Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Vivências Interprofissionais Inovadoras da Liga Interdisciplinar de Saúde da Criança no Oeste da Bahia
Mússio Pirajá Mattos, Daiene Rosa Gomes

Última alteração: 2017-12-07

Resumo


Apresentação: As práticas interprofissionais têm despertado interesse das instâncias políticas e das instituições de ensino superior responsáveis pela formação de profissionais da saúde, reforçando a importância dessa vivência para a melhoria do cuidado em saúde. A educação interprofissional em saúde pode ser compreendida como uma ação em que os educandos de áreas diversas compartilham seus saberes e a partir da interação de trabalho em equipe, contribuem para o melhor cuidado aos usuários. As práticas das equipes integradas são caracterizadas pela colaboração, respeito mútuo e confiança, fundamentada no reconhecimento do papel profissional das diferentes áreas, com interdependência e complementaridade dos saberes e ações. Para a mudança das práticas na perspectiva do trabalho em equipe de saúde é necessário que haja um redirecionamento dos valores em que está ancorada a prática profissional, da fragmentação, hierarquização, trabalho individualizado, e modelo biomédico hegemônico, para a integração, democratização das relações de trabalho e integralidade das ações de saúde. Desse modo, pode-se dizer que o trabalho em equipe representa um componente de reorganização das práticas de saúde com recomposição, articulação e integração profissional, que se justifica mediante mudanças concomitantes do modelo de atenção à saúde na perspectiva da integralidade. A proposta da interdisciplinaridade busca reconhecer e dar viabilidade à interdependência entre as disciplinas com interação e reciprocidade dos especialistas de diferentes áreas, em prol da construção de um saber integrado, para superar a fragmentação e possibilitar a compreensão da complexidade da realidade. A educação interprofissional em saúde reforça a relação direta da formação com o trabalho, ou educação contextualizada na realidade de trabalho, mediante a estreita conexão entre saberes e práticas, para superar a racionalidade positivista científica, enfrentar o antagonismo entre a lógica profissional que preconiza o núcleo do saber de cada área, com a diferenciação profissional em contraposição à necessária lógica da colaboração profissional, como uma condição de qualificação das práticas de saúde para educação e prática interprofissional. As grades curriculares dos cursos de graduação já não são suficientes para o preparo do acadêmico, sendo assim, os alunos buscam as Ligas Acadêmicas, através de uma formação de currículo informal, para serem diferentes daqueles que se baseiam na grade comum das Instituições de Ensino Superior. Aprender com entusiasmo também é um fator contributivo para procura das Ligas Acadêmicas, tratando-se de atividades que o aluno pode qualificar seu currículo, atuar junto à comunidade, além de ser um espaço livre de formalidades acadêmicas e poder escolher participar ou não. Objetivo: Relatar a experiência de vivências interprofissionais com uso de metodologias ativas no processo de ensino e aprendizagem da Liga Interdisciplinar de Saúde da Criança (LISC) no Oeste da Bahia. Descrição e impactos da experiência: A LISC é formada por educandos dos cursos de saúde da Universidade Federal do Oeste da Bahia e de outras Instituições de Ensino Superior do Município de Barreiras, permitindo a formação de um grupo multiprofissional com estudantes dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia, Nutrição, Psicologia e Fisioterapia. Esse agrupamento contribuiu para que os membros da Liga vivenciassem o tripé ensino-serviço-comunidade, discutindo as práticas de saúde de forma interdisciplinar, adotando uma perspectiva problematizadora e integrada ao desenvolvimento e às experiências de saúde e doença, por meio das Metodologias Ativas (MAs). A LISC trata-se de um espaço destinado a discussão de temas de interesse a saúde materna e infantil, fortalecendo a interação entre estudantes, profissionais, universidade, comunidade de forma humanizada. As MAs surgem como uma alternativa de mudança para o processo ensino-aprendizagem. Elas podem ser compreendidas, também, como uma concepção educativa que estimula processos construtivos de ação-reflexão-ação, em que o estudante tem uma postura ativa em relação ao seu aprendizado numa situação prática de experiências, por meio de problemas que lhe sejam desafiantes e lhes permitam pesquisar e descobrir soluções, aplicáveis à realidade. Foi realizado um arranjo metodológico estratégico com a participação dos educandos em equipes multiprofissionais, ou seja, grupos que representassem cursos distintos. Essa metodologia representou um arranjo inovador, não apenas pela forma inusitada, mas especialmente no que ela representa. Quando falamos num arranjo multiprofissional nos referimos a uma equipe de trabalho onde o aluno deixa de ser, ele sozinho com suas habilidades e, passa a juntar sua equipe de trabalho, onde há comunicação, passando a intervir sobre a realidade do serviço de saúde e atender a necessidade de saúde dos usuários com suas habilidades profissionais. Os alunos eram responsáveis por problematizar as atividades e o conteúdo teórico-prático, juntamente com a equipe, com o objetivo de realizar intervenções efetivas no contexto de cada realidade e propor mudanças. As equipes definiram estratégias de trabalho e organizaram as apresentações teóricas e, também, de maneira lúdica com construção de banners, folders, caixa de medicamentos, bonecos e peças anatômicas referente às mamas. O acompanhamento das avaliações dos membros das equipes multiprofissionais ficou sob responsabilidade dos membros das equipes, assim como, dos ouvintes. Os temas discutidos pelos grupos foram: Intercorrências mamárias relacionadas à lactação; Maternagem: Amamentar é muito mais que alimentar; Cuidando da amamentação e alimentação do seu bebê; Amamentação: nutrição, proteção e amor para o seu bebê; Posicionamento da mãe com o bebê durante a lactação; Uso de medicamentos durante a gestação e lactação; Como as relações familiares podem ser afetadas no processo de aborto e a Influência do transtorno do espectro autista nas relações familiares. É importante formar profissionais com conhecimentos, habilidades e atitudes para trabalhar em equipe e percepção dos fatores biopsicossociais e, como consequência, ressignificar e reinventar as práticas de saúde. Sendo assim, resolvemos vencer as barreiras dentro da sala de aula e explorar o tripé ensino-serviço-comunidade com ações de educação em saúde e recolher essas experimentações. A participação dos estudantes da LISC tem gerado relatos interessantes de atividades educativas no Oeste da Bahia, em feiras de saúde vinculadas a associações sem fins lucrativos; Participação em eventos como a Semana do Bebê promovido pela Prefeitura Municipal de Barreiras em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância; Orientação em grupos de Gestantes em parceria com as Equipes de Saúde da Família; Ações no dia das crianças em orfanatos e a realização do primeiro Simpósio de Aleitamento Materno do Oeste da Bahia. Foi verificado desenvolvimento de relações interpessoais e construção do trabalho interdisciplinar que favoreceram a autonomia e participação de todos na assistência a saúde. Considerações finais: O trabalho interprofissional desenvolvido pela LISC contribuiu para um olhar não mais singular, e sim plural, que trouxe a possibilidade do trabalho em equipe encontrar soluções de maneira compartilhada que atenderam as necessidades da população. Convém salientar que as atividades da LISC propiciaram o surgimento de um modelo de educação inovadora que estimularam respeito à autonomia do individuo, comunidade e profissionais da saúde; educação dialogada e reflexão no papel de educador em saúde, permitindo uma vivência verdadeiramente transformadora.


Palavras-chave


Interdisciplinariedade; Interprofissionalidade; Saúde Materna e Infantil