Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CAMINHOS E DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE NUM CENTRO DE REABILITAÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO BRASIL
José Gutembergue de Vasconcelos Bezerra, Cristina Camelo de Azevedo, Josineide Francisco Sampaio

Última alteração: 2018-01-25

Resumo


APRESENTAÇÃO

O trabalho interprofissional vem se configurando como alternativa viável para a reaproximação das múltiplas profissões da área da saúde que historicamente vêm se distanciando ao adotarem modelos de intervenção isolacionistas e pouco dialogados.

A formação desses profissionais tende a seguir a lógica de privilegiar o conhecimento e a técnica e negligenciar o diálogo dos saberes das diferentes profissões. Assim, o contexto da reabilitação física vem enfrentando o desafio de aproximar seus diversos atores na busca por oferecer serviços de saúde mais eficazes e humanizados

A partir da pesquisa de mestrado intitulada: “DESAFIOS DA FORMAÇÃO PARA O TRABALHO INTERPROFISSIONAL NO CONTEXTO DA REABILITAÇÃO” desenvolvida no Centro Especializado em Reabilitação da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – CER UNCISAL, identificou-se que existe um hiato entre as determinações dos projetos pedagógicos dos cursos de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional para a formação interprofissional e as rotinas de atendimento instituídas no referido Centro, que funciona como campo de estágio supervisionado.

Portanto, a realização de uma oficina de sensibilização sobre a interprofissionalidade no CER é uma estratégia que favorece a adesão dos gestores, professores e preceptores ao trabalho e educação interprofissional por se reconhecerem como atores e coautores desse projeto, no momento em que são chamados à discussão da temática e oportunizando-lhes uma reflexão coletiva sobre os caminhos a se percorrer e os problemas a se enfrentar.

Foram OBJETIVOS da oficina:

· Sensibilizar os preceptores para a adoção do trabalho interprofissional e práticas colaborativas na rotina do serviço;

· Mobilizar a gestão do CER e as coordenações de estágios supervisionados obrigatórios desenvolvidos no centro para a articulação de ações voltadas à formação para o trabalho interprofissional.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

A definição de realizar uma oficina de sensibilização para o trabalho interprofissional foi fruto da reflexão sobre como colaborar com a implantação de rotinas de trabalho e formação interprofissionais no CER da UNCISAL a partir das ações dos próprios componentes do serviço, considerando suas diferentes atuações: gestão institucional, assistência, ensino e coordenação acadêmica dos cursos.

O formato desta oficina se desenhou a partir da observância dos seguintes critérios norteadores:

1) Estimular o debate destes preceptores sobre a interprofissionalidade incentivando-os a fornecer alternativas de práticas colaborativas adequadas à sua realidade e ao seu contexto de trabalho;

2) Servir de subsídio para a elaboração de um relatório sobre as propostas de trabalho e educação interprofissionais no contexto da reabilitação a partir dos conteúdos produzidos.

Para tanto, o encontro foi composto por dois momentos-chave, em que o primeiro compreendeu a apresentação da temática da interprofissionalidade, e no segundo momento foi desenvolvida uma roda de conversa oportunizando as discussões suscitadas pela atividade anterior.

Foram convidados 40 profissionais, todos preceptores dos cursos de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, que exercem suas atividades de preceptoria no CER UNCISAL, dentre os quais a gerente do centro e os coordenadores dos estágios supervisionados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de 40 preceptores convidados, 07 compareceram ao encontro. Destes, 04 do curso de terapia ocupacional e 03 do curso de fisioterapia. Não houve participação de preceptores do curso de fonoaudiologia. É importante destacar que dos 7 componentes, 5 exerciam algum tipo de função de gestão, seja acadêmica ou institucional:

- Gerente do CER UNCISAL

- Gestora docente assistencial do CER UNCISAL

- Coordenadora dos estágios supervisionados do curso de terapia ocupacional

- Coordenadora dos estágios supervisionados do curso de fisioterapia

- Coordenador do curso de fisioterapia

A relevância do interesse de atores vinculados à gestão se justifica porque deles podem partir as ações promotoras da interprofissionalidade, porém além disso aponta a necessária sensibilização desses personagens a esta prática de trabalho, incentivadoras ao mesmo tempo de educação interprofissional.

Dentre as diversas falas registradas, destaca-se a fala da gerente do Centro sobre a inclusão da pauta da interprofissionalidade nas discussões para elaboração do Regimento do CER UNCISAL:

“[...] a proposta é de discutirmos com a equipe a inclusão da interprofissionalidade no regimento do CER que está em fase de elaboração e pensar em práticas mais conjuntas, avaliações de equipe que a gente não tem, ver protocolos, triagem, reuniões de equipe.

O compromisso da gestão deve ser entendido como fator indispensável para a efetivação da prática da interprofissionalidade, sobretudo quando aproxima a equipe do âmbito das decisões regimentais norteadoras desse projeto.

Possibilidades de ações interprofissionais foram sugeridas pelo grupo como forma de iniciar rotinas de trabalho voltadas às práticas colaborativas, dentre as quais:

“Poderíamos juntar no final de cada estágio as apresentações de estudos de casos clínicos pelo menos para os alunos se ouvirem, não falarem para seus iguais e sim para os colegas de outras áreas. Eu vejo que isso já poderia ajudar a sensibilizá-los.”( Coordenadora de estágio supervisionado)

Deve-se considerar que a inserção dos estudantes na discussão da interprofissionalidade, além de promover o enriquecimento das propostas e permitir a oportunidade de vivenciarem a mudança desse paradigma da formação tradicional, também incentiva o envolvimento dos próprios preceptores com as práticas interprofissionais.

Também são feitas considerações quanto à nova matriz curricular - em fase intermediária de implantação - identificando-se as dificuldades de modificar a tendência ao isolamento das profissões ainda nos primeiros anos de formação.

“Temos uma dívida histórica da interprofissionalidade... lá atrás, na formação. A proposta pedagógica já contempla há tempo, então essa conta é antiga! ”

Decerto, há de se reconhecer que o trabalho interprofissional em saúde é mais exigente, requer mais discussão e diálogo, o que sugere maiores chances de conflitos e situações de exposição, ainda mais se, concomitantemente, também existirem as vivências de educação interprofissional em saúde, em que os estudantes vão transitar e compartilhar desse ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das reflexões coletivas sobre os benefícios da interprofissionalidade para a equipe de reabilitação e os desafios inerentes a serem enfrentados, pode-se concluir que as estratégias para o desenvolvimento da formação interprofissional em saúde, necessitam muito além da reelaboração de rotinas de trabalho ou projetos institucionais.

Destaca-se a participação das gestões acadêmicas dos cursos e da gerência do CER UNCISAL, sensíveis à proposta da interprofissionalidade, não apenas no plano das ações, mas sobretudo na sua oficialização no regimento do Centro, a partir de decisões coletivas, dialogadas e democráticas, tal qual a filosofia do trabalho interprofissional e práticas colaborativas.

A identificação da dificuldade de integração entre os estudantes de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional após a recente adoção das novas matrizes curriculares oportunizou reflexões sobre os ajustes necessários ainda durante a implementação das mesmas, o que do ponto de vista prático é mais viável porque comportamentos ou rotinas destoantes da proposta ainda não estão sedimentados.


Palavras-chave


preceptoria; relações interprofissionais; reabilitação