Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A ESPIRITUALIDADE NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Wanessa Jéssica Dinelly da Luz de Azevedo

Última alteração: 2017-11-05

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Enfermagem, como ciência dinâmica e integrada, requer profissionais hábeis com espírito de liderança e tem sua assistência fundamentada na percepção de que os clientes são seres sociais, portadores de vivências, crenças e valores distintos. Nesta perspectiva, a presente Revisão Integrativa da Literatura teve como objetivo identificar a importância da espiritualidade na assistência de Enfermagem e a influência da dimensão espiritual no processo do cuidar, através da análise de produções científicas publicadas entre outubro de 2004 e outubro de 2014. Para alcançá-lo, fez-se necessário: Caracterizar os estudos publicados referentes à Espiritualidade na Assistência e Ensino de Enfermagem; Relatar as concepções dos acadêmicos e professores de Enfermagem sobre a espiritualidade em seu processo formativo; Conhecer as concepções do enfermeiro sobre a espiritualidade em sua prática; Relatar concepções dos clientes sobre a espiritualidade em suas vidas; Descobrir se os valores espirituais da equipe de Enfermagem interferem no seu processo de cuidar e Relatar os níveis de bem-estar espiritual/religioso dos enfermeiros e clientes. DESENVOLVIMENTO: Foram pesquisados os artigos científicos, monografias e dissertações sobre Espiritualidade na Assistência e Ensino da Enfermagem disponibilizados nos bancos de dados SCIELO, LILACS e BDENF, publicados entre outubro de 2004 e outubro de 2014, por meio dos descritores: “Enfermagem”, “Enfermagem e Ensino” e “Espiritualidade”. Após o descarte de repetições e atendimento aos critérios de inclusão, obteve-se uma amostra de 27 publicações científicas. Para a coleta de informações foi utilizado o instrumento publicado e validado por Ursi no ano de 2005 em sua dissertação de mestrado, sendo adaptado para este estudo. Os dados foram tratados através da Análise de Conteúdo de Bardin, composta por três etapas: Pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados: inferência e interpretação. Os dados foram organizados de maneira descritiva através de planilhas em ordem numérica crescente, de acordo com o ano de publicação. Surgiram quatro categorias: Caracterização dos estudos; Concepções de Estudantes, Professores, Enfermeiros e Clientes Sobre a Espiritualidade e Religiosidade; Principais Barreiras Expressadas por Estudantes, Professores e Enfermeiros Relacionadas à Abordagem Espiritual e Nível de Bem-Estar Espiritual e Religioso de Enfermeiros e Clientes. RESULTADOS: Constatou-se que não houve publicação entre 2004 e 2006. 92,6% das pesquisas pertencem ao Brasil e o Estado de São Paulo assumiu a liderança com 37,1%. Observou-se que 51,9% da amostra foi realizada em Hospitais, seguida pelos Centros de Pesquisa, com 25,9%. Quanto ao delineamento, 37,1% eram estudos descritivo-quantitativos, 37,1% eram descritivo-qualitativos e 25,8% eram Revisões de Literatura. O periódico que se destacou em relação ao número de publicações foi a Revista Latinoamericana de Enfermagem, com 22,3%. Os objetivos das pesquisas centraram-se sobretudo nas concepções, atitudes ou vivências espirituais/religiosas dos enfermeiros, perfazendo 44,5%. Os autores aplicaram como instrumentos sobretudo fichas para coletas em banco de dados, em 25,9%, seguidos por entrevistas semiestruturadas, utilizadas em 18,6%. Em relação ao nível de evidência, 63,0% foram classificados como Nível IV, enquanto 25,9%, por serem Revisões de literatura, não estavam incluídas na classificação hierárquica. Tanto a identificação de limitações/vieses dos estudos quanto a descrição de recomendações por parte dos autores foram superiores a 50%. Quanto às concepções de estudantes, professores, enfermeiros e clientes sobre a espiritualidade e religiosidade, a primeira é descrita como uma dimensão extremamente complexa e de conceito subjetivo, intrínseca ao ser humano e que influencia no seu estado de saúde, tornando-se um instrumento amplamente utilizado no enfrentamento de doenças, problemas e situações de estresse. Diversos estudos demonstram que entre indivíduos com maior espiritualidade/religiosidade há menor incidência de suicídio, depressão e uso abusivo de drogas. Observou-se que entre as publicações científicas analisadas, houve convergência quanto à concepção de professores e acadêmicos sobre o cuidado espiritual, ao expressarem o desejo de abordar o assunto junto ao cliente e referindo que o mesmo deve ser incluído na grade curricular do curso de Enfermagem nas Universidades. Resultados semelhantes foram obtidos em relação aos enfermeiros, os quais demonstraram em sua maioria o interesse em realizar esta assistência, considerando esta dimensão importante para a evolução dos clientes, embora alguns ainda mantenham a concepção de que esta é irrelevante em sua prática e que não gera efeitos sobre a condição de saúde, afirmando que raramente pensam a respeito em seu local de trabalho, ou referindo que a Enfermagem não deve interferir neste assunto. Os clientes participantes dos estudos relataram como principais necessidades espirituais a compreensão e atribuição de um sentido à atual situação de doença; a existência de harmonia consigo, com a família, os amigos e com Deus; a capacidade de perdoar e receber perdão e encontrar soluções, sendo para eles tão importante quanto o alívio da dor. As barreiras mais comuns enfrentadas na rotina do estudante e profissional referem-se ao despreparo, receio de ofender ou impor sua crença ao outro, sentir-se incomodado, ser mal interpretado, medo de ser reprovado pelos colegas de trabalho, falta de tempo e dificuldade em compreender a dimensão espiritual como diferente da psicológica, além de alguns não conseguirem distinguir os termos religiosidade e espiritualidade, associando-os ao mesmo significado. Em relação ao nível de Bem-Estar Espiritual, em algumas pesquisas, após a aplicação das Subescalas de Bem-Estar Existencial e Bem-Estar Religioso, ambas pertencentes à EBE, notou-se que alguns enfermeiros mantiveram uma média considerada baixa, e que um grupo de clientes apresentava conflito espiritual, o que poderia resultar no comprometimento de seu convívio com a doença e a forma como realizavam o tratamento. Quanto ao enfrentamento, as mulheres mais jovens e com rendas maiores, que frequentavam a igreja semanalmente utilizavam consideravelmente o CREP, enquanto os homens jovens e de renda inferior utilizavam mais o CREN, variando entre frequentar e não frequentar semanalmente a igreja. É imprescindível atentar-se ao fato de que os profissionais também são afetados espiritualmente como qualquer outro ser humano, como fora relatado por algumas enfermeiras, que se sentiam fragilizadas ao lidar constantemente com situações de perda e dor nas Unidades de Terapia Intensiva. Vale ressaltar que não é apenas neste setor que os cuidadores sentem-se afetados, mas em todos nos quais atuam, conforme os achados de alguns pesquisadores. Durante a análise dos dados, foi constatado que os estudos apresentaram como principais limitações: sua realização em um único centro, a subjetividade do tema investigado, o número reduzido de amostras e a existência de poucos estudos que permitissem comparações. Sendo assim, destacou-se entre as recomendações, a realização de novas pesquisas acerca do tema. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O cuidado representa um comprometimento ético com a preservação da dignidade de quem está sendo assistido, sendo mantidos entre os cuidadores os laços de respeito, compreensão e valorização à personalidade dos clientes. Sendo assim, para que a equipe de Enfermagem desempenhe cada vez mais seu papel com êxito e englobe em seu processo assistencial todas as esferas da vida humana, não deve descartar o direcionamento de um cuidado visando também à manutenção do equilíbrio da espiritualidade da pessoa que está sob sua responsabilidade. É necessária ainda a abertura de um espaço formal de discussão sobre esse assunto na Universidade, uma vez que as principais dificuldades apontadas pelos cuidadores nas publicações estudadas surgiam, sobretudo, do despreparo destes em relação à assistência dessa dimensão humana, assim como é indispensável a realização de outros estudos, que contribuam para futuras intervenções relacionadas a esta temática em saúde.


Palavras-chave


Espiritualidade, Assistência de Enfermagem, Religiosidade