Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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VIVÊNCIAS DE APOIO MATRICIAL NA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE
Maurício Teixeira, Olinda Maria de fátima Lechmann Saldanha, Andreas Rucks Varvaki Rados, Gabriel Trevisan Correa, Magali Terezinha Quevedo Grave, Sandro Frohlich, Fábio Guarnieri, João Augusto Peixoto de Oliveira

Última alteração: 2018-01-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: O trabalho objetiva relatar uma vivência interprofissional realizada por docentes e estudantes, por meio de atividades práticas e estágios curriculares obrigatórios dos cursos de graduação da área da saúde, na Clínica Universitária Regional de Educação e Saúde - Cures. O texto apresenta a caracterização do serviço, as demandas que motivaram a equipe a implementar as ações de Apoio Matricial e os impactos dessas ações junto aos serviços e no processo de formação interprofissional. A Cures, é um serviço-escola (SE), localizado no município de Lajeado, no estado do Rio Grande do Sul, criado e mantido pela Universidade do Vale do Taquari - Univates, instituição de Ensino Superior (IES) comunitária e sem fins lucrativos. Iniciou suas atividades em março de 2011 com docentes, estudantes e supervisores da área da saúde que desenvolvem atividades práticas vinculadas às disciplinas e aos estágios curriculares em interação com as equipes da rede de municípios da região. Atualmente, o serviço agrega os cursos de Biomedicina, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Psicologia. Cada curso conta com um profissional da área, denominado de supervisor local, que é o responsável pelo acompanhamento das atividades e avaliação dos estudantes e estagiários. O serviço propõe-se a integrar uma rede regional de cuidados do campo da Saúde, da Educação e da Assistência Social dos municípios conveniados com a IES, onde as vivências e intervenções estão baseadas nos princípios da interdisciplinaridade, da integralidade e da intersetorialidade. As ações de cuidado são planejadas e desenvolvidas em parceria com profissionais dos municípios da região, visando de modo simultâneo, os atendimentos às pessoas, a qualificação dos trabalhadores de saúde da rede e a formação interprofissional dos estudantes. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O SE tem como referência as proposições da ampliação da clínica e a realização de projetos terapêuticos que demandam estudo, abertura para romper com antigos modelos de intervenção e cuidado em saúde. Ao articular as atividades de estágio, como serviços de saúde e educação da rede pública e a proposição da construção conjunta de PTS para os usuários referenciados surgiu o tensionamento interinstitucional em função das diferenças nos modos de organização dos processos de cuidado entre o SE e as equipes da rede. As equipes dos municípios relataram fragilidades e dificuldades para a implementação das ações de cuidado propostas para os usuários. Estas dificuldades eram de relacionamento entre os profissionais, entre as equipes da rede ou relacionadas aos processos de trabalho e à promoção de cuidado. Os relatos dos trabalhadores apontavam que ainda predominava o fazer disciplinar e fragmentado nas ações de cuidado, contrapondo-se às mudanças propostas pelo SUS e pelo SE. Diante deste contexto, a equipe interprofissional da Cures passou a desenvolver ações de apoio matricial (AM) com equipes dos municípios de origem dos usuários referenciados. Uma equipe da CURES, constituída por estudantes/estagiários, sob a orientação e participação de um docente/supervisor formulava uma proposta para a realização de encontros periódicos para o AM, que era apresentada e pactuada com a equipe municipal. O AM é uma ferramenta institucional para promover a interlocução com os profissionais, de modo a horizontalizar as especialidades e trabalhar com a cogestão dos saberes e relações interprofissionais. O início das ações foi precedido pela apresentação da proposta e dos objetivos do AM ao grupo de estagiários do SE.  Os estudantes poderiam inscrever-se para compor as equipes ou eram convidados pelos docentes para participar e iniciavam estudos sobre o AM e sobre as demandas e o contexto da equipe que seria apoiada, coordenados por um docente.  As atividades de AM foram realizadas entre 2013 e 2015 para equipes de municípios de pequeno porte, que não possuíam equipes de Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os encontros com os profissionais dos municípios eram mensais, com datas previamente agendadas e duração média de duas horas cada um. Ao final de cada encontro de AM a equipe do SE reunia-se para relatar as situações vivenciadas e observadas, seguida de debates e problematizações, buscando identificar e compreender o funcionamento, as demandas, necessidades, potencialidades e fragilidades das equipes. Também eram avaliadas as intervenções, sentimentos e desafios para a equipe do SE. As ações de AM foram desenvolvidas com equipes de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), uma equipe de um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Cada uma teve a duração de pelo menos um ano. RESULTADOS: Os encontros oportunizaram a escuta dos trabalhadores, a valorização dos saberes de cada um, a identificação das situações de satisfação e de dificuldades no trabalho e a problematização das situações descritas. A equipe de apoio instigava os profissionais para o reconhecimento de suas potencialidades e responsabilidades com a população e o planejamento e execução de ações de cuidado, por meio de oficinas, rodas de conversa e visitas domiciliares. A partir destes encontros ocorreram algumas mudanças nos processos de trabalho das equipes, que passaram a problematizar e planejar ações de cuidado para alguns usuários que demandavam maior atenção, maior articulação com outros serviços da rede, estabelecendo parcerias e pactuações entre os serviços. No entanto, também ocorreram dificuldades, entre elas, a falta de adesão de alguns profissionais de saúde e a interrupção das atividades de AM, com a mudança de gestão nos municípios. Para as equipes da CURES, as ações proporcionaram aos estudantes que integraram as equipes de AM do SE a possibilidade de interagir com os profissionais das equipes municipais, conhecer os contextos e as demandas e participar do processo de problematização e planejamento de intervenções nos diferentes cenários. As vivências e aprendizagens foram destacadas pelos estudantes e docentes, pela possibilidade de conviver e analisar os desafios que envolvem os processos de gestão e cuidado nos serviços de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A realização de ações de AM na rede de serviços municipais de saúde mostrou-se uma estratégia potente tanto do ponto de vista pedagógico quanto no tensionamento para a construção de processos de trabalho de cuidado em saúde. Experiências como estas representam avanços na formação de profissionais, que acreditem na importância do trabalho em equipe e da integralidade da atenção no cuidado ao sujeito. O trabalho também reforça o compromisso com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a responsabilidade da Universidade na formação de profissionais comprometidos com a promoção da saúde e da vida.



Palavras-chave


Educação em Saúde; Apoio Matricial; Colaboração intersetorial