Associação da Rede Unida, 13º Congresso Internacional Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A competência do profissional de saúde na prática do aconselhamento na testagem rápida para HIV, sífilis, hepatites B e C em Manaus- AM
Isabela Gonçalves, Gabriela Abreu, Lorena Lobo, Phâmela Costa, Nathália França

Última alteração: 2017-11-09

Resumo


A partir da concepção ampliada do processo saúde-doença, a ‘atenção à saúde’ tem como objetivo conceber e organizar as políticas e as ações de saúde em uma perspectiva interdisciplinar, partindo da crítica em relação aos modelos excludentes, seja o biomédico curativo ou o preventivista. Tendo em vista a importância social e epidemiológica das infecções sexualmente transmissíveis, o Ministério da Saúde instituiu políticas direcionadas no intuito de evitar, eliminar ou minorar tal questão. Uma delas diz respeito a testagem rápida para o HIV, Sífilis, Hepatites B e C no âmbito da Atenção Básica (AB). Dessa forma exige-se que os profissionais da AB possuam competências, possibilitando a tomada de decisão fundamentada em conhecimentos específicos para a realização da testagem rápida, assim como do aconselhamento pré e pós teste.  O aconselhamento, em especial, é uma ferramenta fundamental da testagem rápida, na qual se pode orientar sobre a situação de saúde, e evitar futuros riscos para si e para os outros. Objetivo: Examinar a competência dos profissionais de saúde na prática do aconselhamento e conduta frente aos usuários que realizam a testagem rápida para HIV, Sífilis, Hepatites B e C na rede de atenção à saúde da cidade de Manaus no ano de 2014. Método: Pesquisa de cunho quantitativo, de caráter descritivo a partir de dados primários, coletados com os profissionais de saúde de nível superior, envolvidos diretamente no processo de testagem rápida (TR) e aconselhamento das unidades de saúde do distrito sanitário oeste e sul da secretaria municipal de saúde de Manaus (SEMSA) em 2014. Foram excluídos os profissionais que não estavam presentes ou estavam afastados, de licença médica ou férias e os que entregaram o questionário sem resposta. O instrumento de coleta dos dados foi um questionário estruturado, com questões abertas e fechadas contendo questões relacionadas a caracterização dos profissionais; caracterização da prática do aconselhamento pré e pós testagem; In(adequação) da pratica de aconselhamento pelos profissionais de saúde; In(adequação) da conduta dos profissionais de saúde frente ao resultado positivo e negativo. Com relação às características da prática dos profissionais foram analisados o tempo atuando no serviço, se sua responsabilidade se restringia ao aconselhamento, à TR ou a ambos, sobre a última capacitação que receberam, e sobre características da atuação com: etapas do aconselhamento, duração e tipo (individua, coletivo ou ambos). Em relação às perguntas abertas. Buscou-se encontrar três características essenciais do aconselhamento na primeira pergunta: o apoio emocional, o apoio educativo e a avaliação de riscos, sempre com uma iniciativa de manter o diálogo e a troca de conhecimentos a fim de traçar um planejamento de saúde. A coleta dos dados ocorreu entre agosto e novembro de 2015. Os dados coletados foram digitados e analisados no Software Statistical Package for Social Sciences 16.0, e seus resultados apresentados em tabelas contendo o quantitativo absoluto e a frequência. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEA sob o CAAE 45771015.5.0000.5016. Resultados: Do total da amostra estabelecida em relação aos profissionais que trabalhavam com testagem rápida e aconselhamento da rede de saúde dos DISA Sul e Oeste, após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, 17 foram os profissionais que compuseram a mesma. Três das instituições não entraram no corte, pois um profissional do DISA Oeste se recusou a assinar o TCLE e duas instituições do DISA Sul recusaram-se a aceitar o termo de anuência da SEMSA e aprovação pelo CEP. A maior parte das instituições das redes de saúde dos DISAS Oeste e Sul que realizam a testagem rápida são as Unidades Básicas de Saúde (UBS)  64,7%, contudo no DISA Sul pode-se perceber um equilíbrio entre as instituições que realizam a testagem sendo 44,4% UBS e 44,4% Policlínicas. A primeira característica marcante da amostra no quesito profissão é que do total de entrevistados, 14 (82,3%) são enfermeiros. Os outros profissionais não-enfermeiros (100% do DISA Sul) são 02 Assistentes Sociais e 01 Psicólogo.  As características mais prevalentes quanto à prática são a de profissionais que trabalham entre 5 e 10 anos na área (47%) vindo em segundo lugar os que trabalham dentre 1 e 5 anos (29,4%), e realizam tanto o aconselhamento quanto a TR (41,1%). A maior parte dos profissionais realiza ambos (o que é ideal segundo o Ministério da Saúde), contudo 58,8% são responsáveis por apenas uma das atividades. Além disso, enquanto quase todos os profissionais do DISA Oeste realizam o atendimento abordando as duas atividades, a maioria no DISA Sul mostrou-se responsável apenas pelo Aconselhamento. É notado que boa parte dos profissionais, para desempenhar sua função, obtiveram capacitação dentre 1 e 5 anos atrás (64,7%). Além disso, a maioria afirma realizar ambas as etapas do aconselhamento (o pré-teste e o pós-teste) (88,2%). A prática do aconselhamento mais utilizada dentre os entrevistados foi a individual (76,5%). Apenas um profissional marcou a alternativa de apenas aconselhamento coletivo como o tipo realizado em sua unidade. Outros 17,7% utilizam ambos os tipos de aconselhamento. A duração do aconselhamento segundo 64,7% não é fixo, pois há variação de duração de acordo com cada atendimento, o restante dos profissionais (35,2%) identificou que o mesmo é realizado em 15 minutos. A característica em que mais respostas se encontraram inadequadas foi a de avaliação de risco, identificando-se uma dificuldade dos profissionais realizar um atendimento que envolva diálogo que mostre as possibilidades e mostre benefícios e caminhos para que o cliente tome as próprias decisões. Os resultados com relação à conduta frente ao resultado positivo revelam novamente maior adequação quando se trata de apoio educativo e encaminhamento (88,24%).  Trazendo um crescimento de cerca de 5%da adequação do apoio emocional da concepção de aconselhamento para a situação de comunicar um resultado positivo (52,94%). A atitude de dar autonomia ao usuário foi pouco adequada apresentando 35,29% de respostas que contemplassem, sendo apenas maior que a atitude de sensibilização sobre a responsabilidade social, sendo vista em apenas 1 profissional a preocupação em orientar quanto ao papel de cidadão e a preocupação com o outro. Os resultados referentes à conduta frente ao resultado negativo revelam que a característica que apresentou maior quantidade de respostas adequando-se 88,24%, foi a orientação quanto a hábitos de risco. Em relação às outras características, cerca de 47,06% dos profissionais se adequaram ao quesito de orientação quanto ao cliente não estar imune e apenas 2 (11,76%) atentaram-se à avaliação da janela imunológica em suas respostas. O contraste das características de apoio educativo e avaliação de riscos sugere que os profissionais tenham mais facilidade em dar informações durante o apoio educativo, do que dialogar sobre essas na avaliação de riscos. Conclusão: A realização de uma orientação adequada pelo profissional de saúde poderia diminuir a cadeia de transmissão, ao tornar o paciente um multiplicador do conhecimento obtido no aconselhamento, reduzindo novos casos de doenças. A grande presença da postura normativa, de difícil diálogo entre profissional e usuário trazem à tona alguns questionamentos. Estes profissionais entendem quando deixam de mostrar possibilidades e benefícios para estabelecer regras de comportamentos a seus clientes? Eles receberam capacitação para identificar estas atitudes no seu comportamento? Os mesmos têm com quem dialogar sobre a sua atuação para encontrar novos meios? É possível através de treinamentos e capacitações estabelecer estratégias que aumentem a adequação dos profissionais nos quesitos de apoio emocional e avaliação de riscos?

 


Palavras-chave


Competência Profissional; Aconselhamento; Testagem Sorológica