indígena proposta possibilitou a construção de novos saberes interdisciplinares através da imersão dos participantes no contexto complexo da saúde nestes territórios, abordando temas sobre as políticas públicas, as relações dos conflitos de terras e a saúde pública e luta por direitos, e o quanto tudo isso tem implicações diretas sobre a saúde dos povos indígenas. Outro resultado dessa atividade foi dar visibilidade a temática sobre as questões de saúde indígena, colaborando em suas qualificações e podendo despertar o interesse dos profissionais de saúde para as questões das especificidades étnico-culturais. Este diálogo aponta ainda para possibilidades de inserção da temática da saúde indígena nas matrizes curriculares dos diferentes cursos de graduação na área da saúde da Instituição, para que favoreçam o desenvolvimento de competência cultural para o futuro profissional de saúde, independentemente de seu cenário de atuação.


Palavras-chave


saúde indígena; educação em saúde; formação de profissionais de saúde